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Ministro substituto previu ano eleitoral sem turbulências
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Durante o governo Lula, o economista Guido Mantega sempre
foi um dos maiores críticos da política econômica austera do Banco
Central, seja quando ocupou o
Ministério do Planejamento ou a
presidência do BNDES. Mantega,
no entanto, se mostrou, em entrevista à Folha no início deste mês,
muito mais moderado em relação
às suas críticas ao BC.
No final do ano passado, Mantega chegou a responsabilizar o
BC pela queda do PIB de 1,2% no
terceiro trimestre. No início deste
mês, na véspera de sua ida a Londres na comitiva de Lula, Mantega concedeu entrevista à Folha,
que não foi publicada. Minimizou
o crescimento de 2,3% do PIB no
Brasil, metade da média mundial.
"Eu acho que é parcial só olhar
para o PIB. Você tem que olhar o
conjunto de coisas que aconteceram em 2005. O emprego melhorou bem. A renda melhorou."
Questionado se o BC tinha acertado ao adotar uma política austera, respondeu: "Se ele acertou,
não sei, mas os Bancos Centrais
costumam ser conservadores".
Sobre as previsões para este ano
eleitoral, a tese defendida por
Mantega é que 2006 será um ano
atípico porque não haverá turbulências na economia. A seguir,
trechos da entrevista:
Folha - O sr. acha que poderá haver turbulência com as eleições?
Guido Mantega - Ano eleitoral
sempre é um ano um pouco mais
agitado, mais confuso. É natural
que as polêmicas fiquem mais
aguçadas. Neste ano, no entanto,
vamos ter um ano eleitoral atípico
do ponto de vista da economia.
Nos anos anteriores de eleições
presidenciais, vivíamos um panorama de crise econômica, de instabilidade e de incerteza. Hoje, temos exatamente o oposto. Isso vai
evitar aqueles fenômenos típicos
do período eleitoral, como fuga de
capitais. Não há nenhuma suspeita, nenhum risco de insolvência
nas contas externas. Isso se deve
aos fundamentos da economia, à
solidez alcançada pela economia
brasileira e à redução da vulnerabilidade. A dívida externa caiu
drasticamente...
Folha - Mas, em compensação, a
dívida interna está subindo...
Mantega - Mas a dívida interna é
uma questão de gestão interna. A
dívida interna em relação ao PIB
não subiu, ela está estacionada em
51,6%. Está sob controle.
Folha - Mas a dívida interna é
mais cara do que a dívida externa.
Mantega - O que tem de olhar é o
endividamento público (a soma
das dívidas interna e externa). O
endividamento público não está
aumentando. Se aumentou, foi
apenas uma fração. A dívida interna é sempre mais cara que a externa, só que ela é menos perigosa, é menos explosiva. À medida
que os juros caírem, ela também
cai. Com a queda da taxa de juros,
você alivia esse problema. A conta
de juros podia ser menor -e será
menor em 2006.
Folha - Mas o Brasil poderia ter
ido melhor em 2005.
Mantega - Sempre podia ser melhor, é claro. Mas, por outro lado,
acho que há um vício dos jornalistas que estão sempre olhando só
para um aspecto da questão, que é
o crescimento do PIB. Eu acho
que é parcial só olhar para o PIB.
Você tem que olhar o conjunto de
coisas que aconteceram em 2005,
além do crescimento de 2,3% do
PIB. O emprego melhorou bem. A
renda melhorou bem. Houve ainda uma consolidação do mercado
interno, uma revolução no crédito. O mercado de capitais se movimentou. Normalmente um
crescimento de 2,3% do PIB não
traria emprego. Isso estaria, digamos, violando a ortodoxia do
pensamento. É um erro que todos
-até eu-cometiam. Todos tinham aquela crença de que você
só vai gerar emprego na economia brasileira se ela estiver crescendo a 5%. É verdade que, em
2004, nós crescemos a 5%, o que
gerou emprego, mas em 2005
aconteceu um fenômeno. A economia cresceu menos e, mesmo
assim, gerou emprego e produtividade. Trata-se de um novo modelo de desenvolvimento que está
acontecendo. O PIB só não foi
maior por causa da política monetária, mas isso criou as condições para que em 2006 nós tenhamos a eleição mais tranqüila da
história do país em termos econômicos.
Folha - O sr. acha que o Banco
Central, no fundo, acertou, então,
ao ter feito uma política monetária
mais austera?
Mantega- - Se ele acertou, não
sei, mas os Bancos Centrais costumam ser conservadores. O objetivo deles é garantir uma inflação
baixa. Acho que a inflação baixa é
responsável por uma parte desse
aumento da renda média real.
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