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TENSÃO POLÍTICA
Governador faz crítica a Lula por não dar "resposta à altura"
Alckmin diz que políticos estão por trás de invasões
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB, verbalizou o que o governo federal, do
PT, só admite extra-oficialmente:
a suspeita de infiltração política
nas manifestações e nas invasões
que vêm sendo articuladas em diferentes pontos do país.
"Há políticos envolvidos nisso.
Nada disso é por geração espontânea. É evidente que está sendo articulado e estimulado", disse ele à
Folha, na noite da última quinta-feira, usando expressões como
"clima de confronto", "exacerbação de ânimos" e "movimentos
generalizados".
Alckmin, que havia falado por
telefone naquele dia com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, enumerou uma série de ações
que ele não considera casuais
nem isoladas, mas, ao contrário,
articuladas e com cunho político.
Citou, só em São Paulo, a morte
de um fotógrafo na entrada de um
acampamento de sem-teto em
São Bernardo do Campo, a invasão e o roubo de cinco tratores
numa estação experimental e a
ocupação de um conjunto habitacional em Tatuí e de outros prédios da capital.
"Há um clima de confronto, isso
é óbvio", disse Alckmin, falando
primeiro na "participação de partidos políticos" e, depois, corrigindo para algo mais genérico:
"participação de políticos" e "intenções políticas". Ele evita citar
nomes de quem estaria envolvido. Diz que a polícia do Estado está investigando o caso.
Indiretamente, o governador
tucano convocou o governo federal petista para combater essa onda de ações e manifestações: "É
um clima de confronto que exige
uma resposta à altura. É hora de
chamar todos os envolvidos à responsabilidade".
Para ele, além de gerar crescimento e empregos para diminuir
a violência, é preciso também reagir rapidamente e de forma implacável para garantir o cumprimento da lei: "Não dá para tolerar
o que está acontecendo, porque
há uma exacerbação de ânimos e
uma generalização dos movimentos pelo país".
Ainda segundo Alckmin, o risco
é de os movimentos continuarem
crescendo e se multiplicando sem
uma repressão à altura: "Não pode prevalecer a sensação no país
de que é passando por cima das
leis que se resolvem as coisas".
Em seguida, usou um tom duro
e insinuou uma comparação com
a posição mais discreta, ou amena, do Palácio do Planalto: "Se você não cumpre determinação judicial, uma reintegração de posse,
está indiretamente estimulando
esse tipo de conduta, de não respeitar a lei, rompendo a ordem
democrática. Em São Paulo, reintegração de posse é cumprida".
Questionado se estava cobrando uma atuação mais dura do governo de Luiz Inácio Lula da Silva,
Alckmin procurou contemporizar: "Não é o caso, neste momento, de estar responsabilizando A
ou B. Precisamos agir para evitar a
atuação dos radicais".
Para ele, "uma coisa é fazer a reforma agrária, que todos nós defendemos, e outra é tolerar a quebra da ordem democrática, que
aqui nós não permitiremos". E
acrescentou: "Precisamos ter responsabilidade com a democracia
e com a governabilidade".
Alckmin, porém, criticou diretamente o governo Lula duas vezes. Uma quando ironizou a votação maciça do PT contra o aumento da contribuição de inativos em São Paulo: "São 23 votos
do PT e dois do PC do B na Assembléia. Sabe quantos tivemos?
Nenhum", disse ele, reclamando
do apoio que lhe faltou e que, apesar disso, ele pretende dar agora à
reforma da Previdência de Lula.
A segunda alfinetada foi quanto
ao processo de negociação da
própria reforma previdenciária:
"O governo recuou antes da hora,
desnecessariamente. A reforma
estava caminhando bem".
"Eleição não é obsessão"
Sempre considerado tímido,
Alckmin hoje está mais afirmativo e falante. Parece candidato,
apesar de escapar de perguntas
sobre eventuais vôos para a Presidência da República: "Eleição tem
de ser consequência, não uma obsessão. O mais importante é fazer
bem o que você tem que fazer".
Por isso, preferiu falar dos planos para São Paulo. Fala com entusiasmo de uma parceria com a
Unesco e a Fundação Ayrton Senna, que concederá 25 mil bolsas
de estudo de R$ 256 por mês para
educadores universitários.
"Vamos abrir as escolas do Estado nos sábados, nos domingos e
nos feriados e colocar esses educadores universitários desenvolvendo projetos com a comunidade. Em troca, ganham a bolsa, que
ajudará a financiar seus estudos."
É um projeto social que, certamente, será usado como bandeira
política no próximo ano, quando
acontece a eleição municipal.
Principalmente na cidade de São
Paulo, onde o desafio tucano é
derrotar a atual prefeita, Marta
Suplicy, do PT.
Ele, porém, evita dizer quem terá seu apoio para enfrentar a petista. "Campanha tem de ser curta. Falar com tanta antecedência
de nomes encurta o mandato de
quem está governando."
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