São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

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DAVOS/PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL

Presidente também foi aplaudido durante discurso contra a pobreza no Fórum Social

Vaiado, Lula diz que "filhos rebeldes" voltarão para o PT

ANA FLOR
RAFAEL CARIELLO
ENVIADOS ESPECIAIS A PORTO ALEGRE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem em Porto Alegre, sob vaias dos que consideram seu governo conservador e lento na realização de mudanças sociais, um discurso improvisado e em vários momentos inflamado, que tentou ser afinado com a platéia do Fórum Social Mundial.
Defendeu sua política externa, de aliança com os países pobres, atacou a interferência dos EUA na Venezuela, criticou a elite brasileira e defendeu o presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Cerca de 12 mil pessoas compareceram ao estádio do Gigantinho para assistirem à participação do presidente no lançamento da campanha "Chamada Global para Ação contra a Pobreza".
Um grupo minoritário da platéia, mas barulhento, vaiou e criticou o presidente durante os 35 minutos de seu discurso.
Composto por integrantes do PSOL, alguns petistas e grupos radicais de esquerda, chamaram o presidente de "pelego", "traidor", "demagogo" e "vendido".
A maioria dos presentes ao evento, no entanto, apoiou e aplaudiu o presidente. Lula foi "blindado" de críticas maiores durante o discurso.
Cerca de metade dos presentes no estádio pertenciam ao PT, à CUT ou a partidos e organizações aliados do governo. Chegaram cedo -antes do público "comum"- e ocuparam a maior parte do estádio, formando uma "claque" favorável ao petista e estendendo faixas como as do PC do B e da UJS (União da Juventude Socialista). Ambas diziam: "Com Lula, para mudar o Brasil".
As camisas confeccionadas pelo PT que diziam "100% Lula", usadas na passeata de abertura do Fórum, também foram distribuídas, e eram usadas por pessoas comuns e pelos militantes dos grupos de apoio ao presidente.
Na entrada do estádio, todas as pessoas eram revistadas. Era proibido entrar com garrafas de água ou com frutas. "Podem jogar no Lula", explicava uma integrante da equipe de apoio do Fórum. Só era permitida a entrada de quem estivesse com algum tipo de credencial do encontro.
Por isso, cerca de 2.000 manifestantes do PSOL -o partido criado pelos ex-petistas radicais Luciana Genro (RS), Heloísa Helena (AL) e Babá (PA)- e do PSTU não puderam entrar no estádio e protestaram do lado de fora até o fim do evento de ontem.
Antes do início dos discursos, havia apenas faixas de apoio a Lula espalhadas pelas arquibancadas. Uma delas trazia, ao lado da estrela do PT, a frase: "Por um mundo sem fome". Mais tarde, foi possível ver faixas dizendo "Com Lula e Bush um outro mundo é impossível" ou "Fora Palocci", em um ataque à política econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Uma orquestra da Petrobras animava o público e, por três momentos, inclusive na chegada do presidente, tocou o jingle de campanha "Olê Olá, Lula, Lula-lá". As execuções eram seguidas de aplausos e de vaias na platéia dividida do ginásio.

Filhos do PT
O discurso inflamado do presidente no ginásio Gigantinho não poupou os manifestantes contrários. Lula respondeu as vaias, afirmando que aquele "ruído" saía da "boca dos que não têm paciência para ouvir a verdade".
"Os de fora não se assustem. Porque esses que não querem ouvir são filhos do PT que se rebelaram. É próprio da juventude, um dia eles amadurecerão e à casa retornarão. E nós estaremos de braços abertos para recebê-los" , disse o presidente.
Lula ironizou as vaias, dizendo que tinha os ouvidos "calejados" pela participação no movimento sindical. "Este barulho que vocês estão estão ouvindo agora eu ouço desde 1975, o meus ouvidos já estão calejados e preparados. Eu de vez em quando vejo isso como uma harmonia gostosa, como parte da democracia", disse.


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