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DEFESA
Suecos e franceses têm chance menor na disputa para vender caças ao Brasil; Embraer perdeu pontos na etapa final
Russos devem vencer licitação F-X da FAB
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A concorrência para a venda de
caças à FAB (Força Aérea Brasileira) chegou ao seu ponto final com
a Embraer, franca favorita no
princípio da disputa, perdendo
pontos preciosos. O próximo
avião da FAB será mais provavelmente o russo Sukhoi Su-35. O
sueco Gripen também tem boas
chances, embora ainda não esteja
100% descartado o francês Mirage-2000BR, oferecido pela Dassault e pela Embraer.
Chegou ao Planalto, na quinta
passada, o relatório da comissão
que estudou o caso da venda dos
caças, um negócio de US$ 700 milhões que prevê o fornecimento
de 12 aparelhos para substituir os
atuais Mirage IIIEBR, que estão
caducando no fim deste ano.
A comissão, formada por 13
membros de ministérios e do Legislativo, analisou um dos itens
do relatório confeccionado pela
FAB sobre os aviões concorrentes: as compensações diretas e indiretas oferecidas pelos consórcios, o chamado offset.
Foi aí que a Dassault/Embraer
perdeu fôlego por oferecer as
compensações quase integralmente do próprio consórcio,
abrindo pouca margem para a integração de outras tecnologias ou
para abertura de mercado.
As propostas russa e sueca são
mais tentadoras. Por exemplo: a
Rosoboronexport, agência de
promoção de materiais de defesa
que se associou à brasileira Avibrás para oferecer o Sukhoi, se
compromete com a compra de
até US$ 3 bilhões em produtos
brasileiros -além de transferir
tecnologia sensível em várias
áreas.
O relatório não é terminativo,
apenas indicativo, assim como o
da FAB -que analisou, além dos
offsets, a capacidade operacional
do aparelho, a logística, o suporte
pós-venda e aspectos estratégicos.
O que torna o Sukhoi favorito,
segundo a Folha apurou, é uma
conjunção de fatores.
O Ministério da Defesa é favorável aos russos, em especial porque
a transferência tecnológica em
outras áreas inclui a espacial -o
governo tornou prioridade a retomada da construção de lançadores de satélite após a tragédia de
Alcântara, quando 21 técnicos
morreram na explosão do foguete
VLS no ano passado.
A Defesa já tem um acordo assinado com a Rússia para o intercâmbio nesse setor. A compra do
Sukhoi é uma seqüência lógica ao
quadro, embora o ministro José
Viegas negue que haja tal relação.
Além disso, ao tornar-se parceiro da Rússia, o Brasil abriria mais
possibilidades de negócios com o
país -o que é uma das prioridades da política externa de Lula.
Mas há diversos poréns. Apesar
de o Su-35 ser considerado pela
própria FAB um aparelho superior aos concorrentes, há uma
preferência velada na Força pelo
Gripen e pelo Mirage. Há desconfiança em relação ao material russo, usado em uma escala pequena
no Brasil, e dúvidas sobre os custos de manutenção e operação.
O Gripen desponta com uma
boa proposta comercial e um
avião moderno, embora com possibilidades de desenvolvimento
futuro duvidosas e características
pouco adequadas ao tamanho do
Brasil. Nos bastidores, sua proposta de offset, envolvendo empresas suecas, é vista com simpatia por setores ligados ao comércio exterior do governo.
Há também o fator Embraer.
Ninguém duvida que a empresa,
maior fabricante de aviões do
país, vá participar de alguma forma do processo de integração da
nova aeronave -ou seja, da
adaptação dela a padrões e características de missões da FAB.
A licitação, chamada F-X, sempre foi vista nos meios militares
como uma forma de trazer a melhor parceria para a Embraer. Algo semelhante ocorreu na modernização dos caças F-5 da FAB,
agora em curso.
Só que a Embraer se associou
para oferecer um produto, o Mirage-2000BR, com os mesmos sócios que haviam comprado 20%
de seu controle. Isso fechou as
portas para outras parcerias, que
eram desejadas pela FAB.
Por outro lado, a associação garantiu uma proposta comercialmente sólida com um parceiro
tradicional. Além disso, a Embraer é considerada pelos militares uma cria sua -a empresa foi
fundada pela Aeronáutica e privatizada em 1994.
Recentes declarações de Viegas,
ainda que negadas depois, indicaram que a Embraer irá acabar
participando do projeto. O ""como" é uma incógnita nesse momento, o que leva alguns dos concorrentes a acreditar que a regra
do jogo ajuda a Embraer.
A comissão que analisou o relatório da FAB descartou o aspecto
de criação de empregos por completo. Diferentemente do que a
Embraer e a Avibrás propagandeiam, pouquíssimos postos de
trabalho serão ganhos.
Ficaram fora da disputa, pelo
relatório da comissão, o norte-americano F-16 (Lockheed-Martin) e o russo MiG-29 (RAC). A
decisão agora está na mesa de Lula. Deverá ser tomada até abril, e
anunciada em reunião do Conselho de Defesa Nacional, formado
por vários ministros.
(IGOR GIELOW E RAYMUNDO COSTA)
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