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DIVISÃO NO SOCIAL
Vitrine do governo fica fora da unificação de programas compensatórios
"Cesta social" de Lula exclui Fome Zero
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Fome Zero ficou de fora, pelo
menos por enquanto, do plano de
unificar todos os programas de
transferência de renda do governo num só cartão magnético.
Se nada mudar, isso é um golpe
na tentativa de "focalizar" as
ações sociais. A expressão vem
sendo usada pela equipe econômica para designar ações que tragam mais eficácia para o setor. E a
união dos programas é a base dessa idéia.
A equipe designada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para trabalhar na unificação dos
programas de transferência de
renda chegou a incluir o Fome Zero na "cesta social" que será apresentada na próxima reunião da
Câmara de Política Social, em
maio, mas desistiu, embora o programa repasse R$ 50 mensais às
famílias beneficiadas.
A inclusão do Fome Zero na
"cesta social" -e a forma como
isso será feito- depende mais de
decisão política do que técnica, já
que Lula associou a imagem do
seu governo na área social à marca do programa. Isso indica que a
palavra final será de Lula, assessorado por seus auxiliares mais próximos: José Dirceu (Casa Civil),
Luiz Gushiken (Gestão Estratégica) e Antonio Palocci (Fazenda).
A decisão de excluir o Fome Zero é incompatível com a idéia de
"focalização" defendida por Palocci, segundo a qual o governo
caminha na direção de unificar os
programas de transferência de
renda, beneficiar os que mais precisam e avaliar se as ações estão
auxiliando as famílias a romper o
ciclo de pobreza.
Discursos e intenções à parte, o
que está fechado é apenas a unificação das bolsas: escola, alimentação e renda, do Vale-Gás e do
Agente Jovem. Até o Primeiro
Emprego, que teve a data de lançamento (1º de maio) suspensa, já
integra a nova proposta.
O cartão-alimentação, ferramenta de transferência de renda
do principal programa social do
governo, não está incluído. "Essa
é a focalização possível de se fazer
no momento", disse um membro
da cúpula da área social.
A proposta que será levada à
Câmara de Política Social funciona da seguinte forma: as famílias
beneficiadas receberão um piso
mensal, cujo valor ainda não está
fechado, mas que deverá ficar
perto de R$ 50.
As famílias que tiverem filhos de
7 a 14 anos na escola, gestantes e
crianças desnutridas receberão
mais dinheiro. A contrapartida
das famílias é a manutenção de
todos os filhos na escola e a frequência nos postos de saúde. Os
jovens entre 16 e 24 anos dessas
famílias terão prioridade de participar do Primeiro Emprego. A
proposta está sendo alvo de várias
simulações financeiras para assegurar que o governo tenha como
bancá-la com o dinheiro reservado no Orçamento deste ano para
a área social.
Se o Fome Zero ficar de fora da
unificação, as famílias que receberem o cartão-alimentação não receberão outros programas? Ou
vão receber benefício duplo? Durante a semana, a Folha perguntou isso a três ministros da área
social e a dois secretários-executivos de ministérios ligados diretamente ao assunto. Ninguém soube responder. Mas Lula já aprovou a unificação.
A divergência técnica entre o
Fome Zero e a "cesta social" restringe-se apenas às contrapartidas. Graziano (Segurança Alimentar) é contra vincular os R$
50 do cartão-alimentação à obrigatoriedade de frequência escolar
ou acompanhamento de saúde.
"A contrapartida do cartão-alimentação é comer," diz a assessoria do ministro.
Alternativa
Na quinta-feira passada, em audiência conjunta das comissões
de Fiscalização e Controle e Seguridade Social da Câmara dos Deputados, Graziano falou sobre sua
proposta de unificação dos programas: os R$ 50 do cartão-alimentação seriam a base da política de transferência de renda. Dependendo do perfil das famílias- a existência de filhos em
idade escolar, de gestantes e desnutridos-, elas receberiam recursos adicionais.
A "contrapartida" - que é a
matrícula e a frequência nos postos de saúde- incidiria apenas
sobre o adicional pago sobre os
R$ 50 do cartão-alimentação.
Pela proposta de Graziano,
quem recebe apenas R$ 50 não
precisa fazer nada além de comprar alimentos. Quem receber
mais do que isso por ter filhos em
idade escolar precisará mantê-los
estudando. Já quem receber mais
por ter gestantes ou desnutridos
na família, terá de manter a assiduidade no posto de saúde.
Sem o Fome Zero na "cesta social" será mantido o caminho da
fragmentação dos programas sociais, que vem sendo criticado por
autoridades da área econômica.
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