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COM CRISE
"Lula é paladino da ordem neoliberal"
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O início da gestão de Lula é "pífio", tendo o governo petista se
tornado "um paladino da ordem
neoliberal", critica o sociólogo Ricardo Antunes, 49, professor livre-docente em sociologia do trabalho na Unicamp e autor de "O
Novo Sindicalismo no Brasil".
Folha - Como o sr. analisa a forma
como o governo tem tratado o funcionalismo?
Ricardo Antunes - É algo bastante crítico. A greve e as manifestações do funcionalismo no governo Lula têm impacto semelhante
à paralisação dos petroleiros em
1995 para a administração Fernando Henrique Cardoso. De seu
comportamento, sairá o verdadeiro sentido do governo Lula.
Folha - Já há sinais de decepção?
Antunes - O funcionalismo
apoiou Lula e o PT esperando
uma valorização da "res publica"
[coisa pública] e a desprivatização
do Estado. Mas a primeira medida adotada foi uma opção pela
"res privada". Isso esgarça profundamente o governo. No caso
dos servidores públicos, o governo se volta com voracidade contra
eles na sua primeira medida. É
inaceitável usar a Polícia Militar
contra protesto de servidor. O governo começou mal.
Folha - Essa tensão pode evoluir
para uma crise social profunda?
Antunes - Vai depender da capacidade de o governo entender que
não pode se prender a uma questão fiscal. Não é difícil evoluir para
uma ameaça institucional. É claro
que se podem dar limites ao Judiciário, mas não se pode desmontá-lo. Corre-se o risco de uma crise mais profunda. O governo está
se voltando contra sua base, acreditando em outra, que é falaciosa.
Circunstancialmente, pode ter o
apoio de empresários, PFL e
PSDB. Mas é erro grave atingir
um pilar de sustentação do PT.
Num contexto mais crítico, essa
base circunstancial vai querer ver
o Lula no caldeirão. E aí? Volta para a base da qual o funcionalismo
faz parte e pede desculpa?
Folha - O governo Lula tem mais
errado que acertado?
Antunes - O começo do governo
foi pífio. É uma falácia usar o argumento de que há servidores
que ganham R$ 19 mil para fazer a
reforma da Previdência. É só regulamentar o artigo da Constituição que prevê o teto do funcionalismo. Não é fazer uma reforma
no desvario, a toque de caixa, com
um projeto que é pior que o de
FHC, cheio de "razões que a razão
desconhece". É um governo que
cede à ingerência internacional e
se torna paladino da ordem neoliberal. Repete o receituário que, na
Argentina, deu no que deu.
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