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CONGRESSO
Senado não chega a consenso sobre propostas discutidas desde 95 e adia decisão para a próxima legislatura
Sem acordo, reforma política é arquivada
FLÁVIA DE LEON
da Sucursal de Brasília
A reforma política foi enviada ao
arquivo do Senado ontem, depois
que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) optou por uma manobra arriscada: em vez de votar os
11 projetos da reforma, dando início à tramitação normal e evitando
seu arquivamento, a comissão preferiu fechar acordo para que as
propostas sejam restituídas no início de fevereiro, quando começa a
próxima legislatura.
A CCJ não conseguiu um consenso para aprovar as propostas de
mudanças, entre elas as cláusulas
de desempenho eleitoral, que dificultam aos partidos "nanicos" o
acesso ao fundo partidário e aos
programas eleitorais gratuitos.
Para que as propostas voltem à
CCJ como estão, sem prejuízo ao
trabalho desenvolvido pela comissão especial da reforma política
desde 1995, serão necessárias as assinaturas de 27 senadores.
Para o relator da reforma política, o líder tucano Sérgio Machado
(CE), não será difícil conseguir as
assinaturas. "Nada mudará em relação ao cronograma. O prazo não
será alterado."
Mas, se tecnicamente o acordo
fechado ontem é semelhante ao
anterior, que aprovaria as propostas na CCJ e as remeteria ao plenário para receber emendas, permitindo o retorno imediato à CCJ,
politicamente a situação é outra.
"Teria sido melhor votar e aprovar. Seria uma sinalização à sociedade. Com o arquivamento, em tese, a sinalização fica em aberto",
avaliou o senador Romero Jucá
(PFL-RR). Isso porque não há garantias de que 27 senadores concordarão em restituir as polêmicas
propostas da reforma política.
Machado apresentou 11 propostas de mudanças (8 propostas de
emenda constitucional e 3 projetos
de lei). Quatro foram consideradas
prioritárias pelo governo: financiamento público das campanhas,
fidelidade partidária, voto distrital
misto e instituição de limites para
que os partidos tenham acesso ao
fundo partidário e aos programas
eleitorais (cláusulas de barreira).
Mas a reforma política também
propõe a diminuição do mandato
de senador de oito para seis anos,
eleição para o suplente de senador,
voto facultativo e prazo mínimo de
três anos de domicílio eleitoral e filiação partidária para o registro de
candidatos.
Além disso, prevê que os números mínimo e máximo de vereadores serão proporcionais ao de eleitores, restringe a divulgação de
pesquisas eleitorais e acaba com o
segundo turno nas eleições de governadores e prefeitos.
As limitações previstas em cada
proposta de mudança acabaram
por provocar um debate acalorado
na CCJ. O senador Roberto Freire
(PPS-PE), autor do acordo que
prevaleceu na comissão, foi radicalmente contrário a limites previstos na reforma.
"Quem somos nós para dizer
quem pode ou não concorrer? O
povo decide. Alguém aí falou em
Collor (ex-presidente Fernando
Collor). Mas foi o povo quem o escolheu. Quem somos nós para dizer que Enéas (Enéas Carneiro, do
Prona) não pode concorrer à Presidência? E daí? O povo é quem decide", afirmou Freire.
Para o relator Sérgio Machado,
"é legítimo que Freire defenda o
seu partido". O PPS poderá ser
prejudicado com a adoção das
cláusulas de desempenho eleitoral.
De acordo com o projeto, só terão
acesso ao fundo partidário e aos
programas eleitorais gratuitos os
partidos que obtiverem 5% dos votos válidos, distribuídos em um
terço dos Estados.
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