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JANIO DE FREITAS
Senadores contra o Senado
A renúncia de Sibá Machado exprime uma denúncia à falta de autoridade moral em que está o Senado
O ESQUADRÃO da morte moral
chefiado pelo senador Renan
Calheiros abateu o terceiro,
com a renúncia do senador Sibá Machado à presidência do Conselho de
Ética do Senado, antecedida das renúncias de Epitácio Cafeteira e Wellington Salgado à relatoria do caso
Calheiros. Esses três antimosqueteiros compõem, apesar das diferentes alegações de suas renúncias, evidência clara das manipulações proporcionadas pelo poder de Renan
Calheiros sobre o conselho incumbido de examinar sua duvidosa conduta pessoal. Há mais e pior, porém.
Se foi atitude merecedora dos louvores que lhe prestaram senadores
de quase todos os partidos, a renúncia de Sibá Machado exprime uma
denúncia à falta de autoridade moral em que está o Senado. Porque o
argumento apresentado para sua renúncia foi, em resumo, o de estar
impedido de ser ético e aplicador
dos procedimentos regimentais, por
força da ação impeditiva -logo, contra a moralidade do Senado- dos
partidos preponderantes no Conselho dito de Ética.
No dizer da senadora Ideli Salvatti, ao louvar a atitude do colega petista, Sibá Machado foi impedido de
exercer a presidência do conselho
com a correção devida porque "o coletivo da Casa não dá condições". O
vocabulário nostalgicamente esquerdóide da senadora não dá nem
para disfarçar o sentido acusatório
de sua afirmação à realidade imposta pela maioria do Senado.
Mas aqui não vamos esquecer que
a senadora Ideli Salvatti, agora clamando contra a falta de ética do "coletivo" para assim elogiar o colega,
foi precursora na quebra de "condições" do conselho. Já na primeira
sessão, seu exaltado discurso cobrava, mais do que a imediata inocentação de Renan Calheiros, que fosse
aprovada por nada menos do que a
unanimidade dos senadores.
Também não se esquecerá de que
Renan Calheiros integra o estado-maior da bancada governista no
Congresso. E que figurantes desse
governismo são os executores das
manobras de proteção a Renan Calheiros contra os riscos de investigação objetiva.
A competência de Sibá Machado
ao presidir na semana passada a
sessão do conselho, aqui reconhecida, não deprecia a crítica anterior à
escolha de um senador suplente para presidir uma instância tão complexa politicamente e, mais ainda,
na ocasião de um caso cercado de
interesses poderosos. Os fatos avalizaram a crítica: o suplente Sibá Machado não teve como se impor -renunciou antes mesmo de tentar-,
condição que não faltaria a um senador de relevo no Congresso e na
opinião pública.
Renan Calheiros deu direção
equivocada à expressão que criou,
pondo-se como vítima de um "esquadrão da morte moral" em ação
no Senado. Ou, mais preciso, contra
o Senado.
Diferença
A recondução de Antonio Fernando de Souza à direção da Procuradoria Geral da República, ainda
como continuador do admirável
desempenho de Cláudio Fontelles,
confirma uma diferença essencial
entre o governo de Lula e o governo
de Fernando Henrique Cardoso,
que se apegou, por necessidade e
por outros motivos, ao inesquecível Geraldo Brindeiro, de apelido
"engavetador-mor".
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