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NA RIQUEZA E NA POBREZA
Deputados empregam maridos e mulheres
Líder da CCJ propõe votar já lei contra nepotismo
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A revelação de que quase cem
cônjuges dos atuais deputados federais foram contratados sem
concurso pela Câmara reacendeu
a defesa da necessidade de aprovação de uma lei que proíba a prática de nepotismo.
O presidente da Comissão de
Constituição e Justiça, Antonio
Carlos Biscaia (PT-RJ), disse que
vai acelerar a votação de uma
emenda à Constituição sobre o
assunto: "Embora não seja ilegal,
o nepotismo contraria inquestionavelmente os princípios éticos.
Em alguns casos, isso serve como
acréscimo de renda familiar. Pode
até haver parentes qualificados,
mas como não dá para discernir, a
melhor forma é proibir radicalmente", afirmou Biscaia.
A Folha publicou ontem que 96
cônjuges dos 391 deputados que
se declararam casados foram contratados nos últimos anos pela
Câmara. Há ainda 23 casos em
que o parente foi empregado pelo
gabinete de outro deputado, na
tentativa de camuflar a contratação. Hoje, a prática do nepotismo
-favorecimento a familiares na
esfera pública- não é ilegal no
Executivo e no Legislativo, havendo restrição apenas no Judiciário.
Biscaia é autor de uma PEC
(Proposta de Emenda à Constituição) que proíbe o emprego de
familiares no serviço público.
"Vou conversar com o relator designado para a PEC para que ele
apresente o parecer e a emenda
seja votada", afirmou.
Em 2000, durante a tramitação
da reforma do Judiciário no Congresso, tentou-se aprovar a proibição, mas faltaram 22 votos para
que a emenda passasse.
"A função pública não pode se
transformar em um negócio de
família. É um desgaste desnecessário ao Parlamento", comentou
o deputado Orlando Fantazzini
(PT-SP), que deixou há poucos
dias a presidência do Conselho de
Ética e Decoro Parlamentar.
Segundo ele, é ainda pior a prática de um deputado contratar o
parente de outro, conforme ocorreu, por exemplo, com os líderes
do PP, José Janene (PR), e do
PMDB, José Borba (PR). "É uma
burla. O que contrata para seu gabinete pelo menos assume", disse.
Mesmo sendo a favor da proibição da prática, o ouvidor da Câmara, deputado Custódio Mattos
(PSDB-MG), pondera que é necessário analisar caso a caso: "É
exigir demais de qualquer pessoa,
os deputados inclusos, que tomem decisões que não estão definidas em lei".
O deputados Luiz Carlos Santos
(PFL-SP) procurou a Folha para
dizer que sua mulher, promotora
de Justiça, trabalhou na Câmara
por orientação da Procuradoria
Geral de Justiça de São Paulo.
Ela teria a função comissionada
de acompanhar a tramitação de
assuntos de interesse do Ministério Público. Já Jutahy Junior
(PSDB-BA) afirmou que a mulher, hoje lotada em cargo de confiança em seu gabinete, ingressou
na Câmara em 1985 por meio de
concurso público.
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