São Paulo, sábado, 28 de abril de 2007

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Turcão admite ser bicheiro há 67 anos, mas nega participação nos caça-níqueis

DA SUCURSAL DO RIO

Acusado de ser um dos líderes e beneficiários da quadrilha que comprava decisões judiciais, o contraventor Antônio Petrus Kalil, o Turcão, 82, admitiu inicialmente à Polícia Federal ser bicheiro há 67 anos, mas negou atuar na exploração de máquinas caça-níqueis e pagar policiais por informações.
Porém, na quinta-feira, em depoimento à Justiça Federal do Rio, disse que abandonou a contravenção quatro meses atrás. Seguindo a lei do silêncio corrente na contravenção, admitiu conhecer os amigos Aniz Abrahão David, o Anísio, e Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, mas disse não saber se são banqueiros do bicho.
Reconhecer a atuação no jogo do bicho é praticamente irrelevante neste caso, que investiga o contrabando de caça-níqueis e a corrupção de juízes: o bicho é contravenção penal (ato ilícito menos importante que o crime), e não crime.
No seu primeiro depoimento à PF, Turcão acusou o juiz do Trabalho Ernesto Dória de usar seu nome para obter vantagens. Questionado por que Dória o chama de "padrinho", "respondeu que o mesmo usa o seu nome para conseguir benefícios diversos". Na oitiva seguinte, recuou e disse que o juiz o chamava assim devido à intimidade existente entre eles.
Ele contou que conhece Júlio Guimarães, mas não tem vínculos com ele, e ignora a atuação dele na Aberj (Associação dos Administradores de Bingo e Similares do Rio de Janeiro). Disse que não conhece o juiz Ricardo Regueira ou o procurador João Sérgio Leal. Perguntado sobre a razão de reunião com Regueira, "disse que não conhecia o motivo".

"Caixinha"
Ontem prestaram depoimento à Justiça o presidente e o vice-presidente da Aberj, Paulo Roberto Ferreira Lino, e José Renato Granado, e o contraventor Júlio César Guimarães Sobreira. Os três estão presos. Granado e Lino são apontados como responsáveis por fazer uma "caixinha" entre os donos de bingos para obter decisões judiciais favoráveis.
Granado é apontado no mercado como o grande bingueiro do Estado do Rio, tendo participação de fato ou de direito em grande número de casas do gênero. Por sua vez, Júlio Guimarães é sobrinho do contraventor Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães. Dentro de uma parede falsa de um imóvel seu, a PF encontrou cerca de R$ 10 milhões em espécie.
Guimarães foi orientado pelo advogado Nélio Machado a ficar calado. Ele alegou o direito constitucional de não produzir prova contra si mesmo e não respondeu às perguntas.
Granado foi o primeiro a depor. Inquirido pela juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, ele teve dificuldades em explicar conversas telefônicas flagradas por escutas da Polícia Federal.
O segundo a falar foi Paulo Lino, que sucedeu Granado na presidência da Aberj. Contou ser dono de três casas de bingo no Rio, mas negou participação em irregularidades.


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