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Kapaz rebate acusações de dono da Planam
Ex-deputado aponta contradições em depoimento de empresário e responsabiliza seu ex-chefe de gabinete por depósito
Ex-parlamentar diz que vai mover processo contra acusador e anuncia que está deixando a vida pública para poupar instituições
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Pouco mais de um mês após
seu nome aparecer como um
dos investigados pela CPI dos
Sanguessugas, o empresário e
ex-deputado decidiu rebater
todas as acusações contra ele.
Emerson Kapaz negou todas as
denúncias feitas pelo empresário Luiz Antônio Vedoin, sócio
da Planam e chefe da máfia dos
sanguessugas, e diz que vai entrar na Justiça com um processo contra ele. "Vou processar o
sr. Vedoin por todas as mentiras que falou a meu respeito".
Kapaz admitiu porém um depósito de cerca de R$ 6.000 feito em cheque na conta de sua
ex-mulher, Laura Hosiasson,
que teria sido feito, em 2003,
por uma das empresas laranjas
da Planam. Ele responsabiliza o
seu ex-chefe de gabinete, Jean
Carlos de Castro, por esse depósito. Kapaz afirma que desconhecia a origem do dinheiro.
A Folha procurou insistentemente o sr. Jean Carlos de
Castro, mas ele não telefonou
de volta. O que se sabe é que,
depois de trabalhar com Kapaz,
ele foi lotado como assessor de
gabinete de Dimas Ramalho
(PPS-SP), cujo nome não aparece em nenhuma lista. Dimas
exonerou Castro em julho.
FOLHA - Como o sr. reage às acusações de Vedoin de que o sr. teria negociado comissões em troca de
emendas para a Planam?
EMERSON KAPAZ - É mentira, e eu
tenho provas da mentira. Ele
nem sequer me conhecia.
FOLHA - O sr. apresentou emendas
para compra de ambulâncias?
KAPAZ - Em 2001, apresentei
uma emenda para aquisição de
uma UTI para o município de
Pereira Barreto. Foi uma única
emenda no ano de 2001. Em
2002, vários municípios vieram com essa mesma demanda. Por quê? As UTIs móveis
eram e ainda são um excelente
serviço para os pequenos municípios. Como eu tinha tido
votação em algumas cidades
importantes e queria dobrar
essa votação ou melhorá-la,
apresentei emendas de UTIs a
essas cidades. Em 2002, foram
12 emendas, já praticamente no
final do meu mandato. Depois
que apresentei essas emendas
fui procurado, através do meu
ex-chefe de gabinete, por Darci
Vedoin, pai do Luiz Antônio.
FOLHA - Quem era o seu ex-chefe
de gabinete?
KAPAZ - Chama-se Jean Carlos
de Castro. Foi ele que me apresentou a Darci Vedoin, com
quem tive um único contato.
Nesse contato, ele tentou insinuar: "Eu vi que você apresentou emendas, eu posso ajudar você com as prefeituras, você
tem algum interesse?" Eu falei:
Nenhum. Nenhum interesse.
Rechacei na hora, e foi isso.
FOLHA - O sr. nunca se encontrou
com o sr. Luiz Antônio Vedoin?
KAPAZ - Nunca. O sr. Luiz Antônio Vedoin mentiu ao meu
respeito. Ele disse que negociava pessoalmente as comissões
comigo, mas ele não me conhecia. E tenho provas. No depoimento que ele fez, no dia 9 de julho, ele diz que eu tinha me
afastado da Câmara nos anos
de 2003, 2004, 2005 e 2006, e
que pelo fato de eu ter passado
a ocupar o cargo de diretor do
Banco do Brasil eu tinha conseguido executar as minhas
emendas para o exercício de
2003. Duas mentiras que provam o total desconhecimento
dele em relação a mim. Eu não
me afastei do Congresso, e sim
perdi a eleição. Também nunca
fui diretor do Banco do Brasil.
Nesse mesmo depoimento
ele se desmente e faz uma outra
afirmação falsa, a de que as
emendas tinham sido canceladas e que ele tinha pago uma
propina antecipada para mim.
Como as emendas foram canceladas se ele mesmo diz que eu
tinha conseguido executá-las?
