São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS

Presidente do partido em Minas reconhece que "houve aporte de recursos numa ação paralela de fortalecimento da campanha"

PSDB admite esquema "paralelo" em 1998

ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE

O presidente regional do PSDB de Minas Gerais, Narcio Rodrigues, admitiu, em entrevista à Folha, que houve um esquema paralelo de financiamento no segundo turno da campanha eleitoral para governo do Estado, em 1998, quando o então governador, Eduardo Azeredo, disputou a reeleição e foi derrotado pelo ex-presidente Itamar Franco.
"Faço conjectura de que houve uma ação de campanha no segundo turno. Houve aporte de recursos numa ação paralela de fortalecimento da campanha, para reversão do quadro, mas que não era uma coisa institucionalizada nem dentro do PSDB, nem na campanha majoritária do governo à reeleição", afirmou.
O vice na chapa de Azeredo, na ocasião, foi o empresário Clésio Andrade, que até um mês antes da oficialização da candidatura era sócio do publicitário Marcos Valério nas empresas de publicidade SMPB e DNA. Andrade é o atual vice-governador de Minas.
Segundo Narcio Rodrigues, o senador Eduardo Azeredo está encarregado de esclarecer de onde vieram os recursos e quem foi responsável pela "'ação paralela". A posição atual do partido é de que o esquema não foi arquitetado nem comandado pelo PSDB, o qual não estaria diretamente envolvido na captação do dinheiro. "É completamente diferente do que aconteceu no PT. Não há nenhuma marca, nenhuma digital do PSDB", afirmou.
"De onde veio o dinheiro, é uma pergunta que ainda está sendo averiguada. O senador Azeredo está procurando se inteirar do quadro com quem coordenou a campanha na ocasião... Estamos explicitando nossa confiança na conduta de Eduardo Azeredo, cuja biografia fala por si só. Ele é uma referência ética para o partido. Confiamos plenamente nele e sabemos que terá uma resposta convincente de como as coisas se conduziram. Uma resposta que isenta o PSDB e ele mesmo de qualquer responsabilidade."
Azeredo reafirmou ontem que foi surpreendido pelas informações publicadas pela imprensa sobre os pagamentos efetuados pela SMPB na campanha de 98. Indagado sobre quem coordenou as finanças da campanha, Narcio Rodrigues disse que não sabia informar porque disputava a eleição para deputado federal, mas que Walfrido Mares Guia (ministro do Turismo, do PTB) e Clésio Andrade (PL) participaram da discussão da estratégia.
Até agora, Clésio Andrade tem insistido que não fez parte da coordenação financeira da campanha e que sua atuação foi confinada ao interior do Estado. Ele aponta o ministro Mares Guia como responsável pela coordenação da campanha. A declaração de Clésio já foi contestada pelo ministro que, anteontem, responsabilizou o atual vice-governador pela distribuição de recursos da agência SMPB para a coligação do PSDB. Segundo o ministro, só uma parte dos recursos foi para a campanha de Eduardo Azeredo.

Nota
O PSDB de Minas Gerais distribuiu nota ontem em que diz que está sendo alvejado com acusações e que está convencido de que há uma articulação nacional para envolver o partido na crise deflagrada pela descoberta do repasse de verbas pelo PT a partidos da base aliada. A nota diz que criou-se um clima de denuncismo que visa confundir a opinião pública e desviar o foco das acusações investigadas pelo Congresso.
"À parte a necessidade da discussão de uma nova forma de financiamento eleitoral (...) é importante dizer que o conteúdo desta crise não está centrado, como querem induzir alguns setores da opinião pública, em processos eleitorais. Há, por trás de todo este quadro, uma acusação consistente de atos de corrupção cometidos pelo governo Lula, através do seu partido, o PT, ao implementar sua relação política com a base aliada", prossegue a nota.
Rodrigues disse que seu partido está disposto a discutir "eventuais erros" cometidos em campanhas, mas sem desviar o foco da investigação. Na avaliação dele, há um plano para envolver o PSDB nas denúncias. O depoimento da mulher de Marcos Valério faria parte desse plano. "A convocação [de Renilda] teve dois objetivos: envolver definitivamente José Dirceu e espalhar que o PSDB teria participado de atos ilícitos".


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