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São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

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JANIO DE FREITAS

Sentidos da CPI

A primeira reação do presidente da Câmara, o petista João Paulo Cunha, diante das 208 assinaturas pedindo a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos grampos baianos lembrou aquele célebre lavar de mãos, mas não exprimiu, com isso, indiferença ou imparcialidade. João Paulo vai "reunir a Mesa Diretora" para definir o destino do requerimento, entre enfileirá-lo na rabada de 28 outros pedidos de CPI ou dar-lhe prioridade.
Os 28 requerimentos são o saldo documental dos serviços prestados ao governo anterior pelo deputado Michel Temer (PMDB-SP) e pelo governador Aécio Neves (PSDB-MG), suas gavetas e seus princípios como presidentes da Câmara. Para o petista que os sucede, e mesmo para todos os petistas, são 28 marcos de 28 batalhas travadas com convicção e ardor na Câmara, todas perdidas para que os escândalos não quebrassem a norma da impunidade posta em vigor.
A muitos dos beneficiados pelo engavetamento dos 28 pedidos de CPI, a bancada do PT na Câmara ao final do ano passado, então sob a liderança do mesmo João Paulo, presenteou o foro privilegiado, que funciona quase como absolvição prévia na eventualidade de processo judicial. Cabe-lhe agora, por mais que se valha da Mesa Diretora para dividir publicamente a responsabilidade, o papel decisivo para a admissão da CPI ou a transformação de suas gavetas em foro privilegiado para os envolvidos nas revelações, na execução e na responsabilidade de mandante das gravações telefônicas ilegais na Bahia.
Um dos integrantes da Mesa a ser consultado é o primeiro-secretário, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que deixou nas gravações os mais fartos indícios de corrupção, e não só em um, mas em vários casos. Nem é preciso imaginar sua opinião, quando reunido para deliberar sobre a CPI. Basta imaginar os demais integrantes da Mesa opinando sobre a CPI diante de Geddel Vieira Lima.
O outro a quem a CPI não convém é, se me desculpam a obviedade, o senador Antonio Carlos Magalhães, que concentra com absoluta exclusividade todas as suspeitas de mandante. Mas que vem desfrutando, ao lado do seu inimigo Geddel Vieira Lima, da proteção petista manifestada na resistência, até agora, à CPI na Câmara.
As 208 assinaturas colhidas pelos deputados Raul Jungmann (PMDB-PE) e Colbert Martins (PPS-BA) ameaçam mais do que aos dois principais políticos envolvidos nas gravações. O governo, o PT e seus aliados estão entre apoiar a CPI ou agir tal como aqueles que acobertaram, com o uso de suas gavetas, crimes e imoralidades.


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