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São Paulo, segunda-feira, 28 de julho de 2003

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TENSÃO POLÍTICA

Governador faz crítica a Lula por não dar "resposta à altura"

Alckmin diz que políticos estão por trás de invasões

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, verbalizou o que o governo federal, do PT, só admite extra-oficialmente: a suspeita de infiltração política nas manifestações e nas invasões que vêm sendo articuladas em diferentes pontos do país.
"Há políticos envolvidos nisso. Nada disso é por geração espontânea. É evidente que está sendo articulado e estimulado", disse ele à Folha, na noite da última quinta-feira, usando expressões como "clima de confronto", "exacerbação de ânimos" e "movimentos generalizados".
Alckmin, que havia falado por telefone naquele dia com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, enumerou uma série de ações que ele não considera casuais nem isoladas, mas, ao contrário, articuladas e com cunho político.
Citou, só em São Paulo, a morte de um fotógrafo na entrada de um acampamento de sem-teto em São Bernardo do Campo, a invasão e o roubo de cinco tratores numa estação experimental e a ocupação de um conjunto habitacional em Tatuí e de outros prédios da capital.
"Há um clima de confronto, isso é óbvio", disse Alckmin, falando primeiro na "participação de partidos políticos" e, depois, corrigindo para algo mais genérico: "participação de políticos" e "intenções políticas". Ele evita citar nomes de quem estaria envolvido. Diz que a polícia do Estado está investigando o caso.
Indiretamente, o governador tucano convocou o governo federal petista para combater essa onda de ações e manifestações: "É um clima de confronto que exige uma resposta à altura. É hora de chamar todos os envolvidos à responsabilidade".
Para ele, além de gerar crescimento e empregos para diminuir a violência, é preciso também reagir rapidamente e de forma implacável para garantir o cumprimento da lei: "Não dá para tolerar o que está acontecendo, porque há uma exacerbação de ânimos e uma generalização dos movimentos pelo país".
Ainda segundo Alckmin, o risco é de os movimentos continuarem crescendo e se multiplicando sem uma repressão à altura: "Não pode prevalecer a sensação no país de que é passando por cima das leis que se resolvem as coisas".
Em seguida, usou um tom duro e insinuou uma comparação com a posição mais discreta, ou amena, do Palácio do Planalto: "Se você não cumpre determinação judicial, uma reintegração de posse, está indiretamente estimulando esse tipo de conduta, de não respeitar a lei, rompendo a ordem democrática. Em São Paulo, reintegração de posse é cumprida".
Questionado se estava cobrando uma atuação mais dura do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Alckmin procurou contemporizar: "Não é o caso, neste momento, de estar responsabilizando A ou B. Precisamos agir para evitar a atuação dos radicais".
Para ele, "uma coisa é fazer a reforma agrária, que todos nós defendemos, e outra é tolerar a quebra da ordem democrática, que aqui nós não permitiremos". E acrescentou: "Precisamos ter responsabilidade com a democracia e com a governabilidade".
Alckmin, porém, criticou diretamente o governo Lula duas vezes. Uma quando ironizou a votação maciça do PT contra o aumento da contribuição de inativos em São Paulo: "São 23 votos do PT e dois do PC do B na Assembléia. Sabe quantos tivemos? Nenhum", disse ele, reclamando do apoio que lhe faltou e que, apesar disso, ele pretende dar agora à reforma da Previdência de Lula.
A segunda alfinetada foi quanto ao processo de negociação da própria reforma previdenciária: "O governo recuou antes da hora, desnecessariamente. A reforma estava caminhando bem".

"Eleição não é obsessão"
Sempre considerado tímido, Alckmin hoje está mais afirmativo e falante. Parece candidato, apesar de escapar de perguntas sobre eventuais vôos para a Presidência da República: "Eleição tem de ser consequência, não uma obsessão. O mais importante é fazer bem o que você tem que fazer".
Por isso, preferiu falar dos planos para São Paulo. Fala com entusiasmo de uma parceria com a Unesco e a Fundação Ayrton Senna, que concederá 25 mil bolsas de estudo de R$ 256 por mês para educadores universitários.
"Vamos abrir as escolas do Estado nos sábados, nos domingos e nos feriados e colocar esses educadores universitários desenvolvendo projetos com a comunidade. Em troca, ganham a bolsa, que ajudará a financiar seus estudos."
É um projeto social que, certamente, será usado como bandeira política no próximo ano, quando acontece a eleição municipal. Principalmente na cidade de São Paulo, onde o desafio tucano é derrotar a atual prefeita, Marta Suplicy, do PT.
Ele, porém, evita dizer quem terá seu apoio para enfrentar a petista. "Campanha tem de ser curta. Falar com tanta antecedência de nomes encurta o mandato de quem está governando."


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