São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2001

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Organizações de pequenos agricultores e sem-terra articulam movimento contra OMC e por subsídios em Porto Alegre

MST articula "internacional camponesa"

RICARDO GRINBAUM
THOMAS TRAUMANN

ENVIADOS ESPECIAIS A PORTO ALEGRE

Líderes de movimentos sem-terra e de organizações de pequenos agricultores de cerca de 30 países articulam-se em Porto Alegre para colocar nas ruas um tipo de "internacional camponesa".
Todos os principais representantes de movimentos de agricultores que participam do Fórum Social Mundial estão hospedados no mesmo endereço, o Convento dos Capuchinhos. Ali, os cerca de 150 militantes se reúnem todas as noites para tratar do futuro do movimento. Entre eles, estão os sem-terra brasileiros, camponeses mexicanos e militantes indianos que representam 100 milhões de agricultores em seu país.
O primeiro projeto já está acertado: no dia 17 de abril, sem-terra e agricultores de vários países pretendem fechar estradas com tratores, parar navios nos portos e trens nas fronteiras com o objetivo de protestar contra a importação de alimentos.
Esse é um dos quatro pontos comuns da agenda política dos agricultores, que pertencem a uma organização internacional chamada "Via Campesina", que está presente em mais de cem países. O MST é o anfitrião da "internacional camponesa".
A Via Campesina é uma Organização Não-Governamental que reúne entidades como o MST e a Federação dos Camponeses Franceses, de José Bové, que em 1999 destruiu uma lanchonete do McDonald's no Sul da França para protestar contra a globalização.
A organização é contra a importação de alimentos e defende que toda a produção agrícola seja voltada para o mercado interno. Segundo seus líderes, a medida beneficiaria os pequenos agricultores e ajudaria a eliminar a fome nos países pobres.
Outro ponto da agenda comum é a defesa de subsídios agrícolas. Essa ajuda financeira deveria ser destinada, segundo os militantes, apenas para os agricultores que vendem seus produtos no próprio país e não para exportação.
Além disso, os líderes da Via Campesina defendem a realização de reforma agrária nos países do hemisfério Sul e o fim das atuais regras de comércio internacional, incluindo a OMC. Se depender da Via Campesina, os acordos comerciais serão feitos caso a caso, entre os dois países envolvidos nas negociações.
"Se houver sobra de um alimento num país haveria uma troca com outra nação, mas sem a tutela da OMC, que representa o interesse dos países ricos como os Estados Unidos", diz Stédille.

Protesto
Logo depois do protesto de anteontem em fazenda da multinacional Monsanto, o líder do MST, João Pedro Stédile, havia afirmado que continuaria com as ações contra lavouras de transgênicos.
Nos debates de biotecnologia, os alvos também foram as empresas multinacionais. O italiano Riccardo Petrella, da Universidade de Louvain, na Bélgica, arrancou dois minutos de aplausos de 400 pessoas, ao defender o fim das patentes das empresas de biotecnologia. "A privatização do conhecimento joga nas mãos de um grupo de empresas o destino de toda a humanidade. É inaceitável".
Marcel Mazoyer, do Instituto Nacional de agronomia da França, afirmou que "os benefícios das novas espécies (geneticamente modificadas) não pode ser feita com fim da propriedade do conhecimento dos agricultores a favor das multinacionais".
Ontem o MST distribuiu em supermercados das capitais panfletos com uma relação de 15 produtos que possuem transgênicos em sua composição mas não informam isto na embalagem, o que é proibido pela lei brasileira. A relação repete duas análises de laboratório feitas em junho e setembro pelas ONGs Greenpeace e Idec (Instituto Brasileiro de defesa do Consumidor.



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