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Forças Armadas alugam suas áreas para aumentar receita
Renda com concessão de terrenos para empresas privadas atingirá R$ 28 mi em 2008
Arrecadação com aluguel de terrenos é insuficiente para compra de equipamentos, mas ajuda na conservação e limpeza de instalações
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com orçamento apertado e
na iminência de sofrer novos
cortes, as Forças Armadas estão recorrendo às placas de
"aluga-se" em quartéis, terrenos urbanos e campos de treinamento rural para tentar reforçar o caixa.
A renda com concessão de
terrenos para empresas privadas colocarem outdoors, montarem pequenos negócios ou
até criarem gado atingirá
R$ 28,4 milhões em 2008, segundo previsão do Orçamento
da União. Não chega a fazer
grande diferença na hora de
comprar caças e submarinos,
mas ajuda na conservação e
limpeza de instalações.
Só o Exército registrou aumento de 46,3% nas receitas
com aluguel e arrendamento de
terrenos nos últimos dois anos.
Terá R$ 12,2 milhões em 2008
e se aproxima da Aeronáutica,
que, em razão de uma pequena
queda esperada para este ano,
deverá arrecadar R$ 13,22 milhões. A Marinha vem em último lugar, com R$ 2,96 milhões.
Principal braço das Forças
Armadas em pessoal e orçamento, o Exército tem cerca de
800 terrenos que pode explorar. Num exemplo recente, publicou um edital em 11 de janeiro anunciando a abertura de licitação para arrendamento de
uma área de 162 metros quadrados do 18º Batalhão Logístico, em Campo Grande (MS),
onde trabalham 450 militares.
Trata-se na verdade da renovação de um contrato para instalação de seis outdoors na parte do terreno que fica ao lado da
avenida Duque de Caxias, próximo ao centro da cidade.
O preço mínimo pedido pelo
Exército é R$ 580 por mês, o
que ajuda na manutenção do
quartel, diz o comandante, tenente-coronel Elivaldo Rossi.
"Para nós esse valor é muito
importante na manutenção dos
cinco prédios que compõem o
batalhão, que são da década de
1920", afirma Rossi.
Receita
Além de coberto pela Lei de
Licitações, o aluguel de áreas
pelo Exército é autorizado por
uma portaria de outubro de
2005. Do dinheiro arrecadado,
70% ficam na unidade de origem e o restante vai para o Fundo do Exército, que financia
despesas gerais da corporação.
Em geral, a receita obtida
com o setor privado ajuda em
pequenos reparos e limpeza,
mas nem de longe alivia na carência de equipamentos, principal preocupação hoje nos
quartéis. Embora tenha crescido, a arrecadação do Exército
com aluguéis ainda é uma migalha num orçamento de
R$ 18 bilhões previsto para
2008 -que sofrerá contingenciamento e é extremamente
comprometido pelo pagamento de pensões e aposentadorias.
Em Olinda (PE), o 7º Grupo
de Artilharia de Campanha aluga uma área para quatro outdoors, às margens da movimentada rodovia estadual
PE-15. "O dinheiro vai para a
manutenção do prédio, mas
não dá para compra de material", diz o comandante da unidade, coronel Carlos Machado,
que prefere não dizer o valor
arrecadado mensalmente.
Na região Sul, as concessões
são mais numerosas nas áreas
rurais. Campos de tiro e treinamento em locais como Cruz Alta (RS), no meio do pampa gaúcho, são arrendados para a pecuária e agricultura.
Em nota enviada à Folha, o
Centro de Comunicação Social
do Exército não informou
quantas áreas no país são alugadas para a iniciativa privada.
O documento afirmou que a
decisão de alugar uma área é de
cada comandante, "amparada
nas leis, regulamentos e normas que tratam da exploração
econômica de bens e havendo
interesse por parte de empresas especializadas".
Mas há algumas regras gerais. É proibida a publicidade
que "atente contra o pudor, o
moral, os bons costumes e a ordem pública, além de propaganda política e de drogas lícitas (bebidas e fumo)".
As assessorias da Aeronáutica e da Marinha foram procuradas pela Folha a respeito do
arrendamento de suas áreas,
mas não deram resposta.
Carências
No último ano, as carências
das Forças Armadas ficaram
mais evidentes, especialmente
na comparação com a escalada
militar na Venezuela de Hugo
Chávez. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a prometer aumento expressivo nos
recursos para investimentos.
Subiriam de R$ 6,9 bilhões para
R$ 9,1 bilhões, o suficiente para
reequipar em parte os quartéis.
Mas o fim da CPMF mudou
os planos. A tesourada nos investimentos da Defesa, para
ajudar a compensar um déficit
previsto de R$ 20 bilhões sem o
imposto, deve ser grande. Certamente será um estímulo para
comandantes se virarem atrás
de um dinheiro extra.
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