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DAVOS/PORTO ALEGRE - DEBATE GLOBAL
Etiqueta do fórum, em cidade-resort de esqui, não admite vestimenta completa de executivo
Davos proíbe gravata e adota "bandejão chic"
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
À entrada do Centro de Congresso, a sede dos encontros
anuais do Fórum Econômico
Mundial, um cartaz avisava:
"Proibida a gravata". Como se
fosse pouco, Martin Wolf, chefe
dos comentaristas econômicos do
jornal britânico "Financial Times", foi logo dizendo, ao abrir a
sessão sobre a economia global
que habitualmente inaugura informalmente o encontro: "Quem
estiver de gravata levará um tiro".
Inútil: até à mesa, dois dos debatedores (Jacob Frenkel e Stephen
Roach, ambos de instituições financeiras norte-americanas) levavam gravata. Na platéia, até que
as gravatas eram poucas, mas paletó ou blaser não faltavam.
A proibição, inaugurada timidamente no ano passado e mais
resolutamente agora, não quer dizer que o fórum de Davos tenha
adotado uma etiqueta mais próxima à de Porto Alegre. Quer dizer
que é um contra-senso em um
"resort" de esqui, como Davos, alguém andar vestido de executivo
dos pés à cabeça. Pelo menos no
pescoço, a nova etiqueta é liberal.
Para aumentar o toque, digamos, "porto-alegrense", o almoço
inaugural foi à americana. Ou seja, todo mundo de pé, prato na
mão, fila diante de onde se servia
a comida, em vez das mesas habituais nos anos anteriores.
Qualquer semelhança pára aí: o
"bandejão" servia, por exemplo,
camarão enrolado em bacon ou
postas de peixe à moda húngara,
mais vinho e cerveja à vontade.
Da mesma forma, o formato
2005 previa o que se chamou de
"town hall meeting", inspirado no
modelo norte-americano de discussões na prefeitura de cidades
pequenas (o "town hall").
O modesto título não escondia o
fato de que em vez dos "joões",
como Garrincha chamava seus
anônimos marcadores, o encontro reunia, por exemplo, Yoriko
Kawaguchi, conselheira especial
do primeiro-ministro do Japão, e
David Shedlarz, vice-presidente-executivo da portentosa indústria
farmacêutica Pfizer.
A palavra-chave de Davos, sempre, é "networking", jargão para
"fazer contatos". Claro: a maioria
são executivos de grandes empresas (120 das 500 companhias da
célebre lista da revista "Fortune"
estão neste ano em Davos).
Mas a palavra mais ouvida foi
"China". Óbvio: David Abney,
presidente da UPS, o maior distribuidor de pacotes e documentos
do mundo, presente em 200 países, conta que uma pesquisa da
empresa com 1.500 executivos europeus mostrou que assombrosos
90% responderam "China" quando perguntados sobre com qual
país gostariam de fazer negócio.
Mas nem tudo é "business".
Neste ano, o encontro importou
Swami Sukhabodhananda, líder
espiritual indiano para falar sobre
meditação. É autor, entre outros
livros, de "Oh, Mente, Relaxe Por
Favor".
(CLÓVIS ROSSI)
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