São Paulo, domingo, 28 de julho de 2002

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SENADO

Quércia declara à Justiça Eleitoral ter bens no total de R$ 64,8 milhões, contra R$ 9,8 milhões em 1996

Patrimônio de Quércia aumenta 562%

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O patrimônio do candidato a senador Orestes Quércia, 63, aumentou 562% nos últimos cinco anos. Os bens declarados pelo presidente do PMDB ao Tribunal Regional Eleitoral, em junho último, totalizam R$ 64,8 milhões.
Eram R$ 9,8 milhões em 1996, quando o Ministério Público do Estado de São Paulo tentou bloquear os bens do ex-governador paulista, a título de garantir o ressarcimento de supostos prejuízos ao erário durante sua passagem pelo governo estadual (1987-91).
O patrimônio do empresário Orestes Quércia corresponde a algo como o faturamento diário dos shopping centers paulistas. Duas operações recentes contribuíram para essa evolução patrimonial: R$ 20 milhões registrados como "crédito para aumento de capital" da Sol Invest, sua empresa de participações, e R$ 26,5 milhões como "crédito a receber" da Infoglobo Comunicações Ltda., empresa das Organizações Globo.
Em 2001, Quércia vendeu ao grupo do empresário Roberto Marinho sua participação na Empresa Jornalística Diário Popular Ltda. (cujas cotas declaradas no Imposto de Renda de 1996 correspondiam a apenas R$ 330 mil).
Na ocasião, a Folha apurou que o negócio foi fechado por R$ 200 milhões, tendo as Organizações Globo assumido dívidas da empresa no total de R$ 100 milhões.
O candidato também informou ao TRE a aplicação de R$ 5,4 milhões em títulos de renda fixa no BCN (R$ 115,4 mil em 1996). Procurado pela Folha, Quércia não quis se manifestar.
Bem-sucedido nos negócios privados quando esteve fora da administração pública, o ex-governador de São Paulo volta a disputar uma eleição após ter sido acusado de quebrar financeiramente o Estado. Ele enfrentará mais uma escolha nas urnas após ter amargado uma fragorosa derrota na campanha presidencial de 1994, na qual obteve 4% dos votos, quando os próprios correligionários levantavam dúvidas sobre a origem de sua fortuna.
Seu êxito como empresário o desautorizaria a criticar -como novo aliado do PT- a política econômica do governo, acusada de inibir investimentos privados.
Em 1996, Quércia declarou um rendimento anual de aproximadamente R$ 722 mil. Ou seja, no período 1996-2001, teria havido um acréscimo patrimonial de mais de R$ 10 milhões por ano.
As declarações registram a venda (ou transferência para outro sócio) de 180 mil cotas de sua mulher, Alaíde Quércia, na Sol Invest Administração e Participações, no total de R$ 2,2 milhões.
No período analisado, foram alienados imóveis registrados com os seguintes valores: sítio Santa Rita, de 10 alqueires (R$ 17 mil, em 1996), parte do sítio Boi Morto, de 9,61 alqueires (R$ 18,2 mil), sítio Granada, de 32,4 alqueires (R$ 55,1 mil) e Fazenda Santa Terezinha, de 15,5 alqueires (R$ 26,3 mil), todos em Pedregulho. Curiosidade nas declarações é a propriedade de um único veículo, um automóvel Volkswagen, ano 1980, avaliado em R$ 2,7 mil (anteriormente, assessores de Quércia informaram que a família só usa carros alugados).
Para comparar os bens de Quércia, a Folha submeteu à análise de auditores privados a declaração de bens oferecida pelo candidato ao TRE e cópias das declarações do Imposto de Renda de 1997 e 1996 (anos-base 1996 e 1995) juntadas a uma ação civil pública movida contra o ex-governador.


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