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PRESSÃO AMERICANA
Para presidente, venezuelano pode prejudicar vizinhos
Chávez exagera dose na ação antiamericana, avalia Lula
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva avalia que o seu colega da
Venezuela, Hugo Chávez, está
"ultrapassando os limites", segundo expressão de um auxiliar
do petista, no tensionamento de
sua relação com os Estados Unidos. Para Lula, Chávez pode prejudicar a Venezuela, mas também
os vizinhos, ao estimular hostilidades a Washington no subcontinente latino-americano.
Essas avaliações foram levadas
diretamente a Chávez na última
segunda-feira pelo ministro da
Casa Civil, José Dirceu. Os dois se
reuniram a sós no Palácio Miraflores, em Caracas.
Num gesto que aumentou o ciúme do Itamaraty em relação às
missões de política externa dadas
a Dirceu por Lula, foi excluído da
reunião o embaixador brasileiro
em Caracas, João Carlos Souza
Gomes. A praxe recomendaria a
sua participação.
Para Lula, Chávez errou ao
romper no fim de semana o acordo de cooperação militar com os
EUA de mais de 30 anos. Há duas
versões sobre a menção a esse tema na reunião Dirceu-Chávez.
Na versão do governo, Dirceu
não pediu a Chávez que recuasse
da ruptura para dar uma boa notícia no dia seguinte (terça-feira) à
secretária de Estado dos EUA,
Condoleezza Rice, com quem se
encontraria em Brasília. Dirceu
teria se limitado a dizer que gestos
como aquele não ajudavam.
Outra versão dá conta de que
Dirceu fez um pedido claro a Chávez para que recuasse com o intuito de agradar Condoleezza,
mas o venezuelano teria negado.
Intermediário
Em recente viagem aos EUA,
Dirceu teve um encontro com a
secretária de Estado no qual tratou de Cuba, dizendo que era um
erro o embargo americano contra
a ilha. Ofereceu-se para intermediar uma eventual aproximação.
Para Lula, Dirceu tem o perfil
ideal para tratar de questões relativas a Cuba e a Venezuela. Esteve
exilado em Cuba, onde fez treinamento de guerrilha. É ainda um
dos políticos petistas mais afinados com os antigos grupos que
optaram pela luta armada contra
a ditadura militar de 1964. Ou seja, tem a marca simbólica de combate ao "imperialismo ianque"
tão cara e útil a Chávez.
A membros da cúpula do governo, Dirceu relatou que a conversa
com Chávez foi "boa" e "franca".
Os dois têm boa relação desde
2000, quando o PT, na oposição,
já se alinhava a Chávez no acirrado debate com a oposição venezuelana. Lula também gosta de
Chávez, mas, mais de uma vez,
desaprovou atitudes dele.
"Até a morte"
Em 2003, no seu primeiro ano
de governo, Lula relatou a auxiliares uma conversa com Chávez
que o espantou. Segundo o brasileiro, Chávez disse que iria "até a
morte", se necessário, para se
manter no poder e derrotar a oposição venezuelana.
Lula disse a Chávez que questões políticas não podem ser levadas até a morte. Aos auxiliares,
afirmou: "Fico preocupado com
quem tem uma cabeça assim,
porque pode fazer bobagem".
Para Lula, é positivo no jogo político internacional que o Brasil
seja visto pelos Estados Unidos
como força estabilizadora na
América do Sul. Nesse contexto,
rompantes de Chávez e do argentino Néstor Kirchner contra o
FMI (Fundo Monetário Internacional) só reforçavam a imagem
de responsabilidade que Lula
conquistou internacionalmente.
Mas excessos, principalmente os
de Chávez, preocupam.
O presidente da Venezuela
montou uma milícia de 30 mil soldados diretamente ligada a ele, fez
contrato de mais de US$ 1 bilhão
com a Espanha para comprar armamentos e adquiriu 100 mil fuzis AK-47 da Rússia. Essas ações
desagradaram, por exemplo, à
Colômbia e aos EUA. A Colômbia, por seu lado, acusa a Venezuela de proteger a narcoguerrilha. Os EUA endossam.
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