São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2008

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Ex-assessor afirma ter "usado" deputado para pedir dinheiro

João Paulo de Moura diz à Justiça que nome de Paulinho foi citado "indevidamente"

Consultor da Força Sindical confirmou anteontem que a sigla "PA", mencionada em grampos e papéis, era, de fato, referência ao pedetista


RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em depoimento de três horas e meia anteontem na Justiça Federal, João Pedro de Moura, consultor da Força Sindical em São Paulo e ex-assessor do deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), admitiu que pedia, em nome do congressista, dinheiro a integrantes do grupo investigado pela Polícia Federal por suposto desvio de recursos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
As informações partiram dos advogados de Moura, do escritório Castelo Branco Advogados, que acompanharam o interrogatório prestado à 2ª Vara Federal. O consultor, contudo, alegou ter usado "indevidamente" o nome do deputado e que o dinheiro não chegou às mãos de Paulinho. Apenas por conta de um dos dois empréstimos do BNDES sob suspeita, o para as Lojas Marisa, Moura disse ter recebido R$ 200 mil.
Moura também afirmou que a sigla "PA", usada em conversas telefônicas interceptadas por ordem judicial, papéis e canhotos de cheques apreendidos pela PF, era, de fato, uma referência ao deputado, como a polícia já havia apontado em seus relatórios de inteligência sobre a Operação Santa Tereza.
Moura alegou que o uso do nome do parlamentar era uma forma de aumentar seus próprios ganhos. O dinheiro que, nos controles do grupo, deveria ir para Paulinho acabava na conta do próprio Moura, segundo a versão do ex-assessor.
Além do empréstimo para as Lojas Marisa, a PF investiga uma linha de crédito de R$ 124 milhões para a Prefeitura de Praia Grande (SP).
João Pedro de Moura apresentou a seguinte versão sobre o empréstimo: 1) a Prefeitura de Praia Grande estava tendo problemas de caixa para concluir uma obra de infra-estrutura na cidade, o que repercutia nas empreiteiras; 2) a principal delas, a Termaq, resolveu procurar o empreiteiro Manuel Fernandes de Bastos Filho, que ao mesmo tempo mantinha uma casa de prostituição nos Jardins, em São Paulo; 3) Bastos Filho procurou o consultor Marcos Vieira Mantovani, dono da Progus Consultoria, que seria um expert em montar projetos para obtenção de empréstimos no BNDES. Com o dinheiro do banco, a obra seria concluída, e as empreiteiras, pagas; 4) Mantovani "associou-se" a Moura (em acordo verbal), que já estava afastado do conselho de administração do BNDES, para montar o projeto; 5) o projeto foi aprovado no BNDES, e os recursos começaram a ser liberados para a prefeitura. Manuel e os consultores receberiam uma porcentagem sobre o total liberado; 6) a Termaq emitiu um cheque de R$ 400 mil como pagamento pelos serviços do grupo; 7) o dinheiro parou primeiro na conta da boate WE, do empreiteiro Bastos Filho, que emitiu cheques para pagar o grupo.
No momento de repartir o dinheiro que estava na conta da boate, Moura disse que passou a alegar que uma parte devia ir para Paulinho. "Dizia que era para o Paulinho, que ele iria dar "uma força" na liberação dos recursos. Foi uma forma que ele viu de incrementar seus rendimentos. Acabou usando o nome de Paulinho", resumiu o advogado Frederico Crissiúma.


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