São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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Moradores de locais mapeados por novo programa social cobram mais chances

DO ENVIADO A QUIXERAMOBIM (CE)

Enquanto o Palácio do Planalto mantém o Bolsa Família como principal vitrine social, moradores de comunidades que integram o raio de ação do Territórios da Cidadania, lançado nesta semana, cobram chances de trabalho para não depender apenas de benefícios.
A Folha esteve ontem em dois povoados de Quixeramobim (220 km de Fortaleza), no território Sertão Central, um dos 60 a serem atendidos neste ano pelo programa de combate à pobreza rural. Ao citar o novo programa, a reportagem encontrou uma mistura de desconhecimento e desconfiança.
Na comunidade Poço Grande, um exemplo dessa cobrança por mais trabalho e menos assistência está numa casa visitada por Lula em 1998, em sua passagem pelo interior cearense na campanha presidencial.
Gisela da Silva, 58, lembra das palavras do petista ditas naquele dia. "O Lula bebeu café com a gente e disse que, se fosse eleito, ia ajudar muito os pobres", afirma. "Não sou contra o Bolsa Família, também recebo, mas tinha que ter mandado o pessoal trabalhar. A gente quer ter condição de trabalho".
O marido dela, Manoel da Silva, 58, está há um ano desempregado. "Antes por aqui tinha trabalho nas fazendas, nas plantações de algodão, para tirar leite das vacas. Hoje os fazendeiros não pagam mais ninguém. É preciso criar as condições para a gente trabalhar", diz o trabalhador, que em 1998, na condição de presidente da associação local, fez o discurso de abertura do comício petista.
Ainda em Quixeramobim, a reportagem visitou o povoado Berilândia. "Eu recebo o Bolsa Família e não tenho condições de trabalhar direito na exploração [de pedras]. O governo poderia criar condições de financiar equipamentos para o nosso trabalho aqui, como compressores [um usado custa cerca de R$ 20 mil]. Na base da marretada na pedra fica difícil", diz Geraldo da Silva, 56.
Uma das ações do Territórios da Cidadania será a investida do Bolsa Família nos acampamentos de trabalhadores sem terra, algo que preocupa o comando nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Ontem a Folha visitou um acampamento do MST em Quixeramobim. "Graças a Deus recebo [o Bolsa Família]. Mando meus filhos para escola para controlar a freqüência. Se não mandar, o governo tira [o benefício]", diz Rita de Cássia de Oliveira, 42, que há um ano mora com sete filhos em um barraco no acampamento. (ES)


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