São Paulo, quinta, 28 de janeiro de 1999

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JANIO DE FREITAS
Pergunta e resposta

Uma pergunta ainda não formulada parece chegar ao momento em que os fatos a tornam, mais do que ingênua, necessária. As preliminares que podem justificá-la são simples.
O ministro da Fazenda e o novo presidente do Banco Central sustentam que os juros altos vão evitar que os preços subam, assim impedindo a volta da inflação. Nesse capítulo, portanto, o que há a fazer é conservar os juros na altitude a que o governo já os elevou, no começo do mês.
O dólar, apregoam Pedro Malan e Francisco Lopes, acabará fixando-se em torno de R$ 1,60. O que cabe ao governo é intervir no mercado de moedas quando a cotação se mostre muito além daquele valor.
A fuga de capitais mereceu três conceituações em três semanas. Em sua primeira aceleração, teria havido a fuga dos capitais especulativos, não havendo mais o que sair porque a reserva restante de dólares era formada por investimentos concretos. Em seguida, não se justificariam preocupações porque, tão logo consolidada a cotação do dólar, as saídas cessariam. Por fim, já cessaram, as reservas "são de US$ 36 bilhões e vão ficar assim", ao que Francisco Lopes assegurou no Senado.
O governo apenas espera, então, considerando tomadas as providências suficientes para debelar a crise e suas ameaças.
Os preços, porém, estão subindo, havendo ou não influência do valor do dólar no produto.
O governo está fazendo intervenções no mercado de câmbio sem o resultado previsto: o dólar está despertando mais alto a cada manhã e com maior ímpeto. O governo não informa quanto já aplicou nas intervenções de efeitos tão poucos e efêmeros, mas, por certo, nisso já invadiu a casa de bilhão. Com enorme perda: para baixar o dólar do mercado, precisa vender os seus (que não são do governo, são nossos, do país) por preço muito abaixo. E essa diferença é prejuízo puro.
Sem considerar as saídas de ontem, cujo montante final não seria conhecido em tempo desta coluna, a eloquência dos três dias anteriores diz o bastante sobre a continuada redução das reservas brasileiras em dólares: em sexta, segunda e terça-feira, US$ 1,2 bilhão. Enquanto o presidente do BC dizia aos senadores que a fuga já cessara, estava saindo mais de meio bilhão. Mesmo que as reservas, em sua chegada ao Senado, estivessem nos otimistas US$ 36 bilhões declarados, a convicção de que iam ficar assim já havia fugido da realidade.
Diante dessa contradição entre o esperado e o constatado, o governo está repetindo o mesmo erro que conduziu à crise. Mesmo que as respostas da vida econômico-financeira contrariem suas pretensas certezas, o governo fica inerte, apoiando-se em uma fé irracional no seu modesto receituário. Tal como fez até que a brutalidade da crise o desmentiu.
O governo vai repetir o erro, vai continuar esbanjando em intervenções inúteis, vai continuar imaginando que as fugas já cessaram e aguardar, aguardar, com o risco de um segundo e pior terremoto? Essa é a pergunta mencionada lá no começo. E a resposta é sim. Pelo que se vê e pressente, o governo continuará arrogantemente plantado em suas previsões frágeis.
Mas a hora de ouvir pessoas que deveriam ser ouvidas é esta mesma. Por exemplo, João Sayad, Luiz Paulo Rosenberg, Paulo Nogueira Batista Filho, Ibrahim Eris e outros que demonstraram, nos últimos quatro anos, muito mais sensatez e percepção do que os sustentadores de uma ficção já esvaziada.
²
Desvalorização
Diretora da Companhia Siderúrgica Nacional aqui citada em segunda mão, a partir de um discurso na Câmara, Maria Silvia Bastos Marques nega que tenha comprado, para a empresa, títulos com correção cambial 48 horas antes da desvalorização do real:
"Desde o ano passado, nosso caixa é quase todo em títulos, não sendo novidade alguma compra nossa. Mas, no caso, não houve compra alguma no dia 18, nem o dia 18 foi antevéspera da desvalorização", como disse o deputado Fernando Ferro.
A informação do deputado está devidamente desvalorizada.



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