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JANIO DE FREITAS
Questão de ordem
Já são três as modalidades
de corrupção política que jorram do chafariz aberto pelo deputado Roberto Jefferson e que,
a esta altura, estariam merecendo investigações em linhas particularizadas, para serem mais
eficazes. Ou, no mínimo, precisam de um planejamento meticuloso para que a importância
ou o sensacionalismo de revelações repentinas não prejudique,
lançando em plano secundário,
outras investigações, como está
acontecendo.
A corrupção de licitações e
compras em estatais e ministérios, com a sua conexão às relações entre governo e parlamentares, deu origem à CPI dos Correios. Não foi preciso escavucar
muito para que as atenções, a
partir dali, fossem atraídas pelo
dispositivo de Marcos Valério,
proporcionador de descobertas
de fato atraentes. Agora os interesses se voltam, com razão, para as evidências de que o método Valério, em claro exercício
democrático, aplicou-se também, já nas eleições de 1998, em
benefício do PSDB e do PFL.
Alguém se lembra de que lá
atrás ficou a tão importante
questão, talvez a mais importante, do pagamento a deputados para mudarem às pencas de
partido e, assim incorporados à
"base aliada" do governo, receberem ainda mais para aprovar
projetos governamentais e medidas provisórias? Esse açambarcamento venal de parlamentares tem como efeito uma ruptura no sistema institucional de
três poderes, que, de já precário
e ocasionalmente violado, ia
passando a inapelavelmente
antidemocrático.
A avalanche de fatos descobertos, as montanhas de documentos e a baixíssima qualificação média dos parlamentares,
como se vê a cada interrogatório, não resistem à falta de um
planejamento minimamente
racional, para ser produtivo sem
se perder no tempo, e sério, ao
menos, para que não seja apenas a bagunça que o plenário da
CPI dos Correios tem exibido ao
país.
Já existe, em paralelo à primeira, a CPI do mensalão. É
mais uma prova de falta de método e de seriedade. Vítima,
quando ministro no governo Figueiredo, de uma campanha feroz, por decorrência de um incidente com Roberto Marinho, já
pela imagem que lhe ficou o deputado Ibrahim Abi-Ackel não
era indicação sensata para a
CPI. Agora se sabe que o deputado e, de quebra, o seu filho foram beneficiados por doações
do acusado de alimentar o mensalão, objeto da CPI de que
Ibrahim Abi-Ackel é relator.
Mas não é compreensível que
continue a ser.
A constatação de que o PSDB
e o PFL também freqüentaram
os cofres de Marcos Valério promete reflexos positivos sobre as
investigações. Os oposicionistas
estavam, quase todos, excitadinhos demais, alguns até perigosamente seduzidos por açodamentos irresponsáveis. Lembrados agora do passado de seus
partidos e de vários correligionários, podem dedicar-se mais
às investigações do que aos seus
espetáculos pessoais, que não
desmoralizam o Congresso menos do que o faz a corrupção.
E não bastando tudo o que está por ser examinado e ainda
descoberto, ainda há quem espere muito mais. Meu colega
Marcelo Beraba me chamou a
atenção para este lapso anunciador de Fernando Henrique
Cardoso, ao saber da descoberta
de envolvimento do PSDB com
Marcos Valério: "Precisamos investigar tudo mas sem perder o
foco de que a crise é hoje. O que
aconteceu no passado, no meu
governo, é coisa da história". A
descoberta só era relativa à sucessão no governo de Minas em
98. Fernando Henrique entregou logo o seu governo como outro manancial para descobertas.
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