|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RAIO-X - CIRO GOMES
Gestão de quatro meses foi marcada por confrontos verbais com empresários
À frente da Fazenda, ex-tucano promoveu "abertura radical"
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ministro da Fazenda por menos
de quatro meses em 1994, Ciro
Gomes teve uma gestão controversa à frente da economia do
país. Sua medida de maior impacto foi a redução de tarifa de importação de 445 produtos.
Para críticos, como o pré-candidato do PSDB ao Planalto, José
Serra, foi uma ação que prejudicou a indústria brasileira. Ciro diz
que foi necessário para controlar
a inflação e "foi definida coletivamente com a equipe econômica".
O fato é que naquele período o
país foi inundado por itens antes
vistos apenas em supermercados
de países desenvolvidos. Batatas
fritas importadas e automóveis fizeram a festa da classe média, que
teve acesso a esses produtos por
conta do real sobrevalorizado.
Consideradas as datas em que
tomou posse -8 de setembro,
quando recebeu o Ministério da
Fazenda de Rubens Ricupero- e
a em que entregou a pasta -1º de
janeiro de 1995, a Pedro Malan-,
Ciro ficou exatos 116 dias comandando a economia do país.
Foi convidado quando tinha
apenas 36 anos e era governador
do Ceará. Estava filiado ao PSDB.
Era uma situação de emergência. Rubens Ricupero perdeu o
posto depois de ter uma conversa
captada por antenas parabólicas.
O ministro falava sobre como poderia ajudar a campanha do candidato tucano ao Planalto em 94,
Fernando Henrique Cardoso.
Ciro assumiu o posto, segundo
relata, "depois de uma conversa"
que teve com FHC. "Foi por telefone. Ele estava em Porto Alegre.
Implorou para que eu aceitasse."
A característica mais marcante
da gestão, depois da redução de
tarifas, foi sua verve contra o empresariado. "Estou pouco ligando
para o apoio deles", dizia.
Assumiu dizendo que eram necessárias "porradas" para derrubar a inflação. Chamou de "otários" os consumidores que pagavam ágio na compra de carros.
Sua função era a de ser comunicador e coordenador da equipe
econômica. O núcleo do time que
fez o Plano Real continuava no
poder. Ciro participava do processo decisório.
"Além das decisões serem tomadas de forma coletiva, tudo era
comunicado a Fernando Henrique. Falava ao telefone diariamente com o Fernando Henrique
e dizia que tudo dependia de
ações dele mais à frente. Nosso
objetivo era salvar o Plano Real."
Segundo o ex-ministro, a economia passava por uma encruzilhada, com a explosão de demanda por causa da moeda forte. A inflação poderia sair do controle e o
plano econômico fracassaria. Por
essa razão que as tarifas de importação tiveram de ser reduzidas.
"Na equipe econômica, a idéia
era reduzir tudo a zero. Fui contra. Apenas um integrante da
equipe era contra também: Winston Fritsch [então secretário de
Política Econômica]", relata Ciro.
Para o presidenciável do PPS,
"tudo que estava sendo feito pressupunha novas ações que seriam
tomadas pelo governo que entrava no ano seguinte". Na visão de
Ciro, essas medidas incluíam a
venda de estatais para diminuir a
dívida pública e as reformas tributária e da Previdência.
Os efeitos negativos da redução
de tarifas de importação e da sobrevalorização do real, segundo
ele, só ficaram mais evidentes
porque o governo FHC não teria
dado seguimento ao programa.
"Priorizaram a reeleição e tinham de garantir a popularidade
fácil", diz. Ciro gosta de repetir
que entregou o Ministério da Fazenda "com dívida pública da ordem de R$ 61 bilhões,que hoje já
está na casa dos R$ 700 bilhões".
Apesar das críticas, em dezembro de 94, o ex-ministro saudou o
eleito FHC como "o político vivo
que tem maiores atributos". Logo
depois, romperam. "Percebi que
o rumo tinha mudado", diz.
Texto Anterior: Saúde foi prioridade de governo Próximo Texto: Isto é Ciro Índice
|