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DISPUTA FEDERATIVA
Em troca de renegociar dívidas, governadores vão tentar
Estados agora querem fim
de contribuição
KENNEDY ALENCAR
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Governadores, especialmente
do PSDB, já preparam um "plano
B" para tentar "trocar" a renegociação de dívidas dos Estados,
pleito que o Palácio do Planalto se
recusa a atender, pelo fim da cobrança do Pasep (Programa de
Formação do Patrimônio do Servidor Público).
Ao mesmo tempo, o Palácio do
Planalto desencadeou articulação
específica com os seis governadores do PMDB e a cúpula do partido aliado para que desistam de insistir na revisão do cálculo da receita líqüida real dos Estados
-tema incômodo para Lula por
embutir renegociação indireta de
dívidas com a União.
Hoje, as parcelas das dívidas dos
Estados com a União são definidas de acordo com os percentuais
de receita líqüida -na maioria
dos casos, de 11% a 15%.
Rosinha e Requião
Os governadores do PMDB, especialmente Rosinha Matheus, do
Rio de Janeiro, e Roberto Requião, do Paraná, foram os que
mais dificultaram a vida do governo federal na reunião dos governadores anteontem em Brasília.
Os dois insistiram na renegociação de dívidas dos Estados, mas
uma ação conjunta de governadores aliados e do PSDB amenizou tal cobrança.
Agora, o Palácio do Planalto,
por meio dos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo
(Coordenação Política), acionou
a cúpula do PMDB e até alguns
governadores diretamente. Dirceu, por exemplo, ficou encarregado de lidar com Requião.
Apesar de a articulação do governo ter conseguido esvaziar o
impacto negativo da reunião dos
governadores, a pressão sobre o
Planalto continua. Exemplo: a
única vez em que o "presidente da
República" apareceu citado na
nota oficial dos governadores foi
justamente no ponto sobre reunião futura para discutir o conceito de receita líqüida real.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), defende o
fim da cobrança do Pasep sobre
Estados e municípios -contribuição de 1% sobre a folha de pagamento dos servidores de todos
os órgãos públicos.
"Não faz mais sentido esse tipo
de cobrança. Desse dinheiro, 60%
vão financiar o seguro-desemprego. O restante vai para o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Não
cabe a Estados e municípios financiar o BNDES", diz Alckmin.
Segundo o governador paulista,
seu Estado pagou R$ 513,2 milhões à União em 2003 por conta
do Pasep, uma contribuição federal. Isso dá mais ou menos 10% do
desembolso anual de São Paulo
com a dívida com a União. Alckmin argumenta que, como a arrecadação federal aumentou e a dos
Estados caiu, a União teria como
fazer concessões.
"O fim da cobrança do Pasep
pode ser uma boa saída", afirma o
governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), que paga R$ 200 milhões por ano de Pasep.
Reuniões com Lula
Segundo o governador Jorge
Viana (PT-AC), o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ainda não
marcou uma nova reunião com
os governadores. "Acho que ela
vai acontecer no final de maio,
quando o presidente voltar da
China. Estamos restabelecendo
um diálogo bom para o país."
Viana esteve ainda na noite de
anteontem com o ministro Aldo
Rebelo (Coordenação Política)
para levar a nota dos Estados e
acertar a data da nova reunião.
"Há uma certa tensão entre os
governadores e o Palácio do Planalto, mas acredito que vamos
chegar a um entendimento",
emendou o governador do Ceará,
Lúcio Alcântara (PSDB), eleito
pelos colegas como coordenador
da última e da próxima reunião
dos governadores.
O presidente nacional do
PMDB, deputado Michel Temer
(SP), disse ontem que o "primeiro
passo" do partido é buscar o entendimento com o governo federal por meio de uma conversa
com Lula. O "segundo passo" é ir
à Justiça na hipótese de insucesso
com Lula.
"Nossa idéia é antecipar uma
reunião com o presidente Lula
apenas com os governadores do
PMDB. De preferência antes da
outra [com todos os governadores do país]."
Segundo ele, tal iniciativa, se necessária, não "afetaria" as relações
do PMDB com o governo no Congresso.
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