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Blocos mantêm prazo para acordo
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A GUADALAJARA
Após quatro horas de reunião
tensa, representantes do Mercosul e da União Européia mantiveram o objetivo de concluir os termos de um acordo de livre comércio entre os dois blocos até
outubro deste ano, como prevê o
cronograma original.
Depois de desavenças e frustrações com as propostas apresentadas, havia a expectativa de adiamento da data. "Houve um melhor entendimento das ofertas de
parte a parte. A conversa foi muito positiva, no caminho de que o
acordo será feito até outubro de
2004. Temos uma janela de oportunidade para a realização do
acordo, em razão da situação econômica e geopolítica mundial",
disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o primeiro a falar na entrevista dos líderes
do Mercosul e da União Européia.
O ministro afirmou que as
chances de fechar o acordo estão
"entre 80% e 90%", "mesmo que
fechemos um acordo geral e deixemos lacunazinhas a preencher". "Já oscilei entre o muito
otimista e o muito pessimista.
Hoje fiquei otimista", completou.
Um dos poucos exemplos de
progressos nas negociações dados
por Amorim foi o pedido de garantia dos europeus de que empresas do continente não sofrerão
"taxação discriminatória" pelos
países do Cone Sul. "Reafirmamos nosso direito de determinar
nossas políticas tarifárias, mas
deixamos claro que somos contrários a políticas tributárias discriminatórias", disse Amorim.
No caso do Brasil, os europeus
questionaram a necessidade de
autorização do presidente para a
instalação de bancos estrangeiros
no país. "Mostramos a eles que
não há nenhum caso de autorização pedida e não-concedida. Então, não há razão desse temor",
afirmou o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.
Uma expressão comum foi repetida por Amorim, pelo ministro da Economia da Argentina,
Roberto Lavagna, e pelo Comissário Europeu para o Comércio,
Pascal Lamy: "clarificação de
idéias". Lamy deixou a Europa dizendo que esperava que a reunião
de Guadalajara -a 3ª Cúpula
América Latina e Caribe-União
Européia- não fosse uma continuidade do encontro de Cancún,
no qual se acirraram as divergências comerciais entre os países do
Terceiro e Primeiro Mundo.
Lamy começou a reunião cobrando dos representantes do
Mercosul se o encontro seria
"mais uma extenuante discussão"
ou se havia de fato a intenção de
trabalhar pelo acordo possível.
Segundo os participantes, a "clarificação de idéias" permitiu passos
à frente no entendimento entre
Mercosul e UE. "Tínhamos de
responder a duas questões: 1) Que
tipo de acordo queremos? Profundo, aproveitando as oportunidades que temos no mundo hoje?
2) O melhor tempo para concluí-lo é até outubro de 2004? Na minha visão, as respostas para as
duas perguntas depois da reunião
são sim", declarou Lamy.
Na entrevista a cerca de 50 jornalistas latino-americanos e europeus, houve dois momentos de
descontração. O primeiro foi
quando um repórter fez uma pergunta tripla, questionando o êxito
da reunião: perguntou em que
ponto Amorim estava mais feliz
em relação às concessões da Europa no setor agrícola, em que
ponto Lamy estava mais feliz sobre a abertura do Mercosul no setor de serviços públicos e em que
ponto Lavagna se sentia mais feliz
em relação as concessões na questão do açúcar. Como são pontos
difíceis, Lamy deu o tom geral da
resposta: "Foi exitosa ao conhecer
melhor as ofertas de cada parte e a
clarificar pontos obscuros".
Em outro momento, questionou-se Lamy e Amorim sobre o
confronto desses blocos com os
EUA, sugerindo que um acordo
entre UE e Mercosul dificultaria a
criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas). O plenário
riu, e Amorim disse: "Se nós acreditamos num acordo, por que não
podemos acreditar no outro?".
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