São Paulo, domingo, 28 de abril de 2002

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ELEIÇÃO ENGESSADA

Sondagem entre pefelistas vetou tucano; Bornhausen levará a FHC proposta para recompor aliança

Sem Serra, PFL aceita ceder vice ao PMDB

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Contabilizados os números de uma pesquisa respondida por 118 dos 125 senadores e deputados do PFL, o presidente da sigla, Jorge Bornhausen (SC), fez questão de mostrar os resultados em primeira mão para dois tucanos, o ex-governador Tasso Jereissati (CE) e o presidente da Câmara, Aécio Neves (MG). A reação dos dois foi idêntica: riram.
Tasso e Aécio, nessa ordem, são as opções do PFL no PSDB para recompor uma aliança eleitoral com o governo na eleição presidencial de outubro.
Na pesquisa, 90% dos entrevistados responderam "sim" à pergunta: "Se o PSDB mudasse de candidato teria seu apoio?"
A pesquisa é mais um lance da guerra de guerrilha a que se dedica a cúpula pefelista contra a pré-candidatura ao Planalto do senador José Serra (SP) pelo PSDB. "Se mudar, estamos prontos para examinar [a reconciliação eleitoral]", diz Bornhausen.
Ele deve levar o resultado da pesquisa ainda nesta semana ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Na conversa com FHC, Bornhausen vai reiterar que o PFL está disposto a abrir mão do candidato a vice-presidente na chapa em favor do PMDB se Tasso for o candidato dos tucanos.
A chapa ideal na cabeça da cúpula pefelista seria formada por Tasso, que é nordestino, e Michel Temer, o presidente peemedebista, que é de São Paulo.
Bornhausen já sondou FHC nessa direção, na última conversa entre os dois. Em outra ocasião, pediu para Tasso dizer ao presidente que o PFL apoiaria uma chapa como essa. Os dois, Bornhausen e Tasso, têm a mesma avaliação: a maior dificuldade na tarefa para remover Serra é FHC, que está fechado com o tucano paulista.
A cúpula pefelista não se dá por vencida, apesar dos sinais dados por parcelas do partido, principalmente os governadores estaduais, de que vão apoiar Serra. Uma outra emboscada já está sendo planejada na guerra para desgastar o tucano.
Trata-se da convocação feita por uma comissão da Câmara para o ministro Barjas Negri, que substituiu Serra na Saúde, explicar o contrato com uma empresa de contra-espionagem, a Fence Consultoria. O PSDB, até agora, tem conseguido impedir a audiência com o ministro.
Se ele não depuser, o PFL pretende utilizar os comerciais de TV do partido para dizer que o Ministério da Saúde desviou dinheiro de combate à dengue para fazer espionagem. O contrato da Fence com a Saúde, para 2002, é de R$ 1,8 milhão.
Num jantar marcado para esta segunda-feira no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Marco Maciel, e na conversa com FHC, Bornhausen pretende ressaltar outros aspectos da pesquisa feita entre os congressistas do PFL.
Exemplo: nenhum congressista de Pernambuco, São Paulo e Paraná está entre os seis votos dados a Serra na pesquisa. O apoio do PFL a Serra nesses Estados é dado como certo na campanha do tucano. "Todo esse pessoal quer mudança", diz Bornhausen.

90% de "sim"
O questionário aplicado aos congressistas do PFL foi cuidadosamente pensado. Foram três perguntas, mas a que importava mesmo era a última: "Se o PSDB mudasse de candidato teria seu apoio?". A cúpula pefelista sabia de antemão que teria a resposta desejada, 90% de "sim".
O PFL só deve decidir que rumo tomar no final de maio. Até lá, espera que a campanha de desgaste de Serra leve o tucano a perder pontos nas pesquisas, o que poderia abalar a firmeza de FHC na defesa de seu candidato. Outra aposta é que o tucano tropece nas negociações com o PMDB para a formação de uma aliança.
Espécie de guru da cúpula pefelista, o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Guilherme Palmeira avalia que o tucano terá muitas dificuldades para fechar com o PMDB. Isso poderia ser fatal para sua candidatura. Mas o líder na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), jogou a tolha: "O jogo está jogado. Não haverá mais mudança. De zero a 1 milhão, a chance de o Serra sair é zero".


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