São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2004

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LAVOURA ARCAICA

Segundo a polícia, crime em Unaí foi encomendado em represália a multas aplicadas em fazendas da região

Morte de fiscais custou R$ 50 mil, diz PF

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O assassinato de quatro funcionários do Ministério do Trabalho, ocorrido em Unaí (MG) há exatos seis meses, foi encomendado, custou R$ 50 mil e teve o objetivo de vingança contra as multas aplicadas pelo fiscal Nelson José da Silva em fazendas da região. Essa foi a versão apresentada ontem pela Polícia Federal como conclusão das investigações.
A PF diz acreditar no envolvimento de grandes fazendeiros na encomenda dos assassinatos, mas não forneceu nomes. O produtor de feijão Norberto Mânica, que recebeu diversas multas do auditor José da Silva, será ouvido nesta semana, pois um dos presos prestava serviço para ele.
"No momento, todas as provas que temos apontam para o fazendeiro Norberto Mânica [um dos maiores produtores de feijão do país] como mandante do crime", disse o delegado Wagner Pinto de Souza, da Polícia Civil de Minas Gerais, que também participou da entrevista ontem sobre o caso.
Ao todo, foram presas sete pessoas relacionadas ao episódio, duas delas -Erinaldo de Vasconcelos e Rogério Alan Rios- apontadas como autoras dos disparos que mataram os servidores.
O diretor de Combate ao Crime Organizado da PF, Getúlio Bezerra, disse que o crime foi encomendado por Hugo Alves Pimenta, empresário que faz transporte de cargas na região.
O empresário tinha uma dívida com Mânica de R$ 180 mil, segundo a PF. Pimenta teria pedido a seu funcionário José Alberto de Castro, o Zezinho, para achar os matadores. Zezinho teria contratado Francisco Elder Pinheiro, o Chico Pinheiro, que passou a tarefa a Vasconcelos. Este subcontratou Rios e William Gomes de Miranda, que não teria participado do crime porque um pneu de seu carro furou.
Pinheiro, Vasconcelos, Rios e Miranda confessaram o crime, diz a PF. Apenas o primeiro teria impedido a filmagem do depoimento -os demais foram gravados. Pimenta e Zezinho preferiram só depor à Justiça federal, em audiência hoje.

Rastros
Segundo o diretor de Combate ao Crime Organizado, "os contratantes [do crime] foram todos identificados", mas haveria indícios do envolvimento de pessoas "acima" dos que foram presos.
"À medida que vai se elevando a cadeia de mando, vão diminuindo os rastros", disse Bezerra.
A Folha tentou saber da PF os nomes dos advogados dos suspeitos, mas não obteve sucesso.
O crime ocorreu no dia 28 de janeiro deste ano, em uma estrada de Unaí, no noroeste mineiro. Por volta das 8h, os auditores João Batista Soares Lage, Erastótenes de Almeida Gonçalves e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram emboscados e mortos com tiros na cabeça.
A PF espera realizar reconstituição do crime na próxima semana.
Ao descobrirem que havia mais fiscais no carro, além de Nelson José da Silva, os supostos pistoleiros teriam perguntado o que fazer. Chico Pinheiro, de acordo com a PF, teria dobrado o "prêmio" pelo assassinato de R$ 25 mil para R$ 50 mil com autorização do "patrão".
"Os suspeitos alegaram que o "patrão" não revelou motivo, só disse que Nelson era muito rigoroso e estava multando demais", afirmou o coordenador de Combate ao Crime Organizado, Antonio Celso dos Santos.
Na casa de Vasconcelos, a PF encontrou um relógio dourado, roubado do fiscal Erastótenes de Almeida Gonçalves, após cavar seis metros na sua fossa séptica.


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