São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

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NA MIRA

Calixto fez transferências que totalizaram US$ 582 mil do Banestado de Nova York

Senador usou doleiro para movimentar contas, diz PF

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA

O senador Mário Calixto Filho (PMDB-RO), 57, que assumiu a vaga após a escolha de Amir Lando (PMDB-RO) para o Ministério da Previdência Social, usou a empresa "off-shore" de um doleiro de Manaus (AM) para movimentar US$ 582 mil em Nova York (EUA), segundo as investigações da Polícia Federal.
A transação entre o Banestado e dois bancos americanos foi operada pela BCF International, com sede na Cidade do Panamá, de acordo com laudo da polícia incorporado à CPI do Banestado.
A PF apreendeu em Nova York, em 2001, o cartão de abertura da conta da BCF e descobriu suas ligações com o Brasil: o diretor-presidente da empresa é Gilberto Messod Benzecry, o principal doleiro do Amazonas. O diretor-vice-presidente é Carlos Alberto Cortez, um dos donos da Cortez Câmbio e Turismo, de Manaus.
A "off-shore" gerenciada pelos doleiros movimentou US$ 663,8 milhões entre 1996 e 1997 na agência nova-iorquina do Banestado (Banco do Estado do Paraná, liqüidado em 2000). Trata-se da maior movimentação de uma única "off-shore" na agência do Banestado nos EUA.
Segundo a PF, o dinheiro foi enviado do Brasil a Nova York por milhares de remessas via contas CC5 (para residentes fora do Brasil) em nome de "laranjas".
Essas remessas eram registradas no Banco Central em nome dos "laranjas" ou das empresas "off-shore", e não dos reais donos do dinheiro. Conforme a investigação da polícia, o dinheiro operado pela BCF e outras duas dúzias de "off-shores" pertencia a centenas de empresas e pessoas brasileiras. Uma delas é Calixto Filho, segundo os registros bancários apreendidos pela PF.
Depois de transitar na conta da BCF, o dinheiro ia parar nas contas dos beneficiários finais, em paraísos fiscais ou em bancos dos Estados Unidos.
O dinheiro atribuído a Calixto Filho saiu, em cinco remessas, da conta da BCF para duas contas nos bancos Real de Miami e Citicorp Savings.
De acordo com a base de dados à qual a Folha teve acesso, houve cinco movimentações: US$ 300 mil em 21 de setembro de 96, US$ 120 mil em 29 de janeiro de 97, US$ 25 mil em 4 de dezembro de 97, US$ 87 mil em 17 de dezembro de 97 e US$ 50 mil em 20 de novembro de 97.
No registro dessas operações, num campo identificado como "beneficiário final", o banco anotou o nome de "Mário Calixto Filho". Ao lado dele foram anotados dois números e a sigla "AC", ou "account" (conta, em inglês).
Em 98, portanto, de um a dois anos depois de feitas as remessas, durante a campanha ao Senado, Calixto Filho declarou ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Porto Velho (RO) um patrimônio total de R$ 435 mil.
As investigações da PF sobre o Banestado mostram que os diversos doleiros que operaram em Nova York representavam regiões do Brasil. Benzecry era o operador da região Norte.
A ordem para transmissão do dinheiro da BCF para outros bancos era dada no Brasil, por meio de um programa de computador, o "FTCNY", desenvolvido pelo Banestado e instalado na própria casa de câmbio, em Manaus.


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