São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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Ascensão de Ciro reduz resistência do empresariado

DO PAINEL S.A.

O presidenciável do PPS, Ciro Gomes, sempre foi considerado uma incógnita por grande parte do empresariado brasileiro. Os empresários acham que, por ser jovem, pelo seu gênio intempestivo e por não ter uma equipe sólida, Ciro acabe dando razão aos adversários que o acusam de ser um novo Fernando Collor.
Nas últimas semanas, com a subida de Ciro nas pesquisas para o segundo lugar, a apreensão do empresariado diminuiu bastante e cedeu espaço ao pragmatismo. A Folha ouviu na última semana 18 grandes empresários brasileiros e constatou que o nome de Ciro se tornou muito mais palatável do que até bem pouco tempo atrás. Para a grande maioria dos empresários ouvidos pela Folha -muitos preferiram não se identificar- Ciro é cada vez mais uma opção real para derrotar o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno.
Não é por outra razão que a procura por parte de empresários para encontros -públicos ou reservados- com Ciro Gomes aumentou bastante. Só nas duas últimas semanas, o candidato participou de um jantar na casa do empresário Flávio Rocha, das Lojas Riachuelo, teve um encontro na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e um café da manhã sigiloso em São Paulo com um grupo de cerca de 20 empresários de diferentes setores, entre outros compromissos.
Para o empresário Eugênio Staub, presidente da Gradiente, esse movimento do empresariado de adesão à candidatura Ciro é ainda precipitado. "Essa corrida depõe contra o empresário. De repente, a moça ficou bonita".
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, presidente do grupo Votorantim, faz questão de dizer que irá votar no candidato tucano José Serra, mas diz que não tem nada contra o Ciro. "Eu o ajudei quando ele governou o Ceará e nunca pedi nada em troca."
Ermírio de Moraes não perdoa, no entanto, o fato de Ciro Gomes ter comparado o jantar de empresários realizado no ano passado na casa do banqueiro Olavo Setubal (Itaú) em torno da candidatura de José Serra às reuniões da Oban -organização paramilitar criada em 1969 para combater a luta armada e que se transformaria num órgão de tortura. "Fiquei magoado. Não sou bandido."
Para o empresário Romeu Chap Chap, presidente do Secovi (Sindicato da Habitação de São Paulo), Ciro Gomes está apresentando hoje um discurso muito mais consistente do que antes. "Ele deu um show na Fiesp", diz Chap Chap. Segundo ele, o que se ouvia nos corredores da Fiesp, depois da apresentação de Ciro, é que o apoio da entidade tinha aumentado de 30% para 70%.
O que se pode constatar também no empresariado é que esse movimento de apoio à candidatura Ciro não se deve apenas ao fato de ele ter se tornado uma real opção para vencer Lula ou ao pequeno avanço de Serra nas pesquisas. Há também uma grande insatisfação do empresariado das áreas industrial e comercial com o modelo econômico adotado pelo governo FHC. Em que pese todas as diferenças entre Serra e FHC, o tucano representa o continuísmo.
As maiores resistências à candidatura Ciro Gomes se concentram no setor financeiro. Os banqueiros não gostam da proposta de Ciro de reestruturação da dívida e acham que ele não conta com uma equipe sólida para compor o governo. Além disso, temem a influência sobre Ciro do filósofo Roberto Mangabeira Unger, com suas idéias heterodoxas para a economia. "Há ainda muitas dúvidas sobre o posicionamento de Ciro", diz Humberto Casagrande, diretor do Sudameris e presidente da Abamec (Associação Brasileira de Mercado de Capitais) nacional. "O mercado ainda prefere trabalhar com a hipótese de Serra para o segundo turno."
(GUILHERME BARROS)


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