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Executivo diz que jornalista procurou extorqui-lo para não divulgar grampo
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-presidente da Ford no
Brasil, Antonio Maciel Neto,
afirmou, em ofício enviado ao
Ministério Público Federal,
que o jornalista Gilberto Luiz di
Pierro, o Giba Um, 60, tentou
extorqui-lo. A razão: evitar a
publicação da transcrição de
uma conversa telefônica que
teria sido grampeada pela empresa de espionagem Kroll,
contratada pela Brasil Telecom
e pelo banco Opportunity.
A transcrição trataria de "assuntos privados" e não revelaria crime ou irregularidade.
No decorrer das negociações
para o possível pagamento da
extorsão, a assessoria de Maciel
recebeu e-mails e gravou uma
conversa com Giba Um. O material foi anexado na denúncia
enviada à procuradora da República que atua no caso Kroll,
Ana Carolina Kano. No início
de maio, a procuradora enviou
o caso para a Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo.
A jornalista Fernanda Carvalho, ex-assessora de Maciel,
gravou a conversa por telefone
com Giba Um no dia 16 de janeiro. Giba Um diz na gravação,
à qual a Folha teve acesso, que
precisa receber US$ 20 mil para não divulgar a transcrição,
além de "garantir" que um jornal e uma revista também desistiriam de veicular notas em
troca do pagamento.
"Tranqueira da Kroll"
Ao ser indagado sobre a garantia que teria de que a publicação seria abortada, Giba Um
respondeu: "Você tem a minha
absoluta garantia, que é o aval.
O aval é esse".
Em outro trecho da conversa,
Giba Um revela a origem da
transcrição: "Essa tranqueira é
extraída das gravações de lá.
Você entendeu? É extraída das
gravações que a Kroll fez".
Segundo o jornalista, estão
em circulação outras conversas
captadas pela Kroll. "Eles
grampearam Deus e o mundo e
têm conversas de todos os tipos
e tamanhos", diz o jornalista.
A transcrição usada por Giba
Um se refere à suposta conversa entre Maciel e o empresário
Luis Roberto Demarco, um desafeto de Daniel Dantas (dono
do Opportunity) e um dos principais focos do "Projeto Tóquio", montado pela Kroll sob
encomenda da Brasil Telecom,
então sob controle do banco
Opportunity, para investigar
petistas e autoridades do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Demarco é amigo de Maciel.
Ambos negam ter mantido a
conversa mencionada pelo jornalista. Demarco disse que a
transcrição pode ter sido montada para atingi-lo.
Na conversa com a assessora
do ex-presidente da Ford, Giba
Um atribui o vazamento da
transcrição à briga de Dantas
com Demarco. "Sempre há pessoas absolutamente cafajestes
que, penso eu, querem vazar esse tipo de coisa para sacanear,
repito, o amigo [Demarco], não
o [executivo]", diz o jornalista.
Giba Um apresenta programa diário num canal local da
provedora de TV paga TVA e
mantém um site na internet sobre política e generalidades.
A assessora do executivo
também assinou uma declaração na qual relata uma outra
conversa não gravada com Giba
Um, ocorrida em dezembro.
"Perguntei de que forma ele poderia nos ajudar a segurar a gravação -e ele foi literal: "Eu converso, ajeito, me comprometo e
tento lucrar no processo."'
A assessora também relatou
que os primeiros contatos de
Giba Um ocorreram em janeiro
de 2005. Ele pediu um encontro com o presidente da montadora para tratar de um "assunto privado", mas a reunião não
ocorreu e os contatos cessaram. No meio do ano, o jornalista pediu uma contribuição
para uma ONG de apoio a portadores da Síndrome de Down.
O executivo decidiu então fazer
uma doação, em valor não revelado, do próprio bolso.
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