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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS
Presidente do partido em Minas reconhece que "houve aporte de recursos numa ação paralela de fortalecimento da campanha"
PSDB admite esquema "paralelo" em 1998
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE
O presidente regional do PSDB
de Minas Gerais, Narcio Rodrigues, admitiu, em entrevista à Folha, que houve um esquema paralelo de financiamento no segundo
turno da campanha eleitoral para
governo do Estado, em 1998,
quando o então governador,
Eduardo Azeredo, disputou a reeleição e foi derrotado pelo ex-presidente Itamar Franco.
"Faço conjectura de que houve
uma ação de campanha no segundo turno. Houve aporte de recursos numa ação paralela de fortalecimento da campanha, para reversão do quadro, mas que não
era uma coisa institucionalizada
nem dentro do PSDB, nem na
campanha majoritária do governo à reeleição", afirmou.
O vice na chapa de Azeredo, na
ocasião, foi o empresário Clésio
Andrade, que até um mês antes
da oficialização da candidatura
era sócio do publicitário Marcos
Valério nas empresas de publicidade SMPB e DNA. Andrade é o
atual vice-governador de Minas.
Segundo Narcio Rodrigues, o
senador Eduardo Azeredo está
encarregado de esclarecer de onde vieram os recursos e quem foi
responsável pela "'ação paralela".
A posição atual do partido é de
que o esquema não foi arquitetado nem comandado pelo PSDB, o
qual não estaria diretamente envolvido na captação do dinheiro.
"É completamente diferente do
que aconteceu no PT. Não há nenhuma marca, nenhuma digital
do PSDB", afirmou.
"De onde veio o dinheiro, é uma
pergunta que ainda está sendo
averiguada. O senador Azeredo
está procurando se inteirar do
quadro com quem coordenou a
campanha na ocasião... Estamos
explicitando nossa confiança na
conduta de Eduardo Azeredo, cuja biografia fala por si só. Ele é
uma referência ética para o partido. Confiamos plenamente nele e
sabemos que terá uma resposta
convincente de como as coisas se
conduziram. Uma resposta que
isenta o PSDB e ele mesmo de
qualquer responsabilidade."
Azeredo reafirmou ontem que
foi surpreendido pelas informações publicadas pela imprensa sobre os pagamentos efetuados pela
SMPB na campanha de 98. Indagado sobre quem coordenou as finanças da campanha, Narcio Rodrigues disse que não sabia informar porque disputava a eleição
para deputado federal, mas que
Walfrido Mares Guia (ministro
do Turismo, do PTB) e Clésio Andrade (PL) participaram da discussão da estratégia.
Até agora, Clésio Andrade tem
insistido que não fez parte da
coordenação financeira da campanha e que sua atuação foi confinada ao interior do Estado. Ele
aponta o ministro Mares Guia como responsável pela coordenação
da campanha. A declaração de
Clésio já foi contestada pelo ministro que, anteontem, responsabilizou o atual vice-governador
pela distribuição de recursos da
agência SMPB para a coligação do
PSDB. Segundo o ministro, só
uma parte dos recursos foi para a
campanha de Eduardo Azeredo.
Nota
O PSDB de Minas Gerais distribuiu nota ontem em que diz que
está sendo alvejado com acusações e que está convencido de que
há uma articulação nacional para
envolver o partido na crise deflagrada pela descoberta do repasse
de verbas pelo PT a partidos da
base aliada. A nota diz que criou-se um clima de denuncismo que
visa confundir a opinião pública e
desviar o foco das acusações investigadas pelo Congresso.
"À parte a necessidade da discussão de uma nova forma de financiamento eleitoral (...) é importante dizer que o conteúdo
desta crise não está centrado, como querem induzir alguns setores
da opinião pública, em processos
eleitorais. Há, por trás de todo este quadro, uma acusação consistente de atos de corrupção cometidos pelo governo Lula, através
do seu partido, o PT, ao implementar sua relação política com a
base aliada", prossegue a nota.
Rodrigues disse que seu partido
está disposto a discutir "eventuais
erros" cometidos em campanhas,
mas sem desviar o foco da investigação. Na avaliação dele, há um
plano para envolver o PSDB nas
denúncias. O depoimento da mulher de Marcos Valério faria parte
desse plano. "A convocação [de
Renilda] teve dois objetivos: envolver definitivamente José Dirceu e espalhar que o PSDB teria
participado de atos ilícitos".
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