São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2004

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ENCONTRO DE GUADALAJARA

Ataque à tortura no Iraque e ao unilateralismo do governo americano é ponto de divergência; Fidel não foi e criticou o evento

Cúpula começa dividida sobre crítica aos EUA

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A GUADALAJARA

Sob a enorme sombra do vizinho EUA, começa hoje, em Guadalajara, no México, a 3ª Cúpula América Latina e Caribe-União Européia. Participam representantes de 58 países (33 deles enviaram chefes de Estado ou de governo). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a Guadalajara às 18h50 (horário local).
Até o fechamento desta edição, as delegações ainda não haviam chegado a um consenso sobre a declaração final da cúpula. Dois temas emperravam a aprovação: a inclusão ou não de um parágrafo condenando a tortura de presos iraquianos e de uma crítica mais aberta aos EUA em um trecho que defende o multilateralismo nas relações internacionais.
O ministro brasileiro Celso Amorim (Relações Exteriores) não quis dizer se o Brasil defenderá a condenação da tortura no Iraque. "O Brasil é contra a tortura em geral", limitou-se a afirmar.
Em entrevista coletiva ontem de manhã, o chanceler mexicano, Luis Ernesto Derbez, disse que ainda faltavam "uns quatro, seis, oito, nove parágrafos" para serem discutidos à tarde. "Há dois parágrafos que tratam de uma discussão relevante: um pedido da América Latina a respeito da preocupação que temos com medidas unilaterais adotadas por países específicos", disse Derbez.
"A União Européia quer colocar uma descrição geral, e queremos colocar uma específica", disse. O específico, no caso, é a lei americana Helms-Burton, de 1996, que prevê medidas judiciais contra empresas de outros países que usem em Cuba instalações expropriadas dos EUA, inclusive de cidadãos cubano-americanos.
Em entrevista à tarde, o chanceler cubano, Felipe Pérez Roque, disse que "alguns da União Européia têm mostrado reticências que não entendemos".

Encontros de Lula
Além de Lula, participam do encontro os presidentes Jacques Chirac (França), Hugo Chávez (Venezuela), Álvaro Uribe (Colômbia), Alexander Kwasniewski (Polônia), o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, e os premiês José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha) e Bertie Arhen (Irlanda), que ocupa a Presidência rotativa da União Européia, entre outros.
Hoje, Lula tomará café da manhã com o socialista Zapatero. Será o primeiro encontro entre os dois depois da posse do espanhol. Depois, o brasileiro se reunirá com Schröder, Chirac e Carlos Mesa, da Bolívia. Com Vicente Fox, do México, o presidente vai se encontrar às 13h40. A volta de Lula ao Brasil está prevista para hoje à noite.
Da Europa, a principal ausência será a do premiê britânico, Tony Blair, aliado dos EUA na Guerra do Iraque. Entre os presidentes latino-americanos, as maiores ausências serão do presidente argentino Néstor Kirchner (doente) e do ditador cubano, Fidel Castro.
Mesmo sem corpo presente, Fidel já é um dos principais personagens da cúpula -em razão da recente crise diplomática entre México e Cuba. Em nota para justificar sua ausência, o cubano declarou que a cúpula é "carente de conteúdo" e criticou a União Européia por ser "cúmplice dos EUA" contra Cuba.
Aliado de Fidel, o venezuelano Hugo Chávez também deverá receber atenção, já que neste fim de semana a oposição ao seu governo fará uma ampla campanha para que sejam revalidadas assinaturas em favor de um referendo sobre sua saída do poder.


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