UOL

São Paulo, sexta-feira, 28 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO SILVEIRINHA

Ao menos duas companhias que tiveram multas canceladas contribuíram para a campanha de Rosinha

CPI investiga doações e anistia a empresas

Sergio Lima/Folha Imagem
A governadora do Rio e ex-primeira-dama, Rosinha Matheus (PSB)


FERNANDA DA ESCÓSSIA
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

O relator da CPI do "Propinoduto" da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, deputado Paulo Ramos (PDT), afirmou ontem que vai investigar as empresas que tiveram multas canceladas pelo Estado entre 1999 e 2002 e que doaram recursos para a campanha da governadora Rosinha Matheus (PSB).
A CPI investiga um suposto esquema de corrupção na Fazenda estadual, que seria comandado por Rodrigo Silveirinha Corrêa, subsecretário de Administração Tributária durante a gestão Anthony Garotinho (1999 a abril de 2002), marido de Rosinha.
Silveirinha, quatro fiscais do Estado e seis auditores são suspeitos de enviar ilegalmente US$ 36 milhões para a Suíça.
Um cruzamento preliminar entre os dados da CPI e as doações de campanha mostra que, nesse período, pelo menos duas empresas que tiveram multas canceladas fizeram doações à campanha de Rosinha no ano passado.
A empresa Gerdau S.A. (maior doadora de campanha de Rosinha, contribuindo com R$ 500 mil) teve R$ 13,4 milhões em multas canceladas em março e abril de 2001. A Rio de Janeiro Refrescos Ltda. (doadora de R$ 100 mil a Rosinha) teve R$ 6,9 milhões anistiados referentes a 11 autos de infração lavrados em setembro e novembro de 2001.
Além de Rosinha, a Rio de Janeiro doou também R$ 100 mil para a campanha do candidato derrotado ao governo do Rio, Jorge Roberto Silveira (PDT).
A empresa ainda teve mais R$ 468 milhões de multas anistiadas em dezembro de 2002, durante o governo de Benedita da Silva (PT), após um parecer favorável dado no governo de Garotinho.
"Não é que vou imaginar que o candidato levou dinheiro, mas é uma maneira que essas empresas têm de se manifestarem simpáticas. Elas angariam a simpatia, a boa vontade do beneficiário da doação", afirmou Paulo Ramos.
"É uma espécie de namoro, de manter o bom relacionamento, para desestimular a ação do governo contra essas empresas. Quem recebe o benefício já olha com mais simpatia o doador."
De 1999 a 2002, as 18 maiores anistias fiscais somaram R$ 555 milhões, segundo a CPI, que pretende reavaliar as multas canceladas no período.

Plenos poderes
Ontem, em depoimento à comissão, os ex-presidentes da Junta de Revisão Fiscal Jonathas Barbosa Pinheiro e do Conselho de Contribuintes do Estado Roberto Lippi Rodrigues confirmaram que Silveirinha tinha pleno poderes para julgar procedente ou improcedente multas aplicadas por fiscais do Estado, depois de analisadas pela Junta de Revisão Fiscal - uma espécie de primeira instância a qual recorria o contribuinte insatisfeito com as multas.
Segundo Lippi, Silveirinha poderia julgar improcedente uma multa que havia sido anteriormente confirmada pela Junta. Além dele, apenas o secretário de Fazenda tinha o mesmo poder. Os dois disseram, porém, que durante o período em que o fiscal esteve no governo em nenhum momento os secretários Carlos Antonio Sasse e seu sucessor, Fernando Lopes, decidiram sobre processos em trânsito na junta.
Lippi explicou ainda que o Conselho de Contribuintes só era acionado por contribuintes que tinham suas multas confirmadas pela junta. Os processos cancelados pela junta era arquivados, sem que o Estado pudesse recorrer ao conselho.


Texto Anterior: Fome Zero: Agentes jovens vão fiscalizar programa no PI
Próximo Texto: Outro lado: Governo estadual e empresas negam existir relação
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.