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NA MIRA
Calixto fez transferências que totalizaram US$ 582 mil do Banestado de Nova York
Senador usou doleiro para movimentar contas, diz PF
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA
O senador Mário Calixto Filho
(PMDB-RO), 57, que assumiu a
vaga após a escolha de Amir Lando (PMDB-RO) para o Ministério
da Previdência Social, usou a empresa "off-shore" de um doleiro
de Manaus (AM) para movimentar US$ 582 mil em Nova York
(EUA), segundo as investigações
da Polícia Federal.
A transação entre o Banestado e
dois bancos americanos foi operada pela BCF International, com
sede na Cidade do Panamá, de
acordo com laudo da polícia incorporado à CPI do Banestado.
A PF apreendeu em Nova York,
em 2001, o cartão de abertura da
conta da BCF e descobriu suas ligações com o Brasil: o diretor-presidente da empresa é Gilberto
Messod Benzecry, o principal doleiro do Amazonas. O diretor-vice-presidente é Carlos Alberto
Cortez, um dos donos da Cortez
Câmbio e Turismo, de Manaus.
A "off-shore" gerenciada pelos
doleiros movimentou US$ 663,8
milhões entre 1996 e 1997 na agência nova-iorquina do Banestado
(Banco do Estado do Paraná, liqüidado em 2000). Trata-se da
maior movimentação de uma
única "off-shore" na agência do
Banestado nos EUA.
Segundo a PF, o dinheiro foi enviado do Brasil a Nova York por
milhares de remessas via contas
CC5 (para residentes fora do Brasil) em nome de "laranjas".
Essas remessas eram registradas
no Banco Central em nome dos
"laranjas" ou das empresas "off-shore", e não dos reais donos do
dinheiro. Conforme a investigação da polícia, o dinheiro operado
pela BCF e outras duas dúzias de
"off-shores" pertencia a centenas
de empresas e pessoas brasileiras.
Uma delas é Calixto Filho, segundo os registros bancários apreendidos pela PF.
Depois de transitar na conta da
BCF, o dinheiro ia parar nas contas dos beneficiários finais, em paraísos fiscais ou em bancos dos
Estados Unidos.
O dinheiro atribuído a Calixto
Filho saiu, em cinco remessas, da
conta da BCF para duas contas
nos bancos Real de Miami e Citicorp Savings.
De acordo com a base de dados
à qual a Folha teve acesso, houve
cinco movimentações: US$ 300
mil em 21 de setembro de 96, US$
120 mil em 29 de janeiro de 97,
US$ 25 mil em 4 de dezembro de
97, US$ 87 mil em 17 de dezembro
de 97 e US$ 50 mil em 20 de novembro de 97.
No registro dessas operações,
num campo identificado como
"beneficiário final", o banco anotou o nome de "Mário Calixto Filho". Ao lado dele foram anotados
dois números e a sigla "AC", ou
"account" (conta, em inglês).
Em 98, portanto, de um a dois
anos depois de feitas as remessas,
durante a campanha ao Senado,
Calixto Filho declarou ao TRE
(Tribunal Regional Eleitoral) de
Porto Velho (RO) um patrimônio
total de R$ 435 mil.
As investigações da PF sobre o
Banestado mostram que os diversos doleiros que operaram em
Nova York representavam regiões do Brasil. Benzecry era o
operador da região Norte.
A ordem para transmissão do
dinheiro da BCF para outros bancos era dada no Brasil, por meio
de um programa de computador,
o "FTCNY", desenvolvido pelo
Banestado e instalado na própria
casa de câmbio, em Manaus.
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