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Kroll recorreu à CIA para
investigar governo Lula
Documento envolve Daniel Dantas na espionagem contratada pela Brasil Telecom
Relato aponta Romeu Tuma e Paulo Lacerda, diretor da PF, como defensores de interesses da Telecom Italia
contra dono do Opportunity
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-diretor da Kroll Frank
Holder recorreu à CIA, o serviço de inteligência norte-americano, para investigar autoridades do governo brasileiro a partir do contrato com a Brasil Telecom fechado na gestão do Opportunity à frente da companhia, segundo documentos da
empresa de espionagem americana obtidos pela Folha.
Num relatório do dia 7 de fevereiro do ano passado, Holder
resume o teor de conversas que
havia tido duas semanas antes
com o então embaixador dos
Estados Unidos no Brasil, John
Danilovich, o conselheiro comercial, John Harris, e o chefe
das operações da CIA no país, o
qual não é identificado.
Os pontos centrais dos encontros são a disputa do Opportunity contra os fundos de
pensão pelo controle da Brasil
Telecom e a posição do governo brasileiro sobre a Kroll, alvo
da Polícia Federal na Operação
Chacal por ter investigado autoridades brasileiras a mando
do Opportunity. A Folha revelou o caso em julho de 2004.
De acordo com o documento,
os três integrantes do governo
americano tiveram conversas
diretas e privadas com as seguintes autoridades brasileiras:
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, os então ministros Antonio Palocci (Fazenda) e José
Dirceu (Casa Civil), Márcio
Thomaz Bastos (Justiça) e pessoas de dentro da PF ou muito
próximas à corporação.
Holder se tornou investigador particular após anos de experiências como espião da CIA.
No relatório da Kroll, ele informa o que o encarregado pelas
operações da agência de inteligência americana no Brasil lhe
contou. Disse que o gabinete de
Lula (a expressão em inglês inclui os ministros) não tinha nenhuma questão em curso contra a Kroll ou seu cliente, sempre identificado como BrT
[Brasil Telecom]/Opp [Opportunity].
Acrescenta, no entanto, que
"pesquisa independente" indicava que haveria entre as autoridades brasileiras quem continuasse a defender os interesses
italianos. No caso, a Telecom
Italia, sócia da Brasil Telecom
que também tinha atritos com
o Opportunity.
Segundo o integrante da
agência de inteligência americana, no relato de Holder, o
grupo ligado aos italianos seria
encabeçado pelo senador Romeu Tuma (PFL-SP) e "seus
contatos na PF", que seria o
atual diretor-geral da corporação, Paulo Lacerda. Tuma ocupou no passado o mesmo cargo
de Lacerda.
O agente da CIA teria dito
também que não era possível
saber o grau de apoio dado pelo
ministro da Justiça ao grupo ligado aos italianos. Ele teria indicado, no entanto, que Bastos
permitiria a Tuma e a Lacerda
continuar a operar, sugerindo
que o ministro tinha "simpatia" pelos objetivos dos dois.
Quatro partes
O relatório da Kroll é composto de quatro blocos. O primeiro é a investigação feita por
Holder. A Kroll confirmou a
existência e a veracidade das
demais partes do documento,
mas não quis comentar o trabalho de Holder. A empresa moveu uma ação contra o ex-agente da CIA por desrespeito a
cláusulas contratuais.
De acordo com o relatório do
dia 7 de fevereiro do ano passado -assim como um outro, feito três dias depois-, o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, não somente era informado dos passos da Kroll no
caso Brasil Telecom como participava de determinadas decisões tomadas pela agência de
investigação. Dantas sempre
negou envolvimento nos trabalhos da Kroll.
Além de reconhecer o relatório do dia 7, a Kroll informou
que teve muitos encontros com
a direção da Brasil Telecom e
que em diversas ocasiões Dantas esteve presente.
Reportagem da revista "Veja" de duas semanas atrás informou que Dantas, por intermédio de Holder, teria repassado à
revista uma lista com supostas
contas (sem veracidade comprovada) de autoridades brasileiras em paraísos fiscais. Os integrantes do governo são os
mesmos que Holder cita em
seu relatório: o presidente Lula, os ex-ministros Palocci e
Dirceu, Thomaz Bastos, o senador Tuma e o diretor-geral da
PF, Paulo Lacerda. Todos negaram ter contas no exterior.
Em 2005, os fundos de pensão, liderados pela Previ (Banco do Brasil), conseguiram na
Justiça tirar o comando da Brasil Telecom do Opportunity. A
nova direção requisitou à Kroll
os documentos das investigações pagas pela companhia. Como encontrou dificuldades, recorreu à Justiça americana.
Após um acordo, a Kroll encaminhou à Brasil Telecom 21
caixas. Há duas semanas, a
CVM (Comissão de Valores)
requisitou os papéis. Na semana passada, foi a vez da PF.
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