São Paulo, segunda-feira, 28 de agosto de 2006

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Kapaz rebate acusações de dono da Planam

Ex-deputado aponta contradições em depoimento de empresário e responsabiliza seu ex-chefe de gabinete por depósito

Ex-parlamentar diz que vai mover processo contra acusador e anuncia que está deixando a vida pública para poupar instituições

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Pouco mais de um mês após seu nome aparecer como um dos investigados pela CPI dos Sanguessugas, o empresário e ex-deputado decidiu rebater todas as acusações contra ele.
Emerson Kapaz negou todas as denúncias feitas pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, sócio da Planam e chefe da máfia dos sanguessugas, e diz que vai entrar na Justiça com um processo contra ele. "Vou processar o sr. Vedoin por todas as mentiras que falou a meu respeito". Kapaz admitiu porém um depósito de cerca de R$ 6.000 feito em cheque na conta de sua ex-mulher, Laura Hosiasson, que teria sido feito, em 2003, por uma das empresas laranjas da Planam. Ele responsabiliza o seu ex-chefe de gabinete, Jean Carlos de Castro, por esse depósito. Kapaz afirma que desconhecia a origem do dinheiro.
A Folha procurou insistentemente o sr. Jean Carlos de Castro, mas ele não telefonou de volta. O que se sabe é que, depois de trabalhar com Kapaz, ele foi lotado como assessor de gabinete de Dimas Ramalho (PPS-SP), cujo nome não aparece em nenhuma lista. Dimas exonerou Castro em julho.  

FOLHA - Como o sr. reage às acusações de Vedoin de que o sr. teria negociado comissões em troca de emendas para a Planam?
EMERSON KAPAZ
- É mentira, e eu tenho provas da mentira. Ele nem sequer me conhecia.

FOLHA - O sr. apresentou emendas para compra de ambulâncias?
KAPAZ
- Em 2001, apresentei uma emenda para aquisição de uma UTI para o município de Pereira Barreto. Foi uma única emenda no ano de 2001. Em 2002, vários municípios vieram com essa mesma demanda. Por quê? As UTIs móveis eram e ainda são um excelente serviço para os pequenos municípios. Como eu tinha tido votação em algumas cidades importantes e queria dobrar essa votação ou melhorá-la, apresentei emendas de UTIs a essas cidades. Em 2002, foram 12 emendas, já praticamente no final do meu mandato. Depois que apresentei essas emendas fui procurado, através do meu ex-chefe de gabinete, por Darci Vedoin, pai do Luiz Antônio.

FOLHA - Quem era o seu ex-chefe de gabinete?
KAPAZ
- Chama-se Jean Carlos de Castro. Foi ele que me apresentou a Darci Vedoin, com quem tive um único contato.
Nesse contato, ele tentou insinuar: "Eu vi que você apresentou emendas, eu posso ajudar você com as prefeituras, você tem algum interesse?" Eu falei: Nenhum. Nenhum interesse.
Rechacei na hora, e foi isso.

FOLHA - O sr. nunca se encontrou com o sr. Luiz Antônio Vedoin?
KAPAZ
- Nunca. O sr. Luiz Antônio Vedoin mentiu ao meu respeito. Ele disse que negociava pessoalmente as comissões comigo, mas ele não me conhecia. E tenho provas. No depoimento que ele fez, no dia 9 de julho, ele diz que eu tinha me afastado da Câmara nos anos de 2003, 2004, 2005 e 2006, e que pelo fato de eu ter passado a ocupar o cargo de diretor do Banco do Brasil eu tinha conseguido executar as minhas emendas para o exercício de 2003. Duas mentiras que provam o total desconhecimento dele em relação a mim. Eu não me afastei do Congresso, e sim perdi a eleição. Também nunca fui diretor do Banco do Brasil.
Nesse mesmo depoimento ele se desmente e faz uma outra afirmação falsa, a de que as emendas tinham sido canceladas e que ele tinha pago uma propina antecipada para mim.
Como as emendas foram canceladas se ele mesmo diz que eu tinha conseguido executá-las? É uma total contradição. Das 12 emendas que apresentei, seis foram empenhadas no ano de 2003. Ele nem se preocupou com essas emendas. Por que ele não se preocupou com elas e disse que foram canceladas?
Porque não havia negociação com prefeitos. Ele não foi atrás dessas emendas única e exclusivamente porque não havia propina, não havia esquema.
Por isso ele achou que elas tinham sido canceladas. A maior de todas as mentiras do sr. Vedoin foi a de que eu teria pedido para ele pagar um apartamento que eu tinha em Brasília. Um dos depósitos, segundo ele, era para um imóvel que eu teria da Paulo Octávio Investimentos. Nunca tive imóvel da Paulo Octávio. Tenho declaração do próprio Paulo Octávio que diz que jamais adquiri qualquer tipo de imóvel junto à empresa Paulo Otávio.

