São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASTIDORES

Indicação de ex-governador tucano antes da eleição funcionaria como "isca" para seduzir empresariado

PFL pró-Ciro sugere Tasso na Fazenda

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os caciques do PFL que apóiam a candidatura Ciro Gomes (PPS) sugeriram a ele que anuncie o mais rapidamente possível o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB-CE) como ministro da Fazenda e homem forte num eventual governo Ciro.
Na prática, Tasso já é o principal nome do esquema Ciro. É o avalista da candidatura na área empresarial, porque é também empresário e considerado mais "maduro" e mais "confiável". E já articula a adesão do PSDB a Ciro, caso o tucano José Serra não vá ao segundo turno.
Além de tentar dar já uma certa tranquilidade ao mercado, o anúncio de Tasso para a Fazenda seria a principal "isca" para atrair o apoio do grande empresariado paulista, inseguro com a "impulsividade" e a "imprevisibilidade" de Ciro e ainda muito identificado com o tucano Serra.
Na avaliação da campanha de Ciro, os bancos vão ficar com Serra até o fim, enquanto os grandes empresários de outras regiões e os médios de São Paulo "vêm pela gravidade", a força das pesquisas e a perspectiva de vitória. O fundamental, assim, é investir no "coração" do grande empresariado serrista.
O alvo principal é o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), onde o empresário Paulo Cunha (Ultra) é tido como um dos líderes empresariais da candidatura Serra. As três pontes com a campanha Ciro são Eugênio Staub (Gradiente), Ricardo Steinbruch (Vicunha) e Jacques Rabinovici (Vicunha). Eles têm "efeito multiplicador".
Além disso, Ciro vem aumentando encontros, almoços e jantares com grupos econômicos autônomos e diversificados, e o próprio Tasso estará amanhã em São Paulo especificamente para contatos com empresários.
Mais do que reforçar os cofres da campanha -que é também um dos objetivos da aproximação-, Ciro, Tasso e os pefelistas esperam eliminar ou reduzir resistências e facilitar a interlocução com o setor produtivo em caso de vitória do candidato do PPS.

Reformulação partidária
O anúncio de Tasso para a Fazenda, porém, não pode ser feito diretamente por Ciro, porque ele, além de atrair o empresariado, trata de reforçar os apoios políticos e garantir previamente uma maioria consistente no Congresso, caso eleito. Ciro e Tasso não querem "trincar cristais" no PSDB.
Uma das prioridades da campanha, neste momento, é neutralizar os sinais emitidos de forma cada vez mais ostensiva pelo presidente Fernando Henrique Cardoso de que apoiaria o petista Luiz Inácio Lula da Silva contra Ciro num eventual segundo turno sem Serra.
Tasso não só se consolida como o homem-forte num futuro governo Ciro, como se habilita a comandar o PSDB, que ele já presidiu durante anos. Por isso, está em guerra aberta contra FHC e Serra, mas mantendo canais diretos com tucanos do governo e da campanha.
Exemplos: Euclides Scalco, secretário-geral da Presidência da República, Pimenta da Veiga, coordenador político da campanha de Serra, José Richa, um dos articuladores da campanha, e o próprio presidente do PSDB, José Aníbal (SP), além do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, candidato à reeleição.
Todos eles estão hoje engajados na candidatura Serra, mas eram ligados ao governador Mário Covas, morto no ano passado, e, na maioria, preferiam Tasso a Serra como candidato do PSDB -como o próprio Covas. Alguns trabalharam objetivamente por isso.
O problema agora é que, se eles têm dificuldades de relacionamento com Serra, têm restrições ainda mais forte ao próprio Ciro, que já foi do PSDB e deixou a imagem de ser excessivamente impetuoso, vaidoso e personalista. Tasso -que também mantém boas relações com Aécio Neves, presidente da Câmara e candidato ao governo de Minas- tenta aplainar o caminho.
Com isso, um eventual governo Ciro poderá deflagrar uma reformulação partidária a partir já do fim deste ano, com o isolamento do grupo paulista de FHC e Serra no PSDB e a fusão de PTB e PDT numa só sigla trabalhista. Esses dois partidos compõem com o PPS a Frente Trabalhista que sustenta a candidatura Ciro.

Governabilidade
A estratégia da campanha Ciro passa diretamente pelo reforço ao papel do PFL, especialmente o do presidente do partido, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), que dá um "upgrade" à cúpula da candidatura Ciro.
O presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), chegou a ser considerado quase um dissidente na campanha. O do PDT, Leonel Brizola, tem origem na esquerda e assusta setores conservadores e empresariais. O do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), é suspeito de vínculos estranhos com PC Farias, o polêmico tesoureiro da campanha presidencial de Fernando Collor de Mello.
Bornhausen, ao contrário, é como Tasso no PSDB: circula bem nos setores empresariais e está encarregado de atrair a unanimidade do PFL para a campanha num possível segundo turno. Hoje, parte importante do partido está com Serra, como a seção de Pernambuco.
Pelos cálculos do próprio Bornhausen, o PFL terá mais de 17 senadores e entre 90 e 100 deputados federais e não será apenas um partido periférico, mas sim fundamental para conferir maioria a Ciro no Congresso. Além disso, tem o que falta aos neo-parceiros: quadros políticos e técnicos em todos os Estados.
Ainda na estratégia da campanha, não há o que negociar com o PSB de Anthony Garotinho, pois o partido tende para Lula, mas o comando de Ciro não tem dúvidas: se Garotinho desistir, seus cerca de 10% de votos iriam majoritariamente para o candidato do PPS pois vêm de evangélicos refratários ao PT e do Rio, Estado de forte marca oposicionista e, portanto, contrário a Serra. Além disso, Ciro é "a novidade".
Quanto aos constrangimentos ideológicos, a subida de Ciro nas pesquisas está se encarregando de resolver. Brizola e Bornhausen, por exemplo, sempre estiveram do lado oposto no espectro político nacional, mas discursaram um atrás do outro no primeiro grande comício do PFL para Ciro, em Lages (SC), na semana passada.
Após o comício, Brizola segurou a cabeça de Bornhausen com as duas mãos, uniu testa com testa e lhe disse, olho no olho: "Bá, tchê, tu és um palanqueiro tão bom quanto eu!".



Texto Anterior: Construção é alvo de ação na Justiça estadual
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.