É uma total contradição. Das 12
emendas que apresentei, seis
foram empenhadas no ano de
2003. Ele nem se preocupou
com essas emendas. Por que ele
não se preocupou com elas e
disse que foram canceladas?
Porque não havia negociação
com prefeitos. Ele não foi atrás
dessas emendas única e exclusivamente porque não havia
propina, não havia esquema.
Por isso ele achou que elas tinham sido canceladas.
A maior de todas as mentiras
do sr. Vedoin foi a de que eu teria pedido para ele pagar um
apartamento que eu tinha em
Brasília. Um dos depósitos, segundo ele, era para um imóvel
que eu teria da Paulo Octávio
Investimentos. Nunca tive
imóvel da Paulo Octávio. Tenho declaração do próprio Paulo Octávio que diz que jamais
adquiri qualquer tipo de imóvel
junto à empresa Paulo Otávio.
FOLHA - E o depósito que sua ex-mulher, Laura Hosiasson, admitiu
ter sido feito na conta dela?
KAPAZ - Essa acusação merece
uma explicação. Eu também levei um susto quando li a entrevista e fui ver o que tinha acontecido. Fomos levantar o que
aconteceu e, de fato, descobrimos que tinha um depósito.
Quando fui fazer campanha à
reeleição em São Paulo, eu deixei, com meu ex-chefe de gabinete, um fundo de reserva para
administrar as despesas do dia-a-dia do gabinete. Como eu não
estava lá, tinha vindo para São
Paulo, eu deixei um recurso
com ele para tocar as despesas
adicionais. Acabada a eleição e
encerrado o meu mandato, em
janeiro de 2003 ele me prestou
contas desse fundo, e ainda tinha um saldo a meu favor de
aproximadamente R$ 6.000.
Como isso coincidia com o que
eu repassava a minha ex-mulher a título de pensão, eu pedi
a ele para depositar o dinheiro
na conta dela. Não fui checar e
nem ela de onde vieram esses
recursos. Erro meu? Erro meu.
Foi um erro administrativo. Só
agora, quando fomos checar, vimos que o depósito foi de um
cheque feito por uma das empresas laranjas do sr. Vedoin,
alguma coisa como E. de Jesus.
Só descobri isso quatro anos
depois. Ele vai ter que explicar
de onde veio esse cheque. Não
eu. Eu não sabia. Esse é um problema dele. Só agora eu descobri a existência desse DOC.
FOLHA - Por que ela falou agora?
KAPAZ - Ela não sabia, ela levou
um susto, tanto quanto eu. Ela
está atônita até hoje, assim como eu. Minha separação com
ela foi amigável. Eu estava separado desde 2001.
FOLHA - Mas, na entrevista à Folha,
ela admitiu o depósito.
KAPAZ - Ela foi pega de surpresa. A única coisa que ela sabia é
que tinha um depósito que precisava ser checado. Só isso.
FOLHA - O sr. procurou ou falou
com seu ex-chefe de gabinete?
KAPAZ - Não, mas ele vai ter de
explicar isso. Vai ter de explicar
isso na Justiça.
FOLHA - O sr. Vedoin disse que o sr.
teria fornecido a ele cinco contas,
entre elas a de sua ex-mulher, para
fazer os depósitos das comissões.
KAPAZ - Todos os outros depósitos, contas, invenções que ele
fala, nenhum deles é verdadeiro. Não têm nada a ver comigo.
Não conheço nenhum dos nomes. Estou disposto a entregar
para a Justiça todo o meu sigilo
bancário, fiscal e telefônico.
Também estou entrando com
um processo criminal contra o
sr. Vedoin. Vou processá-lo por
calúnia, infâmia e difamação.
FOLHA - O que o sr. pretende fazer?
KAPAZ - A partir disso, decidi
tomar uma decisão muito dura,
difícil. Estou entrando com o
pedido de desligamento da presidência do Instituto Brasileiro
de Ética Concorrencial, da vice-presidência do DNA Brasil,
do Conselho de Administração
da Fundação Abrinq, do Instituto Ethos, da Transparência
Brasil, do Akatu e da coordenação nacional do PNB. Estou me
retirando completamente da
vida pública. Eu não quero carregar esse ônus para essas entidades. Esse é um ônus pessoal.
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