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Ciro expõe de forma clara pensamento volúvel
GUSTAVO PATÚ
SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO
A qualidade mais inegável de
Ciro Gomes é a transparência de
seu pensamento. Desde que surgiu no cenário nacional, na década de 90, o ex-governador e ex-ministro da Fazenda nunca fugiu
de temas desconfortáveis nem foi
evasivo para evitar desagradar a
seus interlocutores.
Parece dispensar conselhos de
marqueteiros e não busca a popularidade fácil. Diz de si mesmo
que não teme conflitos. Com ajuda da boa oratória, construiu fama de comunicador eficiente.
Há mais de sete anos sem ocupar um cargo público, há quase
cinco num partido pouco provido
de quadros de expressão nacional, sem ligação com setores empresariais ou sindicais, Ciro se
tornou um político que representa, basicamente, suas próprias
idéias.
A bordo desse estilo, muitas vezes agressivo e personalista, Ciro
foi um entusiasmado defensor do
projeto que elegeu Fernando
Henrique Cardoso, passou a ser a
mais barulhenta dissidência do
governo tucano e acabou na oposição sem, no entanto, contar com
a confiança de seus potenciais
aliados à esquerda.
Suas características e sua trajetória -que não inclui a revisão de
idéias passadas- o tornam alvo
fácil dos que buscam inconsistências em seus discursos e posições.
Afinal, ele diz ter rompido com
o governo devido à suposta traição, por parte de FHC, dos compromissos originais do Plano Real
-as reformas que recriariam o
Estado brasileiro. E hoje se encontra unido a forças que combateram, desde o início, o Real e os tais
compromissos.
Teve de contorcer sua defesa do
fim do getulismo, dos tempos de
Fazenda, para adaptá-la à atual
aliança com o PDT e o PTB, autoproclamados herdeiros do trabalhismo de Getúlio Vargas -que,
aliás, dá nome à frente com o PPS
de Ciro.
E terá de ver sempre lembrados,
lado a lado, os elogios e ataques
que fez, com igual veemência, a figuras como José Serra, Pedro Malan, Antonio Carlos Magalhães e o
próprio FHC.
Justiça seja feita a Ciro, suas
propostas para o país mudam
menos que suas opiniões sobre
seus aliados e adversários políticos, embora muitas delas ainda
demandem mais explicações.
Proposta polêmica
É o caso da mais polêmica de todas, a proposta que prevê alongar
o prazo da dívida interna federal,
frequentemente interpretada
-erroneamente, diz o presidenciável- como um calote ou um
confisco ao estilo do Plano Collor.
Quando lançou a idéia, em 99,
disse que negociaria uma troca
dos títulos da dívida federal, que
servem de base para que os bancos ofereçam aplicações como os
fundos de renda fixa, por papéis
de prazo mais longo.
Prometeu que não imporia condições, mas admitiu que não daria
aos credores opção que não fosse
a renegociação: "Não posso sentar à mesa com a porta aberta".
Dois anos depois, reconheceu
sua proposta na renegociação da
dívida argentina conduzida pelo
ex-ministro Domingo Cavallo
com apoio conformado do FMI.
A estratégia de Cavallo, contudo,
fracassou, e a Argentina acabou
decretando moratória e confisco
de depósitos bancários.
Já o programa preliminar de governo de Ciro fala apenas em
"aprofundar a política atual de
alongamento dos prazos da dívida interna".
O ideário
Coordenado pelo filósofo Roberto Mangabeira Unger, parceiro intelectual de Ciro, o programa
"Desenvolvimento com Justiça"
se baseia em princípios e conceitos, mas ainda assim é mais detalhado que a média dos apresentados pelos demais presidenciáveis.
Lá estão duas das propostas
mais caras a Ciro: 1) uma reforma
dos impostos que tribute mais o
consumo e menos a produção; e
2) uma reforma da Previdência
mais radical que a de FHC.
Ambas dependem de um amplo
apoio do Congresso e têm o propósito de elevar a poupança do
país para reduzir a dependência
em relação ao capital externo.
É dessa forma que Ciro pretende reduzir os juros (hoje altos para atrair investimento estrangeiro) e permitir a retomada do crescimento -o objetivo final que é
unanimidade entre os candidatos
ao Planalto.
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