São Paulo, quinta-feira, 28 de junho de 2007

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Renan vai ao "amigo Lula" para pedir apoio

Peemedebista é recebido pelo presidente no Planalto e afirma que seu afastamento só interessa aos partidos de oposição

Após a conversa com Renan, o presidente Lula se reuniu com os senadores petistas Tião Viana e Ideli Salvatti para ouvir relato da situação


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela primeira vez desde o agravamento da crise no Senado, o o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem em audiência no Palácio do Planalto o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
A Folha ouviu no Planalto que Renan telefonou para Lula dizendo que os dois precisavam conversar, o que o levou o presidente a convidá-lo para um café. Oficialmente, o Planalto diz que a conversa se deu por solicitação de Renan. Já no gabinete do presidente do Senado circulou versão diferente: Lula teria chamado Renan.
O cerimonial do Planalto não divulgou o encontro e também não registrou imagens. Na conversa, Renan pediu ajuda. Usou o argumento de que seu enfraquecimento ou eventual queda eram de interesse da oposição.
Lula se declarou solidário e se queixou de linchamentos políticos, como o que teria acontecido com seu irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá, na Operação Xeque-Mate da PF.
No entanto, Lula não se dispôs a entrar em campo a favor de Renan. O presidente torce para que ele supere a crise, mas não deseja abraçar a sua causa e fazer dela um assunto do Executivo, disseram à Folha dois auxiliares diretos do gabinete presidencial. Ou seja: politicamente, Renan depende mais dele e do PMDB do que de Lula.
Renan gostaria de enterrar o processo que enfrenta no Conselho de Ética. O encontro com Lula ocorreu um dia após a renúncia do petista Sibá Machado à presidência do Conselho e ao corpo do próprio órgão.
O senador é suspeito de ter as despesas pessoais quitadas por um lobista. Reportagens apontaram questionamentos sobre a lisura do patrimônio de Renan, sobretudo a respeito de suas transações com gado. Renan nega todas as irregularidades e diz ser vítima de um "esquadrão da morte moral".
Na tentativa de mobilizar a base aliada a seu favor, Renan disse que a oposição quer aproveitar a crise para tirá-lo da presidência do Senado. Nesse ponto, há convergência entre seu interesse e o de Lula. O presidente já disse a aliados que, se Renan cair, deseja que um claro aliado presida o Senado.
Na conversa, que durou cerca de 40 minutos, Renan reiterou que não renunciará. E insistiu no argumento de que o jogo da oposição foi explicitado anteontem, quando o DEM divulgou nota pedindo que ele se afaste da presidência da Casa.
Após a conversa com Renan, o presidente Lula se reuniu com a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC) -que chegou a negar o encontro- e com o senador Tião Viana (PT-AC), que conduzem as articulações políticas do partido na Casa.
O presidente ouviu um relato da crise e se limitou a dizer que o que importa é que o Senado continue a votar projetos de interesse do governo. Não houve ordem para salvar Renan.
Exemplo: Lula se queixou do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que frequentemente faz discursos e toma atitudes que o desagradam. Mas Suplicy continua no conselho por indicação do PT. Uma operação para salvar Renan bancada pelo Planalto deveria tirá-lo do órgão.
"Eu não conversei com o presidente sobre solidariedade, eu conversei com o presidente sobre a necessidade de o Brasil trabalhar, de o Senado votar, de não permitirmos a politização da Casa porque isso, se acontecer, acontecerá em descompasso com o país, que precisa crescer, gerar renda. É isso que precisamos fazer", afirmou Renan.
Ao ser questionado sobre o encontro, Renan afirmou que eles conversaram "sobre tudo, como sempre": "Encontro normal, como anteriores. O presidente Lula é um amigo e pretendo cultivá-lo dessa forma. Essa coisa de pedir apoio e solidariedade é muito corriqueira na vida das pessoas". (FERNANDA KRAKOVICS, SILVIO NAVARRO, KENNEDY ALENCAR E FERNANDO RODRIGUES)

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