|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Controle do governo sobre o Bolsa Família é precário
Ministério libera dinheiro sem saber se 5 milhões de crianças vão mesmo à aula
Prefeituras enviam dados sobre freqüência escolar e saúde incompletos; apesar da ausência de informações, União não pune municípios
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
O Ministério do Desenvolvimento Social recebe hoje apenas 70% dos dados sobre freqüência escolar dos beneficiados com o Bolsa Família, o que
equivale a 11,4 milhões de
crianças. A União ignora se 4,9
milhões de alunos cumprem as
exigências do programa.
Segundo dados divulgados
pelo próprio ministério, o governo federal é informado precariamente pela maior parte
dos municípios brasileiros sobre a freqüência escolar e o
cumprimento das exigências
de saúde dos beneficiados pelo
Bolsa Família -duas contrapartidas impostas pelo programa para manter os repasses.
A situação atinge inclusive as
capitais: nove delas enviaram
dados de menos da metade das
famílias beneficiadas. Em Maceió, por exemplo, foram enviados dados de apenas 29% das
crianças inscritas no programa
que freqüentam a escola.
Têm perfis parecidos Salvador e Macapá (30%), João Pessoa (39%), Vitória (40%), Cuiabá (45%), Recife (43%), Porto
Velho (46%) e Aracaju (41%).
Em relação aos dados de saúde -a vacinação em dia de
crianças até sete anos e a realização de um mínimo de exames
pré-natal por gestantes-, a informação enviada à União pelas
prefeituras é ainda mais limitada. Maceió transmitiu dados de
7% dos incluídos; Macapá, 14%,
e João Pessoa, 11%. Centros como Salvador e Cuiabá não enviaram nenhuma informação.
São Paulo e Belo Horizonte
fazem controle em sistemas
próprios, mas não repassaram
a informação à União.
As informações do governo
federal, atualizadas em dezembro, referem-se aos últimos dados recebidos -de junho de
2006, na saúde, e de agosto e setembro de 2006, na educação.
Os dados de saúde devem ser
enviados a cada seis meses e, os
de educação, a cada bimestre.
Dificuldade
A dificuldade de monitorar a
freqüência escolar foi reconhecida em 2004 pelo próprio ministro, Patrus Ananias. Na época, a União só tinha dados de
metade dos 12,4 milhões de
alunos inclusos no programa.
A cobertura já chegou a
76,2% dos estudantes inscritos,
no final de 2005. Hoje está em
70,2%. Na saúde, os dados são
mais tímidos: a União só conhece dados de 33,4% das famílias -3,5 milhões. Para o ministério, já é um avanço. Em 2005,
apenas 6% das famílias eram
acompanhadas de fato.
"Havia uma dificuldade de
articulação das prefeituras com
os Estados para receberem os
dados das escolas estaduais",
explica a secretária de Renda
de Cidadania do ministério,
Rosani Cunha. Desde dezembro de 2006, passou-se a buscar
os dados nos endereços das escolas, e não nos das famílias.
Contestação
Algumas prefeituras das capitais ouvidas pela Folha contestam os dados do ministério.
Outras afirmam que, apesar do
baixo número informado,
acompanham de fato os beneficiados. Mas reclamam que
muitas famílias se mudam e
não informam a prefeitura.
Principal programa de transferência de renda do governo
Luiz Inácio Lula da Silva, o Bolsa Família atinge cerca de 11
milhões de famílias, que recebem subsídios de R$ 15 a R$ 95
por mês. O benefício é cancelado quando a família deixa de
manter o filho na escola ou não
acompanha o calendário de vacinação das crianças e de pré-natal das gestantes.
Na prática, porém, a União
não puniu nenhum município
que deixou de enviar os dados.
"O que buscamos é uma forma
de incentivar as cidades a dar
as informações", disse Cunha.
Um dos incentivos é o IGD
(Índice de Gestão Descentralizada), criado em abril de 2006,
que "premia" com recursos extras, para gestão do programa,
as cidades que mais atualizam
o cadastro e enviam dados de
freqüência escolar e saúde. Em
escala de 0 a 1, as melhores ganham mais recursos adicionais.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Escolas também podem enviar informações Índice
|