FOLHA - E o depósito que sua ex-mulher, Laura Hosiasson, admitiu ter sido feito na conta dela?
KAPAZ
- Essa acusação merece uma explicação. Eu também levei um susto quando li a entrevista e fui ver o que tinha acontecido. Fomos levantar o que aconteceu e, de fato, descobrimos que tinha um depósito.
Quando fui fazer campanha à reeleição em São Paulo, eu deixei, com meu ex-chefe de gabinete, um fundo de reserva para administrar as despesas do dia-a-dia do gabinete. Como eu não estava lá, tinha vindo para São Paulo, eu deixei um recurso com ele para tocar as despesas adicionais. Acabada a eleição e encerrado o meu mandato, em janeiro de 2003 ele me prestou contas desse fundo, e ainda tinha um saldo a meu favor de aproximadamente R$ 6.000.
Como isso coincidia com o que eu repassava a minha ex-mulher a título de pensão, eu pedi a ele para depositar o dinheiro na conta dela. Não fui checar e nem ela de onde vieram esses recursos. Erro meu? Erro meu.
Foi um erro administrativo. Só agora, quando fomos checar, vimos que o depósito foi de um cheque feito por uma das empresas laranjas do sr. Vedoin, alguma coisa como E. de Jesus.
Só descobri isso quatro anos depois. Ele vai ter que explicar de onde veio esse cheque. Não eu. Eu não sabia. Esse é um problema dele. Só agora eu descobri a existência desse DOC.

FOLHA - Por que ela falou agora?
KAPAZ
- Ela não sabia, ela levou um susto, tanto quanto eu. Ela está atônita até hoje, assim como eu. Minha separação com ela foi amigável. Eu estava separado desde 2001.

FOLHA - Mas, na entrevista à Folha, ela admitiu o depósito.
KAPAZ
- Ela foi pega de surpresa. A única coisa que ela sabia é que tinha um depósito que precisava ser checado. Só isso.

FOLHA - O sr. procurou ou falou com seu ex-chefe de gabinete?
KAPAZ
- Não, mas ele vai ter de explicar isso. Vai ter de explicar isso na Justiça.

FOLHA - O sr. Vedoin disse que o sr. teria fornecido a ele cinco contas, entre elas a de sua ex-mulher, para fazer os depósitos das comissões.
KAPAZ
- Todos os outros depósitos, contas, invenções que ele fala, nenhum deles é verdadeiro. Não têm nada a ver comigo. Não conheço nenhum dos nomes. Estou disposto a entregar para a Justiça todo o meu sigilo bancário, fiscal e telefônico. Também estou entrando com um processo criminal contra o sr. Vedoin. Vou processá-lo por calúnia, infâmia e difamação.

FOLHA - O que o sr. pretende fazer?
KAPAZ
- A partir disso, decidi tomar uma decisão muito dura, difícil. Estou entrando com o pedido de desligamento da presidência do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, da vice-presidência do DNA Brasil, do Conselho de Administração da Fundação Abrinq, do Instituto Ethos, da Transparência Brasil, do Akatu e da coordenação nacional do PNB. Estou me retirando completamente da vida pública. Eu não quero carregar esse ônus para essas entidades. Esse é um ônus pessoal.


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