São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

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DAVOS/PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL

Etiqueta do fórum, em cidade-resort de esqui, não admite vestimenta completa de executivo

Davos proíbe gravata e adota "bandejão chic"

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

À entrada do Centro de Congresso, a sede dos encontros anuais do Fórum Econômico Mundial, um cartaz avisava: "Proibida a gravata". Como se fosse pouco, Martin Wolf, chefe dos comentaristas econômicos do jornal britânico "Financial Times", foi logo dizendo, ao abrir a sessão sobre a economia global que habitualmente inaugura informalmente o encontro: "Quem estiver de gravata levará um tiro".
Inútil: até à mesa, dois dos debatedores (Jacob Frenkel e Stephen Roach, ambos de instituições financeiras norte-americanas) levavam gravata. Na platéia, até que as gravatas eram poucas, mas paletó ou blaser não faltavam.
A proibição, inaugurada timidamente no ano passado e mais resolutamente agora, não quer dizer que o fórum de Davos tenha adotado uma etiqueta mais próxima à de Porto Alegre. Quer dizer que é um contra-senso em um "resort" de esqui, como Davos, alguém andar vestido de executivo dos pés à cabeça. Pelo menos no pescoço, a nova etiqueta é liberal.
Para aumentar o toque, digamos, "porto-alegrense", o almoço inaugural foi à americana. Ou seja, todo mundo de pé, prato na mão, fila diante de onde se servia a comida, em vez das mesas habituais nos anos anteriores.
Qualquer semelhança pára aí: o "bandejão" servia, por exemplo, camarão enrolado em bacon ou postas de peixe à moda húngara, mais vinho e cerveja à vontade.
Da mesma forma, o formato 2005 previa o que se chamou de "town hall meeting", inspirado no modelo norte-americano de discussões na prefeitura de cidades pequenas (o "town hall").
O modesto título não escondia o fato de que em vez dos "joões", como Garrincha chamava seus anônimos marcadores, o encontro reunia, por exemplo, Yoriko Kawaguchi, conselheira especial do primeiro-ministro do Japão, e David Shedlarz, vice-presidente-executivo da portentosa indústria farmacêutica Pfizer.
A palavra-chave de Davos, sempre, é "networking", jargão para "fazer contatos". Claro: a maioria são executivos de grandes empresas (120 das 500 companhias da célebre lista da revista "Fortune" estão neste ano em Davos).
Mas a palavra mais ouvida foi "China". Óbvio: David Abney, presidente da UPS, o maior distribuidor de pacotes e documentos do mundo, presente em 200 países, conta que uma pesquisa da empresa com 1.500 executivos europeus mostrou que assombrosos 90% responderam "China" quando perguntados sobre com qual país gostariam de fazer negócio.
Mas nem tudo é "business". Neste ano, o encontro importou Swami Sukhabodhananda, líder espiritual indiano para falar sobre meditação. É autor, entre outros livros, de "Oh, Mente, Relaxe Por Favor". (CLÓVIS ROSSI)


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