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DIPLOMACIA
Descontente com aprovação apertada no Senado, ex-presidente recusa cargo; Lula considera "missão cumprida"
Itamar desiste de embaixada em Roma
KENNEDY ALENCAR
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Missão cumprida" foi a expressão que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva usou ao tomar conhecimento da carta enviada pelo
ex-presidente Itamar Franco ao
Ministério das Relações Exteriores desistindo de sua indicação
para embaixador em Roma. O
presidente já pensa até na indicação do jornalista Márcio Moreira
Alves para a vaga.
Segundo a Folha apurou, Lula
ficou contrariado com Itamar. Ele
não pretende fazer nenhum gesto
para que o ex-presidente reconsidere sua desistência.
O Ministério das Relações Exteriores confirmou ontem a desistência de Itamar, cuja nomeação
havia sido aprovada pelo Senado
no início do mês. O ex-presidente
se disse magoado com o placar
apertado -foram 29 votos a favor, 25 contra e 2 abstenções.
Em carta encaminhada ao ministro Celso Amorim (Relações
Exteriores) no final da tarde de
sexta-feira, Itamar afirma que as
circunstâncias de sua aprovação o
"obrigam a não aceitar a indicação" e que "a aceitação envolveria
grave constrangimento".
O ex-governador cita sua participação em missões internacionais em Portugal e nos Estados
Unidos, durante o governo Fernando Henrique Cardoso
(PSDB), para criticar a postura
dos senadores.
"Alguns poucos insistem em
transformar a aprovação do embaixador do Brasil na Itália em
atos de repercussões políticas, éticas e imorais inaceitáveis por
quem jamais compactua com este
tipo de ação mesquinha e torpe.
As injunções e interesses pessoais
não haverão de prevalecer", escreveu ao chanceler.
A carta é datada de 16 de abril
(dia da aprovação no Senado) e
foi encaminhada diretamente a
Amorim após reuniões com colaboradores.
Com a desistência de Itamar,
Lula resolve um problema político em relação à embaixada do
Brasil em Lisboa, posto disputado
pelo ex-deputado federal Paes de
Andrade (PMDB-CE) e pelo jornalista Márcio Moreira Alves.
Agora, Lula estuda enviar Paes
para Portugal e Alves para a Itália.
Alves foi deputado cassado pelo
regime militar de 64. Um discurso
dele foi a gota d'água para os militares editarem o AI-5 (Ato Institucional Número 5) em dezembro de 1968, dando início à fase
mais dura do regime.
Segundo a assessoria do Itamaraty não houve, nos últimos 20
anos, desistência de embaixadores convidados, como Itamar. Os
casos mais comuns de desistência
acontecem com embaixadores de
carreira. Outro caso é a desistência quando o indicado toma posse
em outro cargo público, como
ministro de Estado.
Itamar tem um retrospecto conturbado em suas passagens por
funções diplomáticas. Em 1995,
foi nomeado embaixador do Brasil em Portugal, mas exerceu o
cargo por apenas 137 dias. Em setembro de 96, assumiu o posto de
embaixador do Brasil na Organização dos Estados Americanos
(OEA), mas renunciou ao cargo
em novembro de 97.
Colaborou a Agência Folha
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