São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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Blocos mantêm prazo para acordo

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A GUADALAJARA

Após quatro horas de reunião tensa, representantes do Mercosul e da União Européia mantiveram o objetivo de concluir os termos de um acordo de livre comércio entre os dois blocos até outubro deste ano, como prevê o cronograma original.
Depois de desavenças e frustrações com as propostas apresentadas, havia a expectativa de adiamento da data. "Houve um melhor entendimento das ofertas de parte a parte. A conversa foi muito positiva, no caminho de que o acordo será feito até outubro de 2004. Temos uma janela de oportunidade para a realização do acordo, em razão da situação econômica e geopolítica mundial", disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o primeiro a falar na entrevista dos líderes do Mercosul e da União Européia.
O ministro afirmou que as chances de fechar o acordo estão "entre 80% e 90%", "mesmo que fechemos um acordo geral e deixemos lacunazinhas a preencher". "Já oscilei entre o muito otimista e o muito pessimista. Hoje fiquei otimista", completou.
Um dos poucos exemplos de progressos nas negociações dados por Amorim foi o pedido de garantia dos europeus de que empresas do continente não sofrerão "taxação discriminatória" pelos países do Cone Sul. "Reafirmamos nosso direito de determinar nossas políticas tarifárias, mas deixamos claro que somos contrários a políticas tributárias discriminatórias", disse Amorim.
No caso do Brasil, os europeus questionaram a necessidade de autorização do presidente para a instalação de bancos estrangeiros no país. "Mostramos a eles que não há nenhum caso de autorização pedida e não-concedida. Então, não há razão desse temor", afirmou o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.
Uma expressão comum foi repetida por Amorim, pelo ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, e pelo Comissário Europeu para o Comércio, Pascal Lamy: "clarificação de idéias". Lamy deixou a Europa dizendo que esperava que a reunião de Guadalajara -a 3ª Cúpula América Latina e Caribe-União Européia- não fosse uma continuidade do encontro de Cancún, no qual se acirraram as divergências comerciais entre os países do Terceiro e Primeiro Mundo.
Lamy começou a reunião cobrando dos representantes do Mercosul se o encontro seria "mais uma extenuante discussão" ou se havia de fato a intenção de trabalhar pelo acordo possível. Segundo os participantes, a "clarificação de idéias" permitiu passos à frente no entendimento entre Mercosul e UE. "Tínhamos de responder a duas questões: 1) Que tipo de acordo queremos? Profundo, aproveitando as oportunidades que temos no mundo hoje? 2) O melhor tempo para concluí-lo é até outubro de 2004? Na minha visão, as respostas para as duas perguntas depois da reunião são sim", declarou Lamy.
Na entrevista a cerca de 50 jornalistas latino-americanos e europeus, houve dois momentos de descontração. O primeiro foi quando um repórter fez uma pergunta tripla, questionando o êxito da reunião: perguntou em que ponto Amorim estava mais feliz em relação às concessões da Europa no setor agrícola, em que ponto Lamy estava mais feliz sobre a abertura do Mercosul no setor de serviços públicos e em que ponto Lavagna se sentia mais feliz em relação as concessões na questão do açúcar. Como são pontos difíceis, Lamy deu o tom geral da resposta: "Foi exitosa ao conhecer melhor as ofertas de cada parte e a clarificar pontos obscuros".
Em outro momento, questionou-se Lamy e Amorim sobre o confronto desses blocos com os EUA, sugerindo que um acordo entre UE e Mercosul dificultaria a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). O plenário riu, e Amorim disse: "Se nós acreditamos num acordo, por que não podemos acreditar no outro?".


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