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LAVOURA ARCAICA
Segundo a polícia, crime em Unaí foi encomendado em represália a multas aplicadas em fazendas da região
Morte de fiscais custou R$ 50 mil, diz PF
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O assassinato de quatro funcionários do Ministério do Trabalho,
ocorrido em Unaí (MG) há exatos
seis meses, foi encomendado,
custou R$ 50 mil e teve o objetivo
de vingança contra as multas aplicadas pelo fiscal Nelson José da
Silva em fazendas da região. Essa
foi a versão apresentada ontem
pela Polícia Federal como conclusão das investigações.
A PF diz acreditar no envolvimento de grandes fazendeiros na
encomenda dos assassinatos, mas
não forneceu nomes. O produtor
de feijão Norberto Mânica, que
recebeu diversas multas do auditor José da Silva, será ouvido nesta
semana, pois um dos presos prestava serviço para ele.
"No momento, todas as provas
que temos apontam para o fazendeiro Norberto Mânica [um dos
maiores produtores de feijão do
país] como mandante do crime",
disse o delegado Wagner Pinto de
Souza, da Polícia Civil de Minas
Gerais, que também participou da
entrevista ontem sobre o caso.
Ao todo, foram presas sete pessoas relacionadas ao episódio,
duas delas -Erinaldo de Vasconcelos e Rogério Alan Rios-
apontadas como autoras dos disparos que mataram os servidores.
O diretor de Combate ao Crime
Organizado da PF, Getúlio Bezerra, disse que o crime foi encomendado por Hugo Alves Pimenta,
empresário que faz transporte de
cargas na região.
O empresário tinha uma dívida
com Mânica de R$ 180 mil, segundo a PF. Pimenta teria pedido a
seu funcionário José Alberto de
Castro, o Zezinho, para achar os
matadores. Zezinho teria contratado Francisco Elder Pinheiro, o
Chico Pinheiro, que passou a tarefa a Vasconcelos. Este subcontratou Rios e William Gomes de Miranda, que não teria participado
do crime porque um pneu de seu
carro furou.
Pinheiro, Vasconcelos, Rios e
Miranda confessaram o crime, diz
a PF. Apenas o primeiro teria impedido a filmagem do depoimento -os demais foram gravados.
Pimenta e Zezinho preferiram só
depor à Justiça federal, em audiência hoje.
Rastros
Segundo o diretor de Combate
ao Crime Organizado, "os contratantes [do crime] foram todos
identificados", mas haveria indícios do envolvimento de pessoas
"acima" dos que foram presos.
"À medida que vai se elevando a
cadeia de mando, vão diminuindo os rastros", disse Bezerra.
A Folha tentou saber da PF os
nomes dos advogados dos suspeitos, mas não obteve sucesso.
O crime ocorreu no dia 28 de janeiro deste ano, em uma estrada
de Unaí, no noroeste mineiro. Por
volta das 8h, os auditores João Batista Soares Lage, Erastótenes de
Almeida Gonçalves e Nelson José
da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram emboscados e mortos com tiros na cabeça.
A PF espera realizar reconstituição do crime na próxima semana.
Ao descobrirem que havia mais
fiscais no carro, além de Nelson
José da Silva, os supostos pistoleiros teriam perguntado o que fazer. Chico Pinheiro, de acordo
com a PF, teria dobrado o "prêmio" pelo assassinato de R$ 25
mil para R$ 50 mil com autorização do "patrão".
"Os suspeitos alegaram que o
"patrão" não revelou motivo, só
disse que Nelson era muito rigoroso e estava multando demais",
afirmou o coordenador de Combate ao Crime Organizado, Antonio Celso dos Santos.
Na casa de Vasconcelos, a PF
encontrou um relógio dourado,
roubado do fiscal Erastótenes de
Almeida Gonçalves, após cavar
seis metros na sua fossa séptica.
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