|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vannuchi diz que críticos querem volta do DOI-Codi
Ministro vê "surto conservador" e rebate ataques ao plano de direitos humanos
Falando no Fórum Social Mundial, ele reconheceu erros no documento, como o trecho que cita o aborto e enfureceu setores da igreja
ANA FLOR
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE
O ministro Paulo Vannuchi
(Direitos Humanos) rebateu
duramente ontem os ataques
ao texto da terceira edição do
Programa Nacional de Direitos
Humanos (PNDH), lançado no
final do ano passado. O ministro disse que houve um "surto
de ataque conservador" e afirmou que há quem deseje a volta
do DOI-Codi (órgão repressor
brasileiro no regime militar).
Lançado em dezembro como
um decreto assinado pelo presidente Lula, o texto do PNDH
foi atacado dentro e fora do governo. Vannuchi participou ontem de uma mesa de debates
sobre combate ao trabalho escravo no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
"Em um dos ataques, um jurista, em artigo na Folha, chega
a dizer [sobre o PNDH], fazendo piada com a história de um
livro, "queime o livro de poesia
e, se o autor insistir, queime o
autor". Ou seja, eu não tinha lido nos últimos anos uma confissão tão clara de que, se for
preciso construir o DOI-Codi
de novo, vamos construir o
DOI-Codi de novo", disse Vannuchi, em Porto Alegre.
O ministro se referia a um artigo publicado em 22 de janeiro
na Folha pelo jurista Ives Gandra Martins. No texto, Ives
Gandra ainda menciona que
não há "necessidade de adotar
a segunda parte do conselho",
isto é, queimar-se o autor.
Falando a uma plateia de 50
pessoas e bastante aplaudido,
Vannuchi reconheceu erros no
texto. Citou a parte em que defende a descriminalização do
aborto -que recebeu críticas
da igreja. "Temos humildade
para reconhecer erros. A maneira como o aborto está colocado deve ser reformulada,
porque corresponde a um ponto de vista que é bandeira do
movimento feminista."
O ministro afirmou que sobreviveu a um "momento com
características de linchamento", ao se referir aos dias subsequentes ao lançamento do programa. Ele afirmou que o momento abriu muitas chances de
debate sobre as divergências.
"Nós não vamos reagir com o
mesmo espírito de ataque. Para
quem me chamou de revanchista, [não vou] procurar uma
palavra equivalente porque,
em direitos humanos, o instrumento é o diálogo", afirmou.
Sobre as críticas dos setores
do agronegócio, o ministro
afirmou que há vinculações políticas na entidade representativa dos produtores rurais, a
CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária). "A atual
presidente [Kátia Abreu] é
uma senadora do DEM. Quando a CUT tem vínculos com o
PT é tratada sistematicamente
como aparelho partidário, a
CNA não é tratada assim por
ninguém", disse.
Texto Anterior: Toda Mídia - Nelson de Sá: Erguendo tijolos Próximo Texto: Candidata verde: Marina é aplaudida de pé ao ser anunciada em fórum Índice
|