São Paulo, quarta-feira, 28 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AGENDA NEGATIVA

Postos abandonados facilitam tráfico com Peru e Venezuela

Greve leva PF a desativar fiscalização em fronteiras

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Postos de Controle de Fronteiras da Polícia Federal para combater o tráfico de drogas estão desativados na fronteira do Brasil com Venezuela e Peru por conseqüência da greve dos agentes. Na fronteira com a Colômbia, dez postos estão em funcionamento com apenas 10% do efetivo de 150 policiais federais no Amazonas.
A greve dos agentes da PF começou em 9 de março, mês em que o coordenador de Operações Especiais de Fronteiras, delegado Mauro Sposito, planejava ativar numa faixa de fronteira de 2.995 km a Operação Pebra (junção das sílabas iniciais de Peru e Brasil). Sposito também comanda uma operação em curso em Rondônia de combate ao crime organizado.
A Pebra seria a segunda operação permanente na fronteira, a exemplo da Cobra (Colômbia). Em seguida seria ativada a Vebra (Venezuela). "As fronteiras estão sendo mantidas apenas com o efetivo mínimo para tomar conta dos imóveis. Nenhuma operação está sendo realizada desde que estourou a greve", disse Sposito.
"Isso [a greve] fragiliza demais as ações da Polícia Federal no combate ao narcotráfico", declarou. Desde sua implantação, em 2000, a Operação Cobra conseguiu, segundo a PF, reduzir o volume de drogas que circulava na região, de 1.000 kg por ano para 178 kg. "Todo o dispositivo que foi montado e internacionalmente reconhecido está desmobilizado", afirmou o delegado.
Em um dos postos da Operação Cobra de São Gabriel da Cachoeira (858 km a oeste de Manaus), por exemplo, apenas três agentes trabalham. A área é crítica em razão do narcotráfico e de incursões de guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Os três agentes já extrapolaram os 60 dias normais de trabalho no local. Existe um rodízio de agentes entre os postos, mas ontem eles completaram 90 dias de plantão porque não há como substituí-los.
De acordo com o presidente interino do Sinpefam (Sindicato dos Policiais Federais do Amazonas), Júlio César Queiroz, com 98% dos agentes em greve, não dá para fazer rodízio. "A fronteira é um problema sensível, mas estamos confiantes que o governo nos dê uma solução breve", disse.
Desses 98%, segundo Queiroz, 30% trabalham em serviços essenciais para cumprir dispositivo da lei que regula greves no serviço público.
De acordo com Mauro Sposito, o pessoal que trabalha na fronteira é recrutado em outros Estados, já que o combate ao tráfico é uma das prioridades da PF. Na base de Cucuí, perto das fronteiras com Colômbia e Venezuela, por exemplo, dois agentes estavam trabalhando ontem, um destacado do Acre, e outro, do Espírito Santo.
Sposito é o coordenador da fase Mamoré (a segunda) da Operação Rondônia, que foi deflagrada no dia 20 para coibir o crime organizado no Estado. Haverá ainda mais uma fase, desta vez na fronteira com a Bolívia.
Dos 480 homens que atuam na operação, apenas 50 formam o efetivo de agentes federais. Eles foram convocados dentro do percentual de 30%. Para amenizar os impactos da greve numa ação com a Operação Rondônia, a PF conta com o apoio de efetivos do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e da Polícia Rodoviária Federal. Ibama, Funai, Abin também apóiam a operação.


Texto Anterior: Panorâmica - Bolsa-família: CEF deixa de ter o monopólio no pagamento
Próximo Texto: Justiça Federal ordena volta ao trabalho em SP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.