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Ministério Público apura desvio em Alagoas
Em depoimento a promotores, quatro ex-deputados acusam Mesa Diretora da Assembléia de desviar até R$ 5 milhões mensais
Presidente da Casa, Celso Luiz Brandão (PMN) afirma que ex-parlamentares fizeram as acusações para atacar o grupo político dele
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ
O Ministério Público de Alagoas investiga há sete meses
um suposto esquema de desvio
de dinheiro público na Assembléia Legislativa do Estado. Os
promotores do Grupo de Combate às Organizações Criminosas querem saber como o Legislativo gastou os repasses mensais feitos pelo Poder Executivo nos últimos seis anos.
Em 2006, o total repassado
foi de R$ 98 milhões, o equivalente bruto a R$ 8,167 milhões
mensais. Para 2007, o Orçamento é de aproximadamente
R$ 104 milhões (R$ 8,6 milhões
mensais). O procurador-geral
de Justiça, Coaracy Fonseca,
disse que não há transparência
nem informação sobre como a
Assembléia usa esse dinheiro.
Na semana retrasada, quatro
ex-deputados estaduais, em depoimento à Promotoria, acusaram os parlamentares da atual
Mesa Diretora de desviarem
até R$ 5 milhões mensais.
Segundo o ex-deputado
Francisco Pimentel (PMDB),
um grupo de ex-parlamentares
começou a ouvir comentários
informais sobre os desvios e resolveu levar o assunto ao Ministério Público. No depoimento, os ex-deputados fizeram a
ressalva de que não têm provas
materiais das acusações.
"Do duodécimo repassado à
Assembléia Legislativa, R$ 5
milhões são desviados pela Mesa Diretora, provavelmente por
um rateio, como é público e notório, sem comprovação de despesas", disse ao Ministério Público o ex-deputado Antonio
Mendonça Neto (PDT).
"Apresentei uma notícia-crime ao Ministério Público. Posso ser responsabilizado se não
for verdadeira. Queremos que
os procuradores investiguem."
O presidente da Assembléia,
Celso Luiz Brandão (PMN),
disse que os ex-deputados fizeram as acusações para atacar o
grupo político dele às vésperas
da eleição para a Mesa Diretora, na próxima quinta-feira. As
acusações ocorrem no mês em
que o Estado enfrentou greve
geral do funcionalismo após o
governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) suspender reajustes salariais já concedidos.
"Os ex-deputados estão nisso
por uma questão política. Estamos numa disputa pela Mesa, e
eles estão usando isso contra a
gente. Passada a eleição, ninguém fala mais nisso", disse.
A Assembléia tem 27 deputados. Questionado sobre quanto
custa a folha de pagamento e o
custeio da Casa, Brandão disse
que assuntos financeiros eram
com o primeiro-secretário, o
deputado Arthur Lira (PMN).
"Temos uma hierarquia: o presidente cuida da parte política,
e o primeiro-secretário, da parte administrativa-financeira."
Já Lira disse que o custeio da
Assembléia está entre R$ 300
mil e R$ 400 mil por mês, mas
disse que não tinha à disposição o valor da folha. "Se quiser
saber, consulte o Siafem [sistema de acompanhamento de
gastos dos Estados, com acesso
restrito]", disse à reportagem.
O Legislativo de Alagoas não
tem telefones, página na internet ou canal de TV. Funciona
em um prédio antigo no centro
de Maceió. No estacionamento
reservado aos deputados, havia
na última quinta oito camionetes importadas, que contrastavam com resto do ambiente.
Segundo o deputado Brandão, os telefones foram cortados há quatro anos por conta de
uma discussão de débito com a
operadora. "Quem quiser que
instale um aparelho e pague a
conta com a verba de gabinete."
A partir deste mês, os deputados terão R$ 45 mil para gastos do gabinete. Na próxima segunda-feira, os deputados tentarão derrubar cinco vetos feitos pelo governador Teotonio
Vilela Filho (PSDB), adversário
político de Brandão, a projetos
e emendas ao Orçamento.
Entre eles, estão o projeto
que eleva o salário dos deputados de R$ 6.000 para R$ 9.635 e
o que passa de R$ 17 mil para
R$ 50,8 mil a verba para contratação de assessores.
Cada deputado custará R$
105,4 mil por mês. No entanto,
o pagamento dos deputados
não está garantido. Até anteontem, o Executivo não havia repassado o dinheiro do Legislativo, o que deveria ter acontecido no dia 20. O Legislativo entrou com mandado de segurança para bloquear os R$ 8,6 milhões da conta do Estado.
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