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Renan vai ao "amigo Lula" para pedir apoio
Peemedebista é recebido pelo presidente no Planalto e afirma que seu afastamento só interessa aos partidos de oposição
Após a conversa com Renan, o presidente Lula se reuniu com os senadores petistas Tião Viana e Ideli Salvatti para ouvir relato da situação
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela primeira vez desde o
agravamento da crise no Senado, o o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva recebeu ontem
em audiência no Palácio do Planalto o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
A Folha ouviu no Planalto
que Renan telefonou para Lula
dizendo que os dois precisavam conversar, o que o levou o
presidente a convidá-lo para
um café. Oficialmente, o Planalto diz que a conversa se deu
por solicitação de Renan. Já no
gabinete do presidente do Senado circulou versão diferente:
Lula teria chamado Renan.
O cerimonial do Planalto não
divulgou o encontro e também
não registrou imagens. Na conversa, Renan pediu ajuda. Usou
o argumento de que seu enfraquecimento ou eventual queda
eram de interesse da oposição.
Lula se declarou solidário e
se queixou de linchamentos
políticos, como o que teria
acontecido com seu irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá, na
Operação Xeque-Mate da PF.
No entanto, Lula não se dispôs a entrar em campo a favor
de Renan. O presidente torce
para que ele supere a crise, mas
não deseja abraçar a sua causa
e fazer dela um assunto do Executivo, disseram à Folha dois
auxiliares diretos do gabinete
presidencial. Ou seja: politicamente, Renan depende mais
dele e do PMDB do que de Lula.
Renan gostaria de enterrar o
processo que enfrenta no Conselho de Ética. O encontro com
Lula ocorreu um dia após a renúncia do petista Sibá Machado à presidência do Conselho e
ao corpo do próprio órgão.
O senador é suspeito de ter
as despesas pessoais quitadas
por um lobista. Reportagens
apontaram questionamentos
sobre a lisura do patrimônio de
Renan, sobretudo a respeito de
suas transações com gado. Renan nega todas as irregularidades e diz ser vítima de um "esquadrão da morte moral".
Na tentativa de mobilizar a
base aliada a seu favor, Renan
disse que a oposição quer aproveitar a crise para tirá-lo da
presidência do Senado. Nesse
ponto, há convergência entre
seu interesse e o de Lula. O presidente já disse a aliados que, se
Renan cair, deseja que um claro aliado presida o Senado.
Na conversa, que durou cerca de 40 minutos, Renan reiterou que não renunciará. E insistiu no argumento de que o
jogo da oposição foi explicitado
anteontem, quando o DEM divulgou nota pedindo que ele se
afaste da presidência da Casa.
Após a conversa com Renan,
o presidente Lula se reuniu
com a líder do PT no Senado,
Ideli Salvatti (SC) -que chegou
a negar o encontro- e com o
senador Tião Viana (PT-AC),
que conduzem as articulações
políticas do partido na Casa.
O presidente ouviu um relato
da crise e se limitou a dizer que
o que importa é que o Senado
continue a votar projetos de interesse do governo. Não houve
ordem para salvar Renan.
Exemplo: Lula se queixou do
senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que frequentemente faz
discursos e toma atitudes que o
desagradam. Mas Suplicy continua no conselho por indicação do PT. Uma operação para
salvar Renan bancada pelo Planalto deveria tirá-lo do órgão.
"Eu não conversei com o presidente sobre solidariedade, eu
conversei com o presidente sobre a necessidade de o Brasil
trabalhar, de o Senado votar, de
não permitirmos a politização
da Casa porque isso, se acontecer, acontecerá em descompasso com o país, que precisa crescer, gerar renda. É isso que precisamos fazer", afirmou Renan.
Ao ser questionado sobre o
encontro, Renan afirmou que
eles conversaram "sobre tudo,
como sempre": "Encontro normal, como anteriores. O presidente Lula é um amigo e pretendo cultivá-lo dessa forma.
Essa coisa de pedir apoio e solidariedade é muito corriqueira
na vida das pessoas".
(FERNANDA KRAKOVICS, SILVIO NAVARRO, KENNEDY
ALENCAR E FERNANDO RODRIGUES)
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