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AGENDA SUSPENSA
Em debate com congressistas, ministro ouve opiniões céticas da oposição sobre aprovação das mudanças
Senado ataca proposta tributária de Palocci
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O projeto de reforma tributária
do governo Luiz Inácio Lula da
Silva sofreu ontem uma primeira
bateria de críticas e manifestações
de ceticismo ao ser exposto, no
Senado, pelo ministro Antonio
Palocci Filho (Fazenda).
Até então, as linhas gerais da reforma -a estratégia do Palácio
do Planalto é deixar para votações
posteriores o detalhamento da
proposta- haviam sido referendadas com tranquilidade numa
reunião com governadores, num
evento com prefeitos e num único
dia de reunião no CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, fórum com 82 representantes da sociedade).
Os senadores, porém, sinalizaram que o consenso não será tão
fácil no Congresso, onde se dará,
de fato, o debate da proposta.
"Sou extremamente cético em relação à reforma tributária", iniciou o primeiro debatedor, Jefferson Péres (PDT-AM), da base
aliada ao governo.
Tasso Jereissati (PSDB-CE) foi
ainda mais incisivo: "Eu abraço o
ceticismo dos outros", disse.
"Não vamos chegar a lugar algum", sentenciou, ao defender
que seja dada prioridade à reforma da Previdência no Congresso.
Ambos desceram aos detalhes
das mudanças propostas para dizer a Palocci que o projeto será de
difícil execução. Tasso afirmou
que não há como falar em fim da
guerra fiscal, como quer o governo, sem uma política de combate
às desigualdades regionais.
Péres se posicionou contra a
idéia de cobrar o IVA (Imposto
sobre Valor Agregado, que, pelo
projeto, substituiria o ICMS) no
destino das mercadorias, o que
prejudicaria o seu Estado. O senador disse ser inviável a idéia da Fazenda de criar um fundo para
compensar as perdas.
Voltou à tona até o projeto do
imposto único -uma CPMF
com alíquota mais elevada. Péres
anunciou apoio à tese, no que foi
repetido pouco depois por Paulo
Octávio (PFL-DF), que usou a expressão "imposto cidadão".
O governo sentiu o golpe. O líder no Congresso, Aloizio Mercadante (PT-SP), usou sua intervenção para atacar os críticos, em vez
de dirigir questões a Palocci. Primeiro, disse que a tese segundo a
qual a reforma é complexa demais paralisou o governo Fernando Henrique Cardoso no tema.
Depois, desqualificou a idéia do
imposto único, apontando que
nenhum país do mundo o utiliza.
"Imposto único é um grande imposto para a campanha eleitoral",
afirmou o petista.
Palocci contemporiza
A veemência de Mercadante desagradou à oposição. Palocci, que
chegou falando em aprovar a reforma num "curtíssimo espaço de
tempo", adotou um tom ameno
para restabelecer o diálogo.
Disse que estava apenas "iniciando o debate" e prometeu estudar e discutir o imposto único,
embora tenha criticado a proposta. Com bom humor, o ministro
procurou enfrentar o ceticismo
de Péres: "Sua visão é muito realista; tão realista que me parece
passar ao pessimismo".
Mercadante e Palocci afirmaram que a reforma da Previdência
terá prioridade e deverá ser aprovada antes da tributária -no
meio político, criava-se nos últimos dias a impressão de que o governo poderia privilegiar a segunda, devido às resistências dos servidores à primeira.
Mesmo num clima mais favorável, as críticas continuaram. Fernando Bezerra (PMDB-RN), ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria, criticou a permanência da CPMF. Arthur Virgílio (PSDB-AM) disse que a tributária "é talvez a mais difícil de
todas as reformas".
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