São Paulo, segunda-feira, 28 de maio de 2007

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Senador apresenta defesa hoje na tribuna

Renan deve levar boletos bancários para comprovar que são dele recursos repassados a jornalista com quem tem filha

Presidente do Congresso deve explicar que pedia a lobista da Mendes Júnior para entregar dinheiro a Mônica por ser seu amigo


FERNANDA KRAKOVICS
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), prometeu a senadores apresentar em discurso hoje, às 15h30, na tribuna da Casa, boletos bancários provando que seria dele o dinheiro entregue pelo lobista Cláudio Gontijo (da empreiteira Mendes Júnior) à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.
Segundo a Folha apurou, Renan disse ainda aos colegas que dará explicações sobre as suspeitas de envolvimento com o dono da construtora Gautama, Zuleido Veras -preso pela Polícia Federal na Operação Navalha sob acusação de fraudar obras públicas e pagar propina a políticos e servidores.
Casado, Renan deverá alegar que pedia ao lobista para fazer os pagamentos a Mônica por discrição. Pretende dizer que é amigo de Gontijo há mais de 20 anos e que ele era seu portador por também conhecer Mônica.
O gasto de R$ 16,5 mil mensais, segundo a revista "Veja", era uma ajuda para a filha, de dois anos e oito meses, de Renan com a jornalista e o aluguel do apartamento onde a menina mora com a mãe. O pagamento teria sido feito de janeiro de 2004 a dezembro de 2006.
Renan reconheceu a paternidade da filha. Na última sexta, firmou acordo com Mônica para pagar pensão de R$ 7.000. Ele deverá exibir declarações de renda para mostrar que teria condições de pagar R$ 16,5 mil por mês à jornalista, apesar do salário bruto de R$ 12.720.
Renan ligou ontem aos demais 80 senadores a fim de avisar do discurso. Usou esse expediente na sexta, quando a relação com o lobista veio à tona. Então, leu a colegas a nota que divulgaria com explicações.
Se os senadores não considerarem o discurso suficiente, o caso de Renan deverá ser discutido em reunião do Conselho de Ética na quarta, dia em que a bancada do PMDB também tem encontro previsto. Para que seja aberto processo por quebra de decoro contra Renan no conselho, é preciso que um partido político ou a Mesa Diretora faça uma representação.
"Ao contrário da nota à imprensa, espero que ele dê uma explicação cabal, nem que seja para dizer que errou", disse o senador Jefferson Péres (PDT-AM). "Ele disse que vai mostrar que pagou todas as contas dele", afirmou o senador Pedro Simon (PMDB-RS).

Desgaste
A intenção inicial era fazer o discurso amanhã, quando a Casa está mais cheia, mas Renan relatou a amigos estar sofrendo forte pressão. Disse que não deseja prolongar seu desgaste.
A estratégia de defesa foi montada anteontem em reunião entre Renan, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo, o senador José Sarney (PMDB-AP), o ex-senador Luiz Otávio e advogados. Foi aconselhado a não mentir e a dar versão que não possa ser desmontada, sob pena de quebra de decoro e risco de perder a presidência do Senado.
No discurso, Renan deverá dizer que teve sua vida pessoal exposta e, apesar de ter afirmado aos senadores que explicará ponto por ponto, não pretende dar muitos detalhes, sempre alegando que o processo está sob segredo de Justiça.
Em nota divulgada na sexta, Renan afirmou: "Nunca recebi qualquer recurso ilícito ou clandestino de qualquer empresa ou empresário". Disse ainda: "Jamais tive qualquer gasto pessoal ou de meus familiares custeados por terceiros".


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