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TRE teme influência do crime organizado
Para o desembargador Luiz Carlos Santini, de MS, facções criminosas podem tentar direcionar votos de presos provisórios
Diretor do TRE-RS afirma que taxa de abstenção entre os presos é alta; votação
é similar à do restante do eleitorado, diz promotora
DA AGÊNCIA FOLHA
A convivência entre presos
provisórios e condenados, realidade na maioria dos presídios
brasileiros, aumenta o risco de
que facções criminosas tentem
direcionar os votos dos detentos aptos a votar nas eleições.
A opinião é do desembargador Luiz Carlos Santini, 67,
presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do
Sul. Para ele, o risco se deve à
constatação de que "atualmente, infelizmente, todos os tipos
de presos convivem juntos".
A resolução que determina a
instalação de seções eleitorais
em presídios para os presos
provisórios foi aprovada em 2
de março pelo TSE (Tribunal
Superior Eleitoral).
"Como professor de ciências
políticas, penso que pode haver
a possibilidade de os presos
provisórios serem "pressionados" por presos já condenados
em definitivo, ou até de outros
que façam parte destas facções
criminosas, no sentido de votarem num determinado candidato", disse Santini, em entrevista à Folha por e-mail.
Em entrevista publicada na
última quinta, temor semelhante já havia sido admitido à
reportagem por magistrados
como o juiz Alberto Anderson
Filho, do 1º Tribunal do Júri de
São Paulo, responsável pela
condenação de líderes do PCC.
Insegurança
Para o presidente do TRE-MS, outra dificuldade a ser enfrentada é a garantia da "completa segurança das pessoas
que irão trabalhar como mesários nessas seções especiais". O
Estado tem um histórico de rebeliões em suas unidades.
As preocupações não são
unanimidade. Dirigentes da
Justiça Eleitoral e do Ministério Público do Rio Grande do
Sul ouvidos pela Folha se mostraram céticos quanto ao risco
de criação de um "curral eleitoral" para o crime organizado.
Tanto o universo de presos
provisórios é pequeno (0,09%
do eleitorado gaúcho), dizem
eles, quanto a abstenção é alta:
entre 40% e 65% dos eleitores
cadastrados em seções abertas
de forma experimental em dois
presídios de Porto Alegre em
2006 e 2008 não foram votar.
Abstenção alta
"A abstenção é tão alta assim
porque as pessoas conseguem a
liberdade ou são condenadas
definitivamente. Quem sai do
presídio antes da eleição não
volta para votar por razões de
segurança", afirma o diretor-geral do TRE-RS, Antônio Portinho da Cunha. O resultado
dessas votações experimentais,
segundo a promotora Cynthia
Jappur, "não diferiu muito do
restante da sociedade".
O juiz Marcelo Loureiro,
coordenador da Vara de Execuções Penais do Espírito Santo,
disse que o risco de interferência existe, mas ponderou que é
dever do Estado garantir o direito de voto dos presos provisórios. A Constituição só barra
os direitos políticos de quem é
condenado em definitivo.
"Teoricamente existe [o risco
de eleger pessoas ligadas a criminosos]. Mas as pessoas têm o
direito de escolher em quem
votar", declarou o juiz, que lembrou que também há pressões
fora das prisões.
O secretário da Justiça do Espírito Santo, Ângelo Roncalli,
disse não ver possibilidade de
os presos viabilizarem a vitória
de criminosos porque a população carcerária é uma parcela
muito pequena do eleitorado.
"É um passo importante para
dar visibilidade à população
carcerária e incluí-las nas políticas públicas", disse.
A Folha apurou que, na Bahia, os juízes consideram "difícil" a transferência dos títulos
eleitorais de todos os detentos
para as seções a serem instaladas nos presídios até 5 de maio,
prazo final previsto em lei. Como o local de votação do eleitor
não pode ser modificado após
essa data, os juízes não sabem
como resolver a votação dos
presos que forem libertados ou
transferidos até a eleição.
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