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JANIO DE FREITAS
Pergunta e resposta
Uma pergunta ainda não formulada parece chegar ao momento em que os fatos a tornam, mais do que ingênua, necessária. As preliminares que
podem justificá-la são simples.
O ministro da Fazenda e o
novo presidente do Banco Central sustentam que os juros altos vão evitar que os preços subam, assim impedindo a volta
da inflação. Nesse capítulo,
portanto, o que há a fazer é
conservar os juros na altitude a
que o governo já os elevou, no
começo do mês.
O dólar, apregoam Pedro Malan e Francisco Lopes, acabará
fixando-se em torno de R$ 1,60.
O que cabe ao governo é intervir no mercado de moedas
quando a cotação se mostre
muito além daquele valor.
A fuga de capitais mereceu
três conceituações em três semanas. Em sua primeira aceleração, teria havido a fuga dos
capitais especulativos, não havendo mais o que sair porque a
reserva restante de dólares era
formada por investimentos
concretos. Em seguida, não se
justificariam preocupações
porque, tão logo consolidada a
cotação do dólar, as saídas cessariam. Por fim, já cessaram,
as reservas "são de US$ 36 bilhões e vão ficar assim", ao que
Francisco Lopes assegurou no
Senado.
O governo apenas espera, então, considerando tomadas as
providências suficientes para
debelar a crise e suas ameaças.
Os preços, porém, estão subindo, havendo ou não influência do valor do dólar no
produto.
O governo está fazendo intervenções no mercado de câmbio
sem o resultado previsto: o dólar está despertando mais alto
a cada manhã e com maior ímpeto. O governo não informa
quanto já aplicou nas intervenções de efeitos tão poucos e efêmeros, mas, por certo, nisso já
invadiu a casa de bilhão. Com
enorme perda: para baixar o
dólar do mercado, precisa vender os seus (que não são do governo, são nossos, do país) por
preço muito abaixo. E essa diferença é prejuízo puro.
Sem considerar as saídas de
ontem, cujo montante final
não seria conhecido em tempo
desta coluna, a eloquência dos
três dias anteriores diz o bastante sobre a continuada redução das reservas brasileiras em
dólares: em sexta, segunda e
terça-feira, US$ 1,2 bilhão. Enquanto o presidente do BC dizia aos senadores que a fuga já
cessara, estava saindo mais de
meio bilhão. Mesmo que as reservas, em sua chegada ao Senado, estivessem nos otimistas
US$ 36 bilhões declarados, a
convicção de que iam ficar assim já havia fugido da realidade.
Diante dessa contradição entre o esperado e o constatado, o
governo está repetindo o mesmo erro que conduziu à crise.
Mesmo que as respostas da vida econômico-financeira contrariem suas pretensas certezas, o governo fica inerte,
apoiando-se em uma fé irracional no seu modesto receituário.
Tal como fez até que a brutalidade da crise o desmentiu.
O governo vai repetir o erro,
vai continuar esbanjando em
intervenções inúteis, vai continuar imaginando que as fugas
já cessaram e aguardar, aguardar, com o risco de um segundo
e pior terremoto? Essa é a pergunta mencionada lá no começo. E a resposta é sim. Pelo que
se vê e pressente, o governo
continuará arrogantemente
plantado em suas previsões frágeis.
Mas a hora de ouvir pessoas
que deveriam ser ouvidas é esta
mesma. Por exemplo, João Sayad, Luiz Paulo Rosenberg,
Paulo Nogueira Batista Filho,
Ibrahim Eris e outros que demonstraram, nos últimos quatro anos, muito mais sensatez e
percepção do que os sustentadores de uma ficção já esvaziada.
²
Desvalorização
Diretora da Companhia Siderúrgica Nacional aqui citada
em segunda mão, a partir de
um discurso na Câmara, Maria
Silvia Bastos Marques nega
que tenha comprado, para a
empresa, títulos com correção
cambial 48 horas antes da desvalorização do real:
"Desde o ano passado, nosso
caixa é quase todo em títulos,
não sendo novidade alguma
compra nossa. Mas, no caso,
não houve compra alguma no
dia 18, nem o dia 18 foi antevéspera da desvalorização", como
disse o deputado Fernando
Ferro.
A informação do deputado
está devidamente desvalorizada.
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