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Sócio de Dantas fez doação para Sarney
Empresário no porto de Santos bancou 17% da campanha do senador, que indicou diretor de agência que regula o setor
O grupo de Richard Klien detém 30% da Santos Brasil, que administra o terminal de contêineres; Dantas tem 39%, e Dório Ferman, 30%
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O senador José Sarney
(PMDB-AP) recebeu em 2006,
como doação para a campanha
que o reelegeu, R$ 270 mil do
empresário Richard Klien, sócio do banqueiro Daniel Dantas, indiciado pela Operação
Satiagraha, da Polícia Federal,
e condenado no ano passado
por corrupção pela 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo.
A filha do senador, Roseana,
recebeu de Klien mais R$ 240
mil para sua candidatura derrotada ao governo do Maranhão -ela acabou tomando
posse em abril, depois que o
eleito foi cassado pelo TSE
(Tribunal Superior Eleitoral).
O clã Sarney ficou com 83%
do total doado pelo empresário
em 2006 -17% dos gastos totais da campanha de Sarney.
Os outros candidatos apoiados pelo empresário em 2006
foram Jandira Feghali (PC do
B-RJ) e Índio da Costa (DEM-RJ), com R$ 50 mil cada um.
No ano passado, Klien doou
R$ 250 mil para o Diretório Nacional do PT, em Brasília, e o
suplente do conselho de administração da empresa, Thomas
Klien, doou R$ 150 mil para o
Diretório Nacional do PSDB.
Richard Klien é sócio de Daniel Dantas na Santos Brasil,
que administra o terminal de
contêineres do porto de Santos
(SP), privatizado em 1997. A
empresa é considerada a maior
do setor na América Latina,
com uma receita bruta de R$
818,5 milhões no ano passado.
A política sobre os portos no
Brasil está na área de influência
de Sarney. É indicação dele o
atual diretor-geral da Antaq
(Agência Nacional de Transportes Aquaviários), Fernando
Antonio Brito Fialho, que foi
diretor da Emap (Empresa Maranhense de Administração
Portuária). Seu pai, Vicente, foi
prefeito de São Luís (MA) e trabalhou com Sarney.
Fialho tomou posse em julho
de 2006 e foi reconduzido ao
cargo em 2008. Ele negou à Folha qualquer ingerência do senador na Antaq. "Jamais. Eu
tenho, sim, uma grande amizade pelo senador Sarney e minha indicação ocorreu dentro
de um ambiente político, mas
respaldado no critério técnico.
Eu tinha experiência na área.
Eu não sofri, em momento algum, nenhum tipo de pressão
ou pedido", disse Fialho.
A Antaq, vinculada ao Ministério dos Transportes, é a agência encarregada de regular e
fiscalizar a exploração dos portos, entre outras atribuições.
As medidas baixadas pela
agência têm impacto direto nas
atividades da Santos Brasil.
Gravações telefônicas feitas
com ordem judicial na Operação Satiagraha mostraram representantes de Dantas no
conselho da Santos Brasil assustados com a possibilidade
de mudança de regras no setor,
então em estudo pela Antaq.
Chegaram a levantar suspeitas
contra a senadora Kátia Abreu
(DEM-GO) que não se confirmaram -ela reagiu e ameaçou
processar os detratores.
Richard Klien -que não foi
investigado pela Operação Satiagraha- é sócio de Dantas
desde 1997, quando criaram o
consórcio que levou o terminal
de Santos. Eles reforçaram a
sociedade em 2006, com a consolidação da participação do
Opportunity no bloco de controle da empresa e o aumento
da participação do grupo de
Klien. Ele adquiriu cotas dos
outros sócios originais do consórcio, a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil), a Sistel
(fundação de seguridade social) e o conglomerado bancário americano Citigroup.
Por meio do Opportunity
Fund, criado no paraíso fiscal
das Ilhas Cayman, Dantas detém 39% da empresa. Outros
30% pertencem à empresa
PW237, cujo dono é Dório Ferman, presidente do banco Opportunity e próximo de Dantas.
Mais 30% das ações estão nas
mãos da empresa de Klien, o
Grupo Fink.
O conselho administrativo
da Santos Brasil, presidido por
Klien, tem como membros a irmã de Dantas, Verônica, e outros dois executivos indiciados
pela Operação Satiagraha.
A Santos Brasil é referida na
denúncia apresentada pelo
procurador da República Rodrigo de Grandis no bojo da
Operação Satiagraha.
Em depoimento, o presidente da Santos Brasil, Wadi Jasmin, afirmou que o publicitário
Guilherme Sodré fora contratado pela empresa, com salário
que variava de R$ 20 mil a R$
30 mil mensais, "apenas para
agendar reuniões com políticos". Disse que Sodré "consegue agendar reuniões de diversos partidos políticos", com o
objetivo de fornecer "as tendências gerais da política".
O procurador também pediu
a abertura de um inquérito policial específico para investigar
os cotistas que formam o fundo
do Opportunity em Cayman,
sócio da Santos Brasil.
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