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ELEIÇÃO ENGESSADA
Em segundo lugar nas pesquisas, tucano entra em atrito com publicitário e sofre pressões de PSDB, PMDB e PFL
Candidatura Serra vive impasse político
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do segundo lugar nas
pesquisas, marca conquistada antes do planejado, a campanha do
pré-candidato tucano ao Planalto,
José Serra, está em crise.
Nos últimos dias, Serra entrou
em atrito com o publicitário Nelson Biondi. Deixou sem respaldo
o coordenador de campanha, Pimenta da Veiga. Sofreu pressão
para engolir as indicações de vice
do PMDB. Viu crescer a articulação do PFL para derrubá-lo. E reclamou do presidente Fernando
Henrique Cardoso e do ministro
da Fazenda, Pedro Malan, seu antigo desafeto, por quem foi indiretamente atacado.
O tucano voltou até a ter maior
preocupação com a segurança,
coisa que só ocorreu no Ministério da Saúde, num período em
que a Polícia Federal fez um trabalho de proteção especial devido
a ameaças que Serra sofreu por
contrariar interesses da indústria
farmacêutica.
Em meio a tantos problemas,
dirigentes do PSDB e os aliados
peemedebistas estão preocupados com a viabilidade de Serra.
Avaliam que é o candidato quem
tem causado mais problemas e
começam a temer que ele não
chegue ao segundo turno. No
PSDB, brinca-se que, nessa batida, Serra acabará criando uma
torcida organizada contra ele.
Por ora, apesar de uma crítica
aqui e uma maldade ali, é o presidente Fernando Henrique Cardoso quem tem segurado Serra, ajudando-o a vencer obstáculos.
Campanha
Sempre cordato, o publicitário
Nelson Biondi discutiu recentemente com Serra, que criticou a
formulação da campanha, especialmente as gravações de TV para programas estaduais tucanos.
Biondi confidenciou a amigos
que seu tapete está sendo puxado.
Achou exagerado o ataque de Serra e viu no episódio o dedo do publicitário Nizan Guanaes, interlocutor frequente de Fernando
Henrique Cardoso e crítico da
campanha serrista.
Biondi está certo. FHC, que tenta desde o final de 2001 emplacar
Nizan na campanha de Serra, disse ao pré-candidato tucano na terça que ele precisa trocar de marqueteiro ou dar um jeito de ouvir
mais o publicitário baiano.
FHC disse a Serra o que Nizan
fala em conversas reservadas: nesse ritmo, dificilmente Lula perderá a eleição. Para Nizan, a campanha de Serra está perdida, parecendo as do petista em 1994 e
1998. Haveria também gente demais mandando. Leia-se: seria
ineficaz o colégio de marqueteiros
sob a coordenação de Biondi.
Teve efeito a pressão de FHC.
Nizan e Serra conversaram amigavelmente na última quarta, em
uma festa brasiliense. Os dois, que
se odiavam pela fracassada campanha à Prefeitura de São Paulo,
melhoraram a relação.
Agora, falta arrumar o jeito de
levar Nizan para a campanha.
Biondi até aceita colaboração,
mas o publicitário baiano só topa
se for para ser o manda-chuva.
Ninho desarrumado
Depois de ter seus conselhos ignorados na crise entre o PSDB e o
PFL no episódio Lunus, caso que
sepultou a pré-candidatura presidencial da pefelista Roseana Sarney, Pimenta está sem poder.
Um tucano disse ao pré-candidato que falaria com Pimenta para resolver uma divergência regional entre PMDB e PSDB. Mas
Serra desautorizou o coordenador, dizendo que problemas assim serão resolvidos diretamente
por ele e mais ninguém. O episódio vazou e magoou Pimenta.
O coordenador de campanha
sofre críticas da ala "PC", uma referência a tucanos que pertenceram ao antigo Partido Comunista,
por estar procurando líderes do
PFL. Para essa ala, não interessa
uma aliança oficial com os pefelistas, mas apenas o apoio de algumas seções estaduais.
