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JANIO DE FREITAS
Sentidos da CPI
A primeira reação do presidente da Câmara, o petista João Paulo Cunha, diante das 208 assinaturas pedindo a CPI
(Comissão Parlamentar de Inquérito) dos grampos baianos
lembrou aquele célebre lavar de
mãos, mas não exprimiu, com
isso, indiferença ou imparcialidade. João Paulo vai "reunir a
Mesa Diretora" para definir o
destino do requerimento, entre
enfileirá-lo na rabada de 28 outros pedidos de CPI ou dar-lhe
prioridade.
Os 28 requerimentos são o saldo documental dos serviços
prestados ao governo anterior
pelo deputado Michel Temer
(PMDB-SP) e pelo governador
Aécio Neves (PSDB-MG), suas
gavetas e seus princípios como
presidentes da Câmara. Para o
petista que os sucede, e mesmo
para todos os petistas, são 28
marcos de 28 batalhas travadas
com convicção e ardor na Câmara, todas perdidas para que
os escândalos não quebrassem a
norma da impunidade posta em
vigor.
A muitos dos beneficiados pelo engavetamento dos 28 pedidos de CPI, a bancada do PT na
Câmara ao final do ano passado, então sob a liderança do
mesmo João Paulo, presenteou o
foro privilegiado, que funciona
quase como absolvição prévia
na eventualidade de processo
judicial. Cabe-lhe agora, por
mais que se valha da Mesa Diretora para dividir publicamente
a responsabilidade, o papel decisivo para a admissão da CPI
ou a transformação de suas gavetas em foro privilegiado para
os envolvidos nas revelações, na
execução e na responsabilidade
de mandante das gravações telefônicas ilegais na Bahia.
Um dos integrantes da Mesa a
ser consultado é o primeiro-secretário, Geddel Vieira Lima
(PMDB-BA), que deixou nas
gravações os mais fartos indícios de corrupção, e não só em
um, mas em vários casos. Nem é
preciso imaginar sua opinião,
quando reunido para deliberar
sobre a CPI. Basta imaginar os
demais integrantes da Mesa
opinando sobre a CPI diante de
Geddel Vieira Lima.
O outro a quem a CPI não
convém é, se me desculpam a
obviedade, o senador Antonio
Carlos Magalhães, que concentra com absoluta exclusividade
todas as suspeitas de mandante.
Mas que vem desfrutando, ao
lado do seu inimigo Geddel
Vieira Lima, da proteção petista
manifestada na resistência, até
agora, à CPI na Câmara.
As 208 assinaturas colhidas
pelos deputados Raul Jungmann (PMDB-PE) e Colbert
Martins (PPS-BA) ameaçam
mais do que aos dois principais
políticos envolvidos nas gravações. O governo, o PT e seus aliados estão entre apoiar a CPI ou
agir tal como aqueles que acobertaram, com o uso de suas gavetas, crimes e imoralidades.
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