São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2004

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DISPUTA FEDERATIVA

Em troca de renegociar dívidas, governadores vão tentar

Estados agora querem fim de contribuição

KENNEDY ALENCAR
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Governadores, especialmente do PSDB, já preparam um "plano B" para tentar "trocar" a renegociação de dívidas dos Estados, pleito que o Palácio do Planalto se recusa a atender, pelo fim da cobrança do Pasep (Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público).
Ao mesmo tempo, o Palácio do Planalto desencadeou articulação específica com os seis governadores do PMDB e a cúpula do partido aliado para que desistam de insistir na revisão do cálculo da receita líqüida real dos Estados -tema incômodo para Lula por embutir renegociação indireta de dívidas com a União.
Hoje, as parcelas das dívidas dos Estados com a União são definidas de acordo com os percentuais de receita líqüida -na maioria dos casos, de 11% a 15%.

Rosinha e Requião
Os governadores do PMDB, especialmente Rosinha Matheus, do Rio de Janeiro, e Roberto Requião, do Paraná, foram os que mais dificultaram a vida do governo federal na reunião dos governadores anteontem em Brasília. Os dois insistiram na renegociação de dívidas dos Estados, mas uma ação conjunta de governadores aliados e do PSDB amenizou tal cobrança.
Agora, o Palácio do Planalto, por meio dos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política), acionou a cúpula do PMDB e até alguns governadores diretamente. Dirceu, por exemplo, ficou encarregado de lidar com Requião.
Apesar de a articulação do governo ter conseguido esvaziar o impacto negativo da reunião dos governadores, a pressão sobre o Planalto continua. Exemplo: a única vez em que o "presidente da República" apareceu citado na nota oficial dos governadores foi justamente no ponto sobre reunião futura para discutir o conceito de receita líqüida real.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), defende o fim da cobrança do Pasep sobre Estados e municípios -contribuição de 1% sobre a folha de pagamento dos servidores de todos os órgãos públicos.
"Não faz mais sentido esse tipo de cobrança. Desse dinheiro, 60% vão financiar o seguro-desemprego. O restante vai para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Não cabe a Estados e municípios financiar o BNDES", diz Alckmin.
Segundo o governador paulista, seu Estado pagou R$ 513,2 milhões à União em 2003 por conta do Pasep, uma contribuição federal. Isso dá mais ou menos 10% do desembolso anual de São Paulo com a dívida com a União. Alckmin argumenta que, como a arrecadação federal aumentou e a dos Estados caiu, a União teria como fazer concessões.
"O fim da cobrança do Pasep pode ser uma boa saída", afirma o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), que paga R$ 200 milhões por ano de Pasep.

Reuniões com Lula
Segundo o governador Jorge Viana (PT-AC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não marcou uma nova reunião com os governadores. "Acho que ela vai acontecer no final de maio, quando o presidente voltar da China. Estamos restabelecendo um diálogo bom para o país."
Viana esteve ainda na noite de anteontem com o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) para levar a nota dos Estados e acertar a data da nova reunião.
"Há uma certa tensão entre os governadores e o Palácio do Planalto, mas acredito que vamos chegar a um entendimento", emendou o governador do Ceará, Lúcio Alcântara (PSDB), eleito pelos colegas como coordenador da última e da próxima reunião dos governadores.
O presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), disse ontem que o "primeiro passo" do partido é buscar o entendimento com o governo federal por meio de uma conversa com Lula. O "segundo passo" é ir à Justiça na hipótese de insucesso com Lula.
"Nossa idéia é antecipar uma reunião com o presidente Lula apenas com os governadores do PMDB. De preferência antes da outra [com todos os governadores do país]."
Segundo ele, tal iniciativa, se necessária, não "afetaria" as relações do PMDB com o governo no Congresso.


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