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Arquivo precário emperra indenização no RJ
Ex-presos políticos esperam há 4 meses por documentos para cumprirem prazo de pedido de indenização que vence em dezembro
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O Arquivo Público do Estado do
Rio não tem conseguido fornecer
a pessoas presas pelo regime militar a documentação para que elas
reivindiquem a indenização prevista na lei estadual 3.744 (2001).
A lei foi criada em dezembro de
2001 pelo então governador Anthony Garotinho, hoje secretário
de Segurança Pública. Prevê reparação de R$ 5.000 a R$ 50 mil aos
presos sob a guarda de órgãos estaduais entre 1º de abril de 1964 e
15 de agosto de 1979, acusados de
envolvimento em atividades políticas consideradas ilegais à época.
Hoje, também completa 25 anos a
Lei da Anistia, sancionada em
1979 por João Baptista Figueiredo.
A situação é grave porque o prazo para a apresentação do requerimento expira em dezembro, e a
fila de espera já tem 400 pessoas.
Algumas aguardam os documentos há quatro meses. O Arquivo
Público tem quatro funcionários e
trabalha em condições precárias.
Diante do problema, o Grupo
Tortura Nunca Mais decidiu enviar aos ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Nilmário
Miranda (Secretaria Nacional de
Direitos Humanos) ofício em que
pede agilidade na cessão de documentos que comprovem que os
requerentes foram presos pela ditadura. A idéia da entidade é conseguir, no governo federal, documentos que substituam os do Arquivo Público, ligado à Secretaria
de Justiça do Estado do Rio.
A crise no órgão começou na
década passada. O Arquivo Público não tem servidores próprios e
funciona de modo improvisado,
desde 1998, num prédio em Botafogo (zona sul) cedido pelo Metrô. Em 2003, havia 12 funcionários emprestados no setor de cessão de documentos. Hoje, há quatro -e o trabalho dobrou diante
do prazo da lei de indenização.
Documentos preciosos (alguns
do século 18) estão em caixotes
cobertos por lonas plásticas, proteção improvisada contra as goteiras do telhado do depósito. Para piorar a situação, no final de julho a única máquina xerox do arquivo foi retirada pela Secretaria
de Justiça. As pessoas que requeriam os documentos e a certidão
de que passaram pelas celas do
Dops (antiga polícia política fluminense) não conseguiam as cópias exigidas para receber o pedido de indenização. A máquina só
voltou ao arquivo há 15 dias.
No mês passado, a historiadora
Ismênia de Lima Martins, professora emérita da Faculdade de História da Universidade Federal
Fluminense, foi demitida da direção do arquivo pela governadora
Rosinha Matheus. Ela soube do
afastamento pelo "Diário Oficial":
"Isso não se faz nem com o chefe
dos garis, com todo o respeito aos
garis, embora considere que a
questão pessoal é irrelevante no
caso". Segundo Ismênia, de janeiro de 2003, quando assumiu a direção, até julho último, o arquivo
só recebeu R$ 12 mil do governo,
em três parcelas. Para consertar o
telhado da biblioteca, que ruiu há
20 meses, ela gastou dinheiro próprio e pediu ainda ajuda a amigos.
O historiador Marcos Sanches
assumiu o arquivo no início deste
mês. "O arquivo tem algumas limitações de infra-estrutura e está
com dificuldades para expedir a
documentação. Isso tem que ser
resolvido com rapidez. Se você
me pedir uma cópia neste momento, não vou ter como tirar."
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