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Moradores de locais mapeados por novo programa social cobram mais chances
DO ENVIADO A QUIXERAMOBIM (CE)
Enquanto o Palácio do Planalto mantém o Bolsa Família
como principal vitrine social,
moradores de comunidades
que integram o raio de ação do
Territórios da Cidadania, lançado nesta semana, cobram
chances de trabalho para não
depender apenas de benefícios.
A Folha esteve ontem em
dois povoados de Quixeramobim (220 km de Fortaleza), no
território Sertão Central, um
dos 60 a serem atendidos neste
ano pelo programa de combate
à pobreza rural. Ao citar o novo
programa, a reportagem encontrou uma mistura de desconhecimento e desconfiança.
Na comunidade Poço Grande, um exemplo dessa cobrança por mais trabalho e menos
assistência está numa casa visitada por Lula em 1998, em sua
passagem pelo interior cearense na campanha presidencial.
Gisela da Silva, 58, lembra
das palavras do petista ditas
naquele dia. "O Lula bebeu café
com a gente e disse que, se fosse eleito, ia ajudar muito os pobres", afirma. "Não sou contra
o Bolsa Família, também recebo, mas tinha que ter mandado
o pessoal trabalhar. A gente
quer ter condição de trabalho".
O marido dela, Manoel da
Silva, 58, está há um ano desempregado. "Antes por aqui
tinha trabalho nas fazendas,
nas plantações de algodão, para
tirar leite das vacas. Hoje os fazendeiros não pagam mais ninguém. É preciso criar as condições para a gente trabalhar",
diz o trabalhador, que em 1998,
na condição de presidente da
associação local, fez o discurso
de abertura do comício petista.
Ainda em Quixeramobim, a
reportagem visitou o povoado
Berilândia. "Eu recebo o Bolsa
Família e não tenho condições
de trabalhar direito na exploração [de pedras]. O governo poderia criar condições de financiar equipamentos para o nosso trabalho aqui, como compressores [um usado custa cerca de R$ 20 mil]. Na base da
marretada na pedra fica difícil", diz Geraldo da Silva, 56.
Uma das ações do Territórios
da Cidadania será a investida
do Bolsa Família nos acampamentos de trabalhadores sem
terra, algo que preocupa o comando nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra).
Ontem a Folha visitou um
acampamento do MST em Quixeramobim. "Graças a Deus recebo [o Bolsa Família]. Mando
meus filhos para escola para
controlar a freqüência. Se não
mandar, o governo tira [o benefício]", diz Rita de Cássia de
Oliveira, 42, que há um ano
mora com sete filhos em um
barraco no acampamento.
(ES)
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