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ANÁLISE/NOVO MINISTRO
Mantega terá de chefiar desafetos e seduzir o "mercado"
VINICIUS TORRES FREIRE
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
Se existisse um canal "pay-per-view" das reuniões do governo, o
programa mais divertido para
comprar nas próximas semanas
seria a reunião de Guido Mantega
com Henrique Meirelles: eles se
detestam. Mantega diz há anos
que o BC usa um "modelinho
burro" para estimar a inflação e a
taxa de juros para contê-la.
Já criticou em público Afonso
Bevilacqua, diretor de política
econômica e ideólogo-mor do
BC. Joaquim Levy, secretário do
Tesouro, é seu desafeto notório e
está de saída. O embaixador tucano na Fazenda, Murilo Portugal,
saiu ontem. Quem vai acender a
luz quando Mantega chegar?
Antonio Palocci não sabia economia, mas encantou cobras do
mercado e economistas com sua
simpatia sibilante e com o que se
considerava sua esperteza política. Mantega é desprezado pela
equipe econômica restante e por
economistas do "mercado", que o
têm por ignorante em economia e
destrambelhado na política.
Sobre Levy, Mantega declarou
aos jornais que "felizmente" a
opinião do secretário do Tesouro
sobre juros e bancos públicos não
tinha "peso nenhum".
Levy e Meirelles criticam o peso
dos bancos públicos na economia, em parte responsáveis, segundo eles, pela alta taxa de juro
básica. Acham ainda que os empréstimos do BNDES, da Caixa
Econômica Federal e do Banco do
Brasil embutem subsídios (descontos nos juros) e causam distorções numa economia de mercado. Para o novo ministro, os
bancos federais são esteios do desenvolvimento em um país de juros extorsivos e bancos tímidos.
Ministro do Planejamento,
Mantega tinha lugar nas reuniões
do Conselho Monetário Nacional
(CMN), em que são decididas as
principais metas financeiras do
país. Lula sempre formou ao lado
de Palocci e Meirelles. Mantega
sempre foi voto vencido.
O novo ministro da Fazenda é
crítico de metas de inflação muito
ambiciosas. Em meados de 2005,
afirmou que preferia uma meta
mais flexível para 2007. Culpou o
BC quando se revelou o vexame
do PIB do terceiro trimestre de
2005. O BC retrucou, em nota, "lamentando" que membros do governo criticassem a política econômica. Agora, espera-se para ver
quem será o pau mandado: Mantega ou a turma do BC?
Já presidente do BNDES, apanhava do pessoal da Fazenda por
pregar uma redução TJLP (taxa
de juros de longo prazo, taxa básica do BNDES, decidida no CMN),
fixa a mando da Fazenda e por
pressão do BC havia quase dois
anos. Suas derrotas só tiveram
fim quando o PIB minguou e Palocci já estava varado feito são Sebastião pelas flechas que voavam
dos escândalos de Ribeirão Preto
e do ministério da Casa Civil de
Dilma Rousseff.
Além da meta de inflação flexível, o dito mercado (bancos e
grandes investidores, basicamente) teme as declarações do ministro sobre "mudar o perfil da dívida pública". Isto é, fazer com que
o público que empresta ao governo aceite receber seu dinheiro de
volta em prazo mais longo e com
a taxa de juros fixada de antemão.
"Mudar o perfil da dívida" pode
significar nada (o governo tenta
diária, paulatina e conservadoramente alongar a dívida pública).
Ou, no extremo, pode soar como
calote: o governo decide trocar a
dívida atual por nova, forçando o
público a aceitar juros menores e
a empréstimos mais longos.
Antes um moderado entre os
economistas do PT, derivou à esquerda, sem querer, quando Palocci tomou seu lugar e o de Aloizio Mercadante como principal
porta-voz econômico de Luiz Inácio Lula da Silva.
Era professor da Fundação Getúlio Vargas. Foi do segundo escalão da prefeitura de Luiza Erundina, em São Paulo (1989-92). Como economista, é doutor em sociologia e escreveu ensaios marxistas sobre formação do capital e
crises brasileiras, além de textos
de história das idéias econômicas.
Ao lado de Mercadante e Jorge
Mattoso, foi um dos principais
críticos do "estelionato eleitoral"
que seria o Plano Real.
Lulista apaixonado, em 2002
publicou artigo profético. Lá dizia
que Lula seria o "grande timoneiro" a tirar o país do mar revolto:
pois ele e seus partidários tinham
desenvolvido habilidades no "enfrentamento da corrupção".
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