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Investigação atinge outra obra da Camargo
Procuradoria suspeita que eventual superfaturamento em construção da usina de Tucuruí tenha alimentado doação ilegal a políticos
R$ 6,8 milhões teriam sido
desviados da obra, que custou R$ 230,6 milhões em valores de 1998, segundo ação em curso na Justiça
MARIO CESAR CARVALHO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Federal
de São Paulo, que investiga supostas doações ilegais feitas pela construtora Camargo Corrêa
a partidos políticos, vai incluir a
usina de Tucuruí no rol de
obras sob suspeita de terem sido superfaturadas.
A Procuradoria decidiu investigar em todo o país as obras
da empresa que tenham apresentado indícios de irregularidade para verificar se os problemas têm alguma conexão
com supostas doações ilegais.
A apuração faz parte da Operação Castelo de Areia, que
prendeu quatro diretores da
empreiteira. Até a inclusão de
Tucuruí, a PF havia listado uma
obra pública na relação de suspeitas -a Refinaria do Nordeste, feita por um consórcio do
qual a Camargo Corrêa faz parte. Segundo o TCU (Tribunal de
Contas da União), houve um
superfaturamento de cerca de
R$ 59 milhões na refinaria.
A obra das eclusas de Tucuruí foi orçada em R$ 230,6 milhões, em valores de 1998. Desse total, R$ 6,8 milhões foram
desviados da usina para a realização de obras no município de
Tucuruí (PA), segundo o TCU.
Uma ação de improbidade do
Ministério Público Federal,
submetida à Justiça no último
mês, pede a devolução do valor
supostamente desviado.
Eclusa é um tipo de dique
que se constrói num trecho de
rio onde há um desnível do leito
para permitir que barcos possam subir ou descer nessa área.
Tucuruí era administrada
pelo PMDB à época do suposto
desvio. A investigação da Polícia Federal sobre a Camargo
Corrêa encontrou doações legais de R$ 300 mil para o diretório daquele partido no Pará,
mas há suspeitas de que a empresa também tenha feito contribuições ilegais.
Conversas gravadas pela PF
durante as investigações indicam que a Camargo Corrêa fazia doações "por dentro" (legais) e "por fora" (ilegais). Diálogos gravados registram exatamente essas expressões. Os
executivos da empresa mencionam a existência de duas listas
de contribuição para políticos.
"Como vi a informação de
que o PMDB do Pará teria recebido um valor da construtora
[R$ 300 mil, segundo interceptação telefônica], achei que
nossas informações poderiam
ajudar a investigação de São
Paulo", afirmou o procurador
da República Marco Mazzoni,
hoje no Espírito Santo.
Acusação
Segundo Mazzoni, a participação da empreiteira nas irregularidades não foi marginal.
"A construtora Camargo Corrêa teve atuação inconteste nas
irregularidades verificadas,
sendo sua principal incentivadora e beneficiária", escreveu
na ação de improbidade.
O recurso foi desviado na
gestão do prefeito Parsifal Pontes (PMDB), que hoje é deputado estadual e líder do partido
no Pará. Ele queria fazer uma
obra na orla do município, às
margens do rio onde está a hidrelétrica. Sabia da existência
de uma verba do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), que
era específica para as eclusas,
mas que estava parada por falta
de um projeto específico.
O prefeito apresentou, então,
um projeto tentando vincular a
obra que queria ao projeto das
eclusas. O órgão negou, alegando que não havia conexão entre
as eclusas e as obras urbanas.
O prefeito abriu licitação para realizar a obra na cidade e a
vencedora foi a Camargo Corrêa. "Ele voltou ao Dnit, agora
com um grande licitante, e conseguiu a liberação do dinheiro.
Isso não existe, inverte a ordem
das coisas. Entendemos que a
licitação foi dirigida. Primeiro,
escolheram o licitante, depois
liberaram a verba pública.
Houve uma manifestação do
Tribunal de Contas da União,
que condenou essa prática",
afirma o procurador.
A empresa diz em nota que
"os questionamentos do TCU
estão sendo devidamente esclarecidos para demonstrar a
plena regularidade da obra".
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