Para a turma do "PC", composta de pessoas como o prefeito de
Vitória, Luiz Paulo Velloso Lucas,
o deputado federal Alberto Goldman (SP) e o assessor de imprensa Milton Coelho da Graça, reatar
com o PFL é dar uma marca de direita à candidatura. O interessante, crê esse grupo, é ter o PFL como satélite da aliança PSDB-PMDB.
Inimigos e aliados
Enquanto Pimenta namora o
PFL, dirigentes do partido trabalham freneticamente para substituir Serra por outro tucano, o presidente da Câmara, deputado Aécio Neves (MG), ou o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati
(CE). A chapa está até pronta. O
PFL topa abrir mão da vice para o
PMDB indicar para a vaga, por
exemplo, o presidente do partido,
deputado Michel Temer (SP).
Essa hipótese é remota, mas tem
enfurecido Serra e auxiliares. O
grande trunfo para resistir a essa
pressão é o presidente Fernando
Henrique Cardoso, fechado com
o pré-candidato. Aécio e Tasso,
por exemplo, disseram a pefelistas e até a peemedebistas que os
procuraram que acham dificílima
a substituição de Serra.
Além de FHC, a maioria da cúpula do PMDB ainda está com
Serra, apesar de contrariada com
o veto dele aos dois preferidos pela direção para vice: o deputado
federal Henrique Eduardo Alves
(RN), favorito, e o ex-prefeito de
Joinville (SC) Luiz Henrique.
Pressionado por FHC e pelo
PMDB, partido que ameaçou não
selar a aliança na convenção oficial de junho se Serra insistisse em
ter como vice o senador Pedro Simon (RS) ou a deputada federal
Rita Camata (ES), o pré-candidato tucano cedeu. A contragosto,
deverá engolir um dos indicados
pela cúpula do partido.
Mas essa refrega deixou mágoas
na cúpula do PMDB, que se sentiu
menosprezada. Esse grupo bancou a reeleição de FHC, o apoio ao
governo e deseja fechar a aliança
com Serra. A mando do pré-candidato, serristas como Goldman e
o líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Magalhães (BA),
tentaram persuadir peemedebistas a aceitar Simon ou Camata.
Jutahy ouviu um sonoro não do
líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Os peemedebistas fecharam um acordo: só
tratam do caso com Serra ou com
Fernando Henrique Cardoso.
Na quinta, circulou no tucanato
que, depois de tentar falar com
Serra inúmeras vezes e ser muito
bem recebido por uma assessora,
Arthur Virgílio perdeu a paciência e enviou ao gabinete uma carta
reclamando da descortesia.
Virgílio nega ter criticado Serra.
"Foi um documento com informações sobre o Amazonas, para
ele gravar um programa de TV.
Houve uma dificuldade da minha
assessoria com a assessoria dele
para marcar um compromisso
com evangélicos, o que acabou
acontecendo. Não sou muito próximo do Serra, mas ele é o meu
candidato e vou trabalhar por
ele", disse Virgílio.
Mas o documento de Virgílio virou fofoca no tucanato, como se
fosse um exemplo da falta de habilidade de Serra para lidar até
com pedidos de companheiros.
Afinidades eletivas
Com aval de FHC, Malan bateu
duro em Serra. Na terça, cobrou
do candidato "um maior grau de
afinidades eletivas com o que este
governo veio tentando fazer ao
longo dos últimos sete anos".
Tomando emprestado o título
do livro "As Afinidades Eletivas",
do escritor alemão Johann Wolfgang Goethe (1749-1832), Malan
deu uma resposta indireta às críticas que Serra tem feito à política
econômica do governo.
Para FHC, Serra exagerou ao
defender a volta da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e ao expressar publicamente discordâncias em relação aos aumentos da gasolina.
Na avaliação de FHC, Serra teme
perder a segunda posição nas pesquisas para Anthony Garotinho
(PSB). O tucano, que tem boa
marca nos levantamentos, acha
que parou de crescer devido às
más notícias na economia.
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