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CRISE NO DIVÃ
Para intelectuais, porém, risco de "crise de confiança na democracia", aventado pela oposição, não existe
Governo reage mal à crise, afirmam cientistas políticos
GUILHERME BAHIA
JOÃO CARLOS BOTELHO
DA REDAÇÃO
No embate entre governo e oposição a partir do surgimento do
caso Waldomiro Diniz, os oposicionistas exageram ao aventar a
possibilidade de uma "crise de
confiança na democracia", mas a
estratégia com mais problemas
até agora é a governista. Essa é a
opinião de três cientistas políticos
ouvidos pela Folha para falarem
dos últimos passos de cada lado.
Na última quinta-feira, em discurso para músicos que o visitavam, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou "os conservadores" pela crise que seu governo
atravessa. "Os conservadores sabem se reorganizar. Eles têm pesquisas de opinião e sabem que podemos ganhar [as eleições] em
muitas capitais neste ano. Todo o
barulho que vocês estão ouvindo
por aí é a demonstração do que
vai ser este ano", disse Lula.
Leôncio Martins Rodrigues, da
Unicamp, critica a declaração do
presidente: "Levantar o fantasma
do conservadorismo acirra as divergências. Já a oposição parece
mais organizada. Depois de um
período de desesperança antes os
altos índices de aprovação do governo Lula, começa a ver a luz no
fim do túnel, mas precisa calibrar
adequadamente o grau de oposicionismo para evitar ser responsabilizada pelo que acontecer".
No mesmo dia em que Lula culpou os "conservadores", PSDB,
PFL e PDT, os principais partidos
de oposição, divulgaram uma nota em que classificam o governo
de "apático, confuso e sem liderança" e fizeram um diagnóstico
em tom grave: "Há uma crise de
governo. Está em tempo de evitar
que ela se transforme em crise de
confiança na democracia".
Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora da USP, concorda com a nota dos partidos
oposicionistas quando ela diz que
há uma crise de governo. E o discurso de Lula, para a cientista política, é uma estratégia de jogar a
culpa da crise na oposição. "Mas é
uma estratégia de fôlego curto.
Acho que o discurso do governo
não renderá eleitoralmente."
Fábio Wanderley Reis, professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), é
até mais duro com Lula. "É um
discurso [o do presidente na
quinta-feira] de quem não está
suportando o pós-crise", diz.
Segundo Wanderley Reis, o surgimento do caso Waldomiro foi
uma "encruzilhada" para o governo, que, até aquele momento -a
divulgação da gravação de 2002
em que o ex-assessor da Presidência aparece pedindo propina a um
empresário de jogos foi em 13 de
fevereiro-, vinha se saindo bem
na opinião do cientista político.
"O governo ficou perplexo",
avalia. "Reagiu de forma inepta à
crise", completa. "O discurso do
presidente está inserido nisso."
A menção à possibilidade de
uma "crise de confiança na democracia" não é levada muito a sério
pelos intelectuais. Para Maria Victoria Benevides, também da USP
e espécie de porta-voz de um grupo de intelectuais de esquerda que
conversam com Lula, esse trecho
é "bastante alarmista". "Basta nós
olharmos que em países com crises muito mais graves que essa as
instituições democráticas se mantiveram". Maria Victoria não faz
coro aos que criticam a estratégia
do governo durante a crise.
Wanderley Reis também não vê
a possibilidade de risco iminente
para a democracia: "Não vejo
muita credibilidade em se falar de
crise institucional. [...] Mas o governo vai se enfraquecer em suas
capacidades de governar como
resultado da crise". "Para chegar a
ser uma crise de confiança na democracia, tem um caminho muito longo", diz Maria Hermínia.
O fato de 2004 ser ano eleitoral
tende a fazer com que a exploração da crise pela oposição seja
maior. "A crise atual do governo
será superdimensionada para fins
eleitorais", avalia Maria Victoria.
Leôncio observa, porém, que a
oposição que o PT enfrenta agora
não é tão forte quanto o que ele
próprio fazia ao tucano Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002).
"O PT é um partido com algumas características de partido anti-sistema. Entre outras coisas,
um partido anti-sistema pratica
uma forma de oposição desleal:
cobra medidas do governo que ele
mesmo não poderia adotar se
chegasse ao poder. A atual oposição ao governo Lula não é de esquerda nem é composta por partidos anti-sistema", afirma